Fotos, vídeos e eventualmente os relatos e tracklogs de quase todas as trilhas, exploratórias ou não, que empreendemos no leste do PR - ou outras regiões, conforme possível. Enfoque oposto à indústria do turismo, e voltado ao interesse do usufrutuário dos atrativos naturais. Blog vinculado ao canal JEANDISANTI no Youtube.
Uma formação
montanhosa homógrafa a certa serra paulista e fluminense, distante
45km de Curitiba – mas quase totalmente desconhecida até então da
maioria dos trilheiros do estado – constitui o ponto mais alto de
toda a região fora da Serra Do Mar do Paraná. Seu pico maior, o
Morro Da Bocaina, supera quaisquer altitudes do 2º e 3º planaltos,
e para efeito de comparação, mesmo a Farinha Seca, Canavieiras e
Baitaca, na Serra Do Mar, não igualam seus 1501,5m.
Uma mera
observação ao subir as encostas do Capivari Mirim, em dia de forte
calor, abriu nossos olhos para esse novo horizonte, de uma bela e
acidentada silhueta que era alta demais para ser apenas simples
colinas perdidas no relevo de Bocaiuva do Sul ou Tunas do Paraná. E
embora já nos desviássemos do eixo habitual do montanhismo, a
Bocaina foi motivadora das muitas trilhas (ao norte da capital), que
divulgamos neste blog; sendo este talvez o artigo mais importante de
todos até aqui.
É composta
por 5 morros principais, sendo que apenas o maior deles tem nome
conhecido pelos moradores do entorno, ou inscrito em mapa; razão pela qual os referimos de ora em diante como
números em ordem decrescente de altitude, para fins de descrição,
tal como exposto na imagem a seguir. Por vezes o próprio Morro da
Bocaina também será mencionado como “1”, comparativamente. Além
deles, existem duas elevações menores – leste e sudoeste – as
quais tratamos por “colinas”.
Característica comum a outras serras desta
região, sua base noroeste é mais alta e relvada, com maior presença
humana, enquanto a vertente sudeste é coberta por floresta; com
inclinações que em alguns pontos chegam a ser penhascos.
Antes da
finalidade de descrever suas trilhas conforme as conhecemos, cabe
mostrar uma foto rara – acompanhada pelo relato –
do reconhecimento feito na Bocaina em idos anos 50 durante a "1ª
Expedição Científica À Serra De Paranapiacaba E Ao Alto Ribeira"
pelo grupo do Coronel João De Mello Moraes e Major Sinval
Pinheiro, ambos do Serviço Geográfico do Exército.
Empreenderam
esta viagem entre janeiro e abril de 56, tendo seu trabalho
republicado pela Revista Brasileira de Geografia, edição abril -
junho de 57. Naqueles tempos pioneiros, a região também foi sondada
pelo historiador Ermelino De Leão e provavelmente pelo geólogo
Reinhard Maack. [Cortesia da biblioteca do IBGE em Curitiba.]
No
dia 13 de maio desse ano (2017), depois de muito planejar, iniciamos
o intento de conhecer os 3 principais morros deste conjunto, e a partir
aqui retratamos como foram as investidas.
Morro
3 – Reconhecimentos E Primeiras Impressões
Entrada
Com
altitude semelhante ao Tapapuí, o Morro 3 é a porta de entrada da
Bocaina, não somente por ser o 1º visto da estrada, mas por ser o
único inteiramente acessível de carro (4 x 4) e estar dentro de uma
propriedade bastante hospitaleira. Vindo de Curitiba pela BR-476,
passados 1,6 km da pousada Valle do Ribeira (Ribeirão Das Pedras),
entra-se à direita na estrada Eulisses Milani, (com trajeto em boas
condições), e segue-se por aprox. 7,4 Km até a Fazenda Serra Da
Bocaina, constante em carta topográfica. Pouco antes da porteira
principal no lado oposto da rua, vive o irmão do caseiro, ante cuja
casa nos foi permitido deixar o carro durante nossas 4 idas.
Passagem do 3 para o 2
O
que então se vê é um morro comprido, cujo cume está um pouco para
trás, e de início aparenta ser mais baixo do que é. Para chegar ao
caseiro, entra-se por uma porteirinha a 70m da principal, e passa-se
junto aos animais, que são mansos (inclusive os bovinos). O local
pertence a um empresário do ramo de transportes, e parece ter uma
produção relativamente pequena, em face de sua extensão. Ser o
caminho por uma estrada pode dar a impressão de que a serra toda é
um lugar fácil e confortável, mas não demoraríamos para
conhecê-la de verdade. Por coincidência, quando lá chegamos, o
caseiro e sua esposa também iam para o cume, e nos deram carona na
caçamba de uma Toyota, resultando numa experiência ruim para alguém
do nosso grupo, embora aos demais fosse bem divertido.
A
paisagem ao redor começa a causar admiração; encontra-se desde o
entorno da Estrada da Ribeira, a Serra De Santana, e os morros perto
de Tunas. Para o norte e nordeste estava a nossa grande curiosidade
de como seriam os morros 2 e 1, (deste só avistamos a silhueta). O 2
é o que se vê mais bonito dali, com aquele aspecto de "gominhos"
por entre os recortes nos pequenos vales onde flui a água das chuvas. Dentre os morros "conhecidos", o menos distante dali
é o Capivari Mirim, e assim mesmo são mais de 20km em linha reta.
Isso não impede de se ter um panorama privilegiado de toda a Serra
do Mar, como se desde a 1ª fila de uma plateia observássemos um
palco.
Guaricana
A
altitude mostrada no GPS supera um pouco os 1430m. Há um muro baixo
que circunda alguns metros do cume, e nele uma cruz, sendo que
adiante encontra-se trilhas entre os arbustos. Ao final deles, numa
relva baixa é possível avistar detalhes de uma crista do Morro 1; e só
então foi que começamos a notar como ele é impressionante. O que
do Google Earth se afigura como uma sucessão de relevos não tão
recortados é na verdade uma sequência de topinhos íngremes com
feições bem mais "hostis" do que imaginamos. Contou-nos
depois o irmão do caseiro algo que já era de se supor, a existência
de uma trilha entre os cumes do 3 e do 2.
Muito
bom visual também se tem num topinho, à direita de quem está
retornando do cume. Já à esquerda percebe-se a crista longa e
relvada que termina no vale ao início da Colina Sudoeste, quase
"pedindo" para também ser percorrida. Existe outra
estrada, um pouco paralela à principal, que também desce à
fazenda, mas voltamos pela que já conhecíamos. Neste dia ainda nos
faltava por visitar uma queda d'água 'deliciosa' que observamos na
imagem de satélite, e que veio a ser parte importante desse passeio.
Cachoeira
Do Rio Bocaina
Descrito em
algumas referências como Arroio Águas Amarelas (tal característica
não notamos muito), o Rio Bocaina é afluente do Passa Vinte, e tem
nascentes tanto nos morros 2, 3 e 4, quanto nas colinas do outro lado
da Eulisses Milani. Vem a completar o laurel daquela fazenda com uma
das mais bonitas cachoeiras existentes nos entornos da capital. Ao
fim da descida, entramos à esquerda numa estrada interna que logo se
aproxima do rio, estando quase paralela. Este corre para o sul, e a 1ª
das suas quedas encontra-se a 1km de distância da casa do caseiro,
enquanto a 2ª está a aprox. 2km.
Queda maior
Há
no caminho uma porteira sem cadeado, e a queda menor fica pouco
adiante dela, à direita; desde onde se desce por degraus de pedra.
Se a intenção for só o banho, ali já será satisfeita. Mais perto da
cachoeira principal, o vale onde o rio passa começa a parecer cada
vez mais profundo. A estrada termina numa clareira, e bem na sua
borda inicia outra escadaria, que é bem mais longa que a anterior.
Ouve-se bem o rumor da água desde o 1º degrau; e ela começa a ser
visível na metade da descida. Tem uma boa altura; seu poço não é
fundo, e seria impossível não entrarmos nela, caso aquele não
fosse um dia frio.
Tínhamos
dado o 1º passo na descoberta da Bocaina, e depois desta vez,
alternamos as investidas com outros morros descritos no blog, como
foram o Lorena, Betara e Baleia. As idas seguintes e seus resultados
são descritos na 2ª parte deste artigo.
Procurando
resolver certa dúvida com a carta topográfica “Pedra Branca Do
Araraquara”, tempos atrás me surpreendeu a informação “de mão
beijada” sobre a existência de uma cachoeira no Rio Itararé
(divisor entre Tijucas Do Sul e Guaratuba), num ponto ao norte da
BR-376, cuja margem oposta dá acesso ao Morro dos Perdidos. Não a famosa (ou melhor, as famosas) que ficam dentro da propriedade, e que
são o complemento ideal para o passeio no cume, mas outra, nominada
“Cachoeira Dos Jesuítas”. Fato raro, pois quando muito
encontra-se nesses mapas apenas um tracinho situando a queda, ou às
vezes uma desinteressada abreviação “Cach”, como foi o caso da
Colle, em Quatro Barras.
Antes de
formar a atraente visão que se tem até mesmo da estrada, o rio
Itararé desce a floresta da encosta leste do Morro Araçatuba, e
passa (provavelmente) por cascatas menores, até atingir as grandes
quedas que estão a 'módicos' dez reais de distância do visitante.
Menos gente sabe que a beleza não termina ali, e que para baixo da
ponte há outra cachoeira, com características distintas, cuja
trilha inicia à esquerda da rodovia, a 310m da P.R.F.
O percurso
começa atravessando um filete d'água que corre paralelamente à
pista, onde a descida é suave, mas o barranquinho oposto é bem
íngreme; sendo este o único ponto ruim do primeiro trecho. Pouco
antes da chegada, vê-se um outro caminho, para a direita, que leva ao
topo da cachoeira; e quem optar por conhecê-lo deve cuidar bastante
com o declive. É uma larga queda d'água, que não lembra as da
Serra do Mar e litoral, e sim as da região central do estado. O poço
é amplo, e de frente para ele as rochas são fendidas de modo que
parece proposital, como para o visitante se sentar diante dela com
certo conforto.
Viria a saber que mais tarde a Cachoeira 1 foi marcada por alguém no Google como "Cachoeira Alemão-Cwb", e que infelizmente esse nome foi acreditado por muita gente. Provavelmente trata-se de algum usuário que, em vez de se informar com moradores, ou em último caso batizar o lugar com um nome neutro, resolveu dar seu próprio apelido ou nome de usuário dentro do Google; atitude essa que nos parece simplesmente asquerosa.
Abaixo do poço, a água corre por mais uma parte
espraiada, aonde se chega pela esquerda, por uma pedra bem no canto,
evitando com isso passar entre as do meio. Ao cruzar esse ponto, com
maior distância da cachoeira, pode-se tirar ótimas fotos. Também se
nota que à jusante, o desnível do rio continua, e muito. Forma-se
uma longa cascata, bem aberta, não muito íngreme, mas também
bonita. Na margem direita é fácil perceber uma trilha que acompanha
o rio e segue paralela a ela, entre um pouco de mata, mas com boa
vista desde alguns pontos. A trilha alcança uma parte do rio onde a
água perde velocidade; até ali ainda se vê indícios de presença humana.
Depois já não é inequívoca, e exige em alguns pontos que se ande
pelo rio, mas em parte rasa. A recompensa, mais adiante, é um local
aberto onde a água se divide e forma cascatas menores, uma das quais
mais vertical, ponto esse bem menos frequentado. Chega a ser um local
mais agradável que o poço maior. Do barranco direito vem uma certa
trilha, que inicia na chácara vizinha, cujo dono foi quem me
indicou essas cascatas, às quais eu já pretendia ir porque
suspeitava da existência. Desde a BR são aproximadamente 600m de
caminhada até elas. Mas qual exatamente é a Cachoeira dos
Jesuítas, mostrada no mapa? Só viria a descobrir isso 2 anos depois.
Dentre os muitos ônibus que passam pela localidade, só duas empresas a atendem; uma é a Catarinense, que só serve na ida, porque na volta não para na estrada. Paga-se a passagem inteira até Garuva. A empresa que serve na ida e na volta é a Expresso Maringá, com os ônibus que vão para Guaratuba. Recomenda-se embarcar não na rodoviária de Curitiba, encarecida pela taxa de embarque, e sim na Agência Pinheirão de são José dos Pinhais, onde os primeiros horários de ida são 07:20 e 11:20; e os últimos de volta são 12:15. 14:45, 16:20, 18:45 e 20:15. R$17,80. Há o risco de o ônibus vir lotado e não parar na estrada. Mais que em outros lugares, sem entrar em detalhes, desaconselha-se pegar carona ali. Horários consultados em 06/2017. O telefone da agência é 3384-2647; mas quase nunca atendem.
Antes de andar
100m, vê-se à esquerda um discreto ramal que vai em direção às
trilhas do marco 22 (Cachoeiras Gêmeas, Salto Mãe Catira, etc.),
e quem anda nele precisa estar alerta para encontrar sua continuação depois de
um riachinho. Voltando ao principal, no dia em que conhecemos o 3º
trecho, era a 2ª vez que descíamos a Graciosa; quando ao cabo de
500 metros nosso grupo acabou se atrapalhando numa bifurcação por
causa do calçamento que desaparecia. Assim tivemos de retornar pelo
início, prejudicados novamente pela inexperiência; porém antes
ainda paramos num curso d'água a fim de recolher mica, convencidos
pela tolice de alguém que jurava estarmos levando ouro para
casa. O trajeto certo, que hoje nos parece fácil, encontra outra altura do Rio Cascata e mais algumas bifurcações 'inofensivas', uma
das quais parte da direita e hoje sabemos que encontra a
estrada.
O trecho faz
mais algumas curvas até chegar próximo do recanto Grota Funda, e
são poucas as confusões causadas por árvores caídas. O primeiro
relato que li menciona que o 3º e o 4º trechos eram um só, mas que
foram separados por um desmoronamento, à partir do qual foi criado
um desvio entre ambos, forçando o visitante a passar pela estrada
novamente. Mas desconfiamos que não seja ali, pois nesse ponto tanto
é possível subir direto ao recanto, (por uma trilha íngreme),
quanto é possível descer ao rio Grota Funda, por outra ainda mais
acidentada, porém viável. E do outro lado sim, chega-se na estrada
por uma subida bem mais cômoda, e com indícios de ser a original.
Cascatas Do Rio Grota Funda
Ao cruzar esse
rio, a maioria dos trilheiros perde a chance de conhecer a cascata
que existe 80m acima, a qual varia muito em volume conforme o
período do ano, sendo que mais vale a pena no verão. Andando pelo
leito, não há dificuldades senão os galhos caídos. Se só ela o visitante quer conhecer, convém descer do recanto pela trilha do lado oposto do
rio. Para conhecer a cascatinha de cima, desce-se ao rio pelo outro lado da estrada. Dela,
aliás, já se vê o vulto da queda d'água, a qual é mais espraiada
que a de baixo. Da ponte seguinte é visível a profundidade da
grota, ainda mais abrupta em comparação à que dá nome ao recanto.
O
“Misterioso” Quarto Trecho
Nunca o percorri. Inicia
adiante de um ponto perto do qual dizem ser visíveis as Cachoeiras Gêmeas.
Tinha lido que dele saía um ramal que desce até o rio Mãe
Catira, sabe lá com qual propósito.
Aparentemente é um pouco mais curto que o anterior, e seu fim é
pouco antes do recanto Bela Vista. Cheguei a andar na saída dele, mas tendo menos destreza que agora, não fui longe e preferi abandona-lo.
O Quinto Trecho
Jacuguaçu
Caramujo Gigante Branco
Depois do
Bela Vista, chega-se a uma curva que é a mais acentuada até então.
O verdadeiro início deste próximo calçamento seria um pouco para frente, ao lado de um
riachinho, cuja ponte criara um desnível ruim. Isso induziu as pessoas a entrarem pelo atalho direto na curva; sendo que em poucos metros a picada já encontra o trajeto original.
Paralelamente, com certa distância à direita, corre outro riacho,
que nasce numa das fendas do Morro Mãe Catira; e que tem uma curta
trilha desde o recanto anterior, para manutenção do cano de água
que o abastece. O presente trecho é mais aberto e menos acidentado que o 3º, por exemplo; e para não desviar do rumo basta cuidar os contornos dos troncos caídos.
Nota-se
a inteligência com que o caminho todo foi construído. Em vários
locais não é apenas uma trilha normal ao nível do solo, como deve
ter sido enquanto picada indígena antes da colônia, mas sim um
percurso ora elevado, ora rebaixado aproximadamente em 1m com relação
à parte mais alta do barranco. Também se vê onde a terra foi
mexida para o escoamento de água da chuva; um contraste interessante
de uma coisa que é ao mesmo tempo “artesanal”, porém muito
eficiente. Só em um lugar a estrutura de um caminho antigo me
impressionou mais, que foi a descida do Canion da Pedra, entre
Cambará Do Sul (RS) e Jacinto Machado (SC). O trecho termina no
penúltimo recanto, o Curva Da Ferradura.
A calçada de
paralelepípedos desse recanto, que desce para direita atrás do
quiosque, termina numa trilha que leva até uma cascatinha, a qual
fica no mesmo riacho onde se capta água para o Bela Vista, lá em
cima.
Cachoeiras
Impermanentes Do Morro Mãe Catira
Aqui mais um
parêntese, esta vez para um espetáculo da natureza que são as
enormes quedas d'água formadas em dia de chuva, desde o platô entre
o Morro Do Sete e o Mãe Catira. Em dias normais são apenas dois
filetes invisíveis à distância, que formam um riachinho perto da
Casa De Pedra, mas basta uma precipitação forte para que se
transformem nas torrentes que nem todos têm a sorte de ver. Isso
porque parte das vezes, a mesma tormenta que as gera, também as
encobre. Na base, a água atinge uma fenda que é maior que a do
riacho no recanto Ferradura, mais adiante do qual ambos se unem para
seguir em paralelo ao último calçamento do caminho, à certa
distância dele. Este é o recanto de onde melhor se vê o fenômeno,
embora seja observável até das proximidades de São João da
Graciosa.
O Sexto Trecho
Mais uma vez
são 2 os acessos; o calçamento mesmo inicia entre a saída do
recanto e a estrada, mas muitos usam a trilha que sai detrás do
banheiro. Logo encontram-se, e desde ali é o trecho menos inclinado.
Aproximando-se do seu final ouve-se os barulhos, principalmente
latidos dos cachorros, pois lá junto ao recanto Mãe Catira existe
uma casa. Ocorre que estão sempre presos e não há risco de
virem até a trilha.
Antes de chegar no final, existem 3 entradas
para a direita, separadas por pouca distância, sendo uma para
captação de água no riozinho, e as outras duas com cascatinhas pequenas,
que consideramos como a melhor forma de encerrar o passeio. A última
é a mais bonita; um dos poços é uma piscina deliciosa. Curioso é
que para o lado oposto do riacho existe um caminho (sem calçamento)
bem aberto no início, onde entrei até certo ponto, e vi que começa
a curvar para a direita. Depois me informaram no recanto que outrora
houve ali um bananal, e que a trilha não leva hoje a lugar algum;
mas persiste a curiosidade de percorrê-la até o fim.
O calçamento
chega no meio do Mãe Catira, que é o maior dos 6 recantos. Até ao lado das churrasqueiras, as pedras ainda estão
preservadas. Vários trilheiros concluem o dia com um banho no rio
Mãe Catira em vez das cascatinhas, mas nesse caso recomendo usar a
trilhazinha de frente para o último quiosque, e não a ponte de
ferro, porque nela sempre há muita gente, é mais tumultuado.
Por
diversos motivos, entre saber da existência dos caminhos coloniais
da Serra do Mar, em 1997, e chegar a percorrer um deles pela primeira vez, dez
anos tive que esperar. No êxtase de ter conhecido o Itupava, diligentemente busquei saber como chegar às outras duas trilhas mencionadas no
guia
Eco Verão, que foi o principal dos informativos turísticos de
outrora, trazedor de tanto fascínio a respeito daquele mundo
remoto que era a floresta atlântica. Sendo descrito apenas
como um “trajeto distinto da rodovia”, o caminho colonial que a originou parecia ser o menos interessante dos 3, pois diante do afã em desbravar aquela parte da serra, já considerava a
própria estrada como objeto de saciedade quase
suficiente. Vê-la
da janela de um ônibus, e isso ter sido quase tão distante como
vê-la por uma TV, foram o bastante para querer pôr o pé no chão novamente.
Duas
referências encontrei, sendo um tracklog impreciso (que hoje concluo
ter sido desenhado à mão), mas que mesmo assim veio a ser útil; e
o relato de alguém que, para conhecer a rota inteira, precisou mais
de uma investida, tal como me aconteceria. O caminho consiste de 6
trechos calçados que intercalam a rodovia, precedidos por outro,
bastante deteriorado, que não se costuma percorrer. São
aproximadamente 8 km de história, descobertas, cascatas e paisagens.
Com uma experiência muito
menor que hoje e sem saber os pontos exatos de início, conseguimos na primeira investida andar só pelos segmentos 2 e 5, sendo o restante pela estrada; entretanto no momento isso já nos satisfez.
A
Casa De Pedra
As ruínas da
centenária casa que pertenceu ao preservacionista Johannes Garbers
são parada quase obrigatória para quem desce o caminho. Está
localizada 700m para dentro na via chamada Graciosa Velha,
ou “Trilha” do Alemão, estradinha que liga a Graciosa atual à
Av. D. Pedro II; é a última entrada à direita antes do mirante.
Quem chega de ônibus deve comprar passagem até a localidade Alto da
Serra, para não pagar o valor inteiro até São João ou Morretes; e
atualmente são dois os horários
que saem de Curitiba, 07:45 e 09:00. Há que se cuidar
com alguns dias do ano em que a estrada é fechada para eventos
esportivos, pois embora não transcorram o dia inteiro, causam a
suspensão dessas linhas.
A casa é
mais visitada por estar no ponto de partida das trilhas para o Morro Mãe
Catira, Sete, Polegar e travessia da Farinha Seca. Ao lado da ruína
está a casa do caseiro, que cobra R$ 20,00 pelo estacionamento, mas
sempre franqueou a entrada para pedestres. É
recomendado chegar devagar para não provocar seus numerosos
cachorros, embora nem sempre estejam presentes. A Casa de Pedra em si é um ambiente pitoresco – ao mesmo
tempo sombrio mas acolhedor; com suas frequentes neblinas, e o mato
em volta, ora alto, ora bem roçado. Sob sua lareira se vê um fundo
buraco onde alguma mente rasa veio um dia cavar e depredar para
buscar ouro. Entre as duas partes do terreno corre o Rio Do Corvo,
cuja cachoeira conhecida (mencionada como "Do Riva") está apenas 400m à montante; e nela uma
corda permite subir ao topo; mas o que existe adiante dela já é
outra história. Para baixo, este mesmo rio é cruzado pela
estradinha, e paralelo a ele inicia uma
certa trilha, também interessante.
O
Labirinto Entre A Casa De Pedra E O Recanto Engenheiro Lacerda
Vindo de algum
lugar na direção de Quatro Barras, está pouco visível o
calçamento de pedras construído há mais de 180 anos, que tinha
naquele terreno apenas um local de passagem. A casa simplesmente o
interrompe, dando indício de ter sido edificada posteriormente, e
não há 200 anos como alguns creem. Para o outro lado não se o
distingue, e o que existe é um carreiro na relva baixa até alguns
metros, onde se adentra a densa floresta – desde então tudo
torna-se um complicado labirinto.
Há trilhas para todos os lados, partes muito fechadas, travessias de pequenos charcos, mas também pontos onde se tem a certeza de estar pisando sobre o calçamento original, pela forma aplainada e firme, e pela gramínea típica que recobre aquelas pedras quando não são percorridas. O visitante sente-se como um arqueólogo. Crendo na descrição errada que nos baseou, pensávamos que o correto seria sair na captação de água do mirante (Engenheiro Lacerda), e que o 1º trecho íntegro do calçamento era o que corta a curva seguinte. Mas não; esse pedaço deteriorado do caminho deve apenas levar o visitante de volta para a estrada, se não estiver fechado demais; a fim de que em seguida adentre o verdadeiro 1º trecho bom, no lado oposto da rodovia. Um mapa ao final da página esclarecerá o que verbalmente soa tão complicado
O
Primeiro Trecho Íntegro
Este segmento
que conhecemos tardiamente (e de trás para frente) tem sua entrada à
esquerda, aproximadamente 87 metros antes da placa que demarca a
divisa de município, entre Quatro Barras E Morretes. Sem
acostamento, às vezes entre cipós e mato mais alto, somente o
começo é ruim, porque logo se alarga, antes de cruzar um riachinho.
Segue mais ou menos paralelo a ele, até sair adiante do 1º recanto;
perfazendo 371m.
Local aproximado da entrada e local exato da saída; respectivamente
O Segundo Trecho
Vista do mirante para a serra do Ibitiraquire
235m à frente
do mirante, e apenas 30m à frente da saída do segmento anterior, fica a continuidade da trilha, sendo essa parte a mais curta e inequívoca das 6. Ali, como na última, também há
um buraco feito à procura de ouro. Por algum motivo, do começo ao
fim da Graciosa, as teias são até um pouco mais constantes que em
outros caminhos. Não são de espécies perigosas, e na maioria das
vezes as aranhas nem estão presentes, mas se quem anda na frente não
se cuida, pode até tecer uma blusa com tantos fios que acumula.
Em
pouco tempo encontra-se novamente a estrada, 280m antes do recanto
Rio Cascata. Esse nome se deve à quedinha ali existente, no mesmo riacho que abastece o recanto anterior. Sendo normalmente modesta, impressiona um
pouco em dias de cabeça d'água. Para ir do fim do 1º trecho calçado à
entrada do 2º, basta atravessar a estrada e dar uns passos à
esquerda; sendo ela menos ou mais visível conforme a época.
Não
é de hoje que o litoral paranaense, por ter a sua população
multiplicada durante cada veraneio, recebe do governo os recursos e
as atenções correspondentes, na forma de operações sazonais
voltadas ao turismo, do qual toda a sua economia depende. Num recente
passado, em tempos de orelhões cor de laranja e dólar a R$1,16; a
então operação Eco Verão (que atualmente perdeu o "Eco")
trazia consigo além de policiais e bombeiros, um guia informativo
gratuito mais completo e de mais alta qualidade gráfica que os
distribuídos nas últimas temporadas. Um compêndio descritivo de
várias atrações dos 7 municípios denotava os melhores esforços
de quem o elaborara, a fim de que o veranista dispusesse de todos os
conhecimentos para desfrutar e gastar nas nossas praias.
Outrora
facilmente acessível, a edição de 1998 hoje é quase rara,
encontrada somente em alguns sebos - de um dos quais agora trago em
duas formas.
A
qualidade das imagens não é 100%, mas todo o conteúdo está presente. Nessas 117 páginas, uma versão bem
ampliada da de 1997, há algo de muito nostálgico especialmente para
quem conheceu e curtiu o litoral do Paraná àquela época.
As
imagens que o ilustraram foram desenhadas por um artista de talento,
que juntava as representações dos locais numa maneira bem parecida
com a que faz nossa imaginação ou memória afetiva sobre
determinada região; e todos os seus elementos, desde os ícones,
pareciam estrategicamente criados para instigar nossa
vontade de aproveitar cada ponto turístico.
Uma
enormidade de atrativos do litoral, talvez por desconhecimento,
estavam ausentes; e algumas descrições continham informações
imprecisas; mas por outro lado constavam alguns que, de tão
"longínquos", são ainda hoje pouco conhecidos da maioria
dos turistas, como o Rio Pasmado e a Serra Gigante. As histórias dos
caminhos coloniais, por exemplo, que foram tema inicial desse blog,
traziam uma linguagem vagamente semelhante à do livro de Júlio
Estrela Moreira, quem por sua vez tivera como fonte maior as "Memórias
Cronológicas" do historiador Vieira Dos Santos, (Séc. XIX).
É
perceptível que nos guias dos anos seguintes, geralmente mais
simples e sucintos, o padrão dos textos é basicamente o mesmo,
inclusive nas imprecisões. E talvez ainda hoje muitos litorâneos
não lhe façam caso, descartando-o às vezes como folheto de
propaganda. Mas quem ainda tiver outros materiais turísticos do
litoral, anteriores ao ano 2000, e deseje compartilha-los, é favor
entrar em contato com o e-mail gomes681@gmail.com
Passado
algum tempo, também tive acesso à versão de 1997; e aqui está
para download (.rar):