Uma formação
montanhosa homógrafa a certa serra paulista e fluminense, distante
45km de Curitiba – mas quase totalmente desconhecida até então da
maioria dos trilheiros do estado – constitui o ponto mais alto de
toda a região fora da Serra Do Mar do Paraná. Seu pico maior, o
Morro Da Bocaina, supera quaisquer altitudes do 2º e 3º planaltos,
e para efeito de comparação, mesmo a Farinha Seca, Canavieiras e
Baitaca, na Serra Do Mar, não igualam seus 1501,5m.
Uma mera
observação ao subir as encostas do Capivari Mirim, em dia de forte
calor, abriu nossos olhos para esse novo horizonte, de uma bela e
acidentada silhueta que era alta demais para ser apenas simples
colinas perdidas no relevo de Bocaiuva do Sul ou Tunas do Paraná. E
embora já nos desviássemos do eixo habitual do montanhismo, a
Bocaina foi motivadora das muitas trilhas (ao norte da capital), que
divulgamos neste blog; sendo este talvez o artigo mais importante de
todos até aqui.
É composta
por 5 morros principais, sendo que apenas o maior deles tem nome
conhecido pelos moradores do entorno, ou inscrito em mapa; razão pela qual os referimos de ora em diante como
números em ordem decrescente de altitude, para fins de descrição,
tal como exposto na imagem a seguir. Por vezes o próprio Morro da
Bocaina também será mencionado como “1”, comparativamente. Além
deles, existem duas elevações menores – leste e sudoeste – as
quais tratamos por “colinas”.
Antes da
finalidade de descrever suas trilhas conforme as conhecemos, cabe
mostrar uma foto rara – acompanhada pelo relato –
do reconhecimento feito na Bocaina em idos anos 50 durante a "1ª
Expedição Científica À Serra De Paranapiacaba E Ao Alto Ribeira"
pelo grupo do Coronel João De Mello Moraes e Major Sinval
Pinheiro, ambos do Serviço Geográfico do Exército.
No
dia 13 de maio desse ano (2017), depois de muito planejar, iniciamos
o intento de conhecer os 3 principais morros deste conjunto, e a partir
aqui retratamos como foram as investidas.
Morro
3 – Reconhecimentos E Primeiras Impressões
Com
altitude semelhante ao Tapapuí, o Morro 3 é a porta de entrada da
Bocaina, não somente por ser o 1º visto da estrada, mas por ser o
único inteiramente acessível de carro (4 x 4) e estar dentro de uma
propriedade bastante hospitaleira. Vindo de Curitiba pela BR-476,
passados 1,6 km da pousada Valle do Ribeira (Ribeirão Das Pedras),
entra-se à direita na estrada Eulisses Milani, (com trajeto em boas
condições), e segue-se por aprox. 7,4 Km até a Fazenda Serra Da
Bocaina, constante em carta topográfica. Pouco antes da porteira
principal no lado oposto da rua, vive o irmão do caseiro, ante cuja
casa nos foi permitido deixar o carro durante nossas 4 idas.
O
que então se vê é um morro comprido, cujo cume está um pouco para
trás, e de início aparenta ser mais baixo do que é. Para chegar ao
caseiro, entra-se por uma porteirinha a 70m da principal, e passa-se
junto aos animais, que são mansos (inclusive os bovinos). O local
pertence a um empresário do ramo de transportes, e parece ter uma
produção relativamente pequena, em face de sua extensão. Ser o
caminho por uma estrada pode dar a impressão de que a serra toda é
um lugar fácil e confortável, mas não demoraríamos para
conhecê-la de verdade. Por coincidência, quando lá chegamos, o
caseiro e sua esposa também iam para o cume, e nos deram carona na
caçamba de uma Toyota, resultando numa experiência ruim para alguém
do nosso grupo, embora aos demais fosse bem divertido.
A
paisagem ao redor começa a causar admiração; encontra-se desde o
entorno da Estrada da Ribeira, a Serra De Santana, e os morros perto
de Tunas. Para o norte e nordeste estava a nossa grande curiosidade
de como seriam os morros 2 e 1, (deste só avistamos a silhueta). O 2
é o que se vê mais bonito dali, com aquele aspecto de "gominhos"
por entre os recortes nos pequenos vales onde flui a água das chuvas. Dentre os morros "conhecidos", o menos distante dali
é o Capivari Mirim, e assim mesmo são mais de 20km em linha reta.
Isso não impede de se ter um panorama privilegiado de toda a Serra
do Mar, como se desde a 1ª fila de uma plateia observássemos um
palco.
A
altitude mostrada no GPS supera um pouco os 1430m. Há um muro baixo
que circunda alguns metros do cume, e nele uma cruz, sendo que
adiante encontra-se trilhas entre os arbustos. Ao final deles, numa
relva baixa é possível avistar detalhes de uma crista do Morro 1; e só
então foi que começamos a notar como ele é impressionante. O que
do Google Earth se afigura como uma sucessão de relevos não tão
recortados é na verdade uma sequência de topinhos íngremes com
feições bem mais "hostis" do que imaginamos. Contou-nos
depois o irmão do caseiro algo que já era de se supor, a existência
de uma trilha entre os cumes do 3 e do 2.
Muito
bom visual também se tem num topinho, à direita de quem está
retornando do cume. Já à esquerda percebe-se a crista longa e
relvada que termina no vale ao início da Colina Sudoeste, quase
"pedindo" para também ser percorrida. Existe outra
estrada, um pouco paralela à principal, que também desce à
fazenda, mas voltamos pela que já conhecíamos. Neste dia ainda nos
faltava por visitar uma queda d'água 'deliciosa' que observamos na
imagem de satélite, e que veio a ser parte importante desse passeio.
Cachoeira
Do Rio Bocaina
Descrito em
algumas referências como Arroio Águas Amarelas (tal característica
não notamos muito), o Rio Bocaina é afluente do Passa Vinte, e tem
nascentes tanto nos morros 2, 3 e 4, quanto nas colinas do outro lado
da Eulisses Milani. Vem a completar o laurel daquela fazenda com uma
das mais bonitas cachoeiras existentes nos entornos da capital. Ao
fim da descida, entramos à esquerda numa estrada interna que logo se
aproxima do rio, estando quase paralela. Este corre para o sul, e a 1ª
das suas quedas encontra-se a 1km de distância da casa do caseiro,
enquanto a 2ª está a aprox. 2km.
Há
no caminho uma porteira sem cadeado, e a queda menor fica pouco
adiante dela, à direita; desde onde se desce por degraus de pedra.
Se a intenção for só o banho, ali já será satisfeita. Mais perto da
cachoeira principal, o vale onde o rio passa começa a parecer cada
vez mais profundo. A estrada termina numa clareira, e bem na sua
borda inicia outra escadaria, que é bem mais longa que a anterior.
Ouve-se bem o rumor da água desde o 1º degrau; e ela começa a ser
visível na metade da descida. Tem uma boa altura; seu poço não é
fundo, e seria impossível não entrarmos nela, caso aquele não
fosse um dia frio.