terça-feira, 28 de novembro de 2017

Morro Do Rio Comprido - Breve Descrição


Os 2 topos superiores da modesta serra ao sudeste de Rio Branco Do Sul, chamados Campina Dos Rosas e Morro Do Rio Comprido (ou "Pernambuco") podem ser vistos do mirante próximo à Cachoeira Do Roncador, em Colombo; porém não são visíveis entre si. Estando no primeiro deles, a única paisagem que a mata nos impedia foi a direção do outro, o qual erradamente pensávamos ser mais alto, e que no entanto tinha 3m a menos (1235m). Seu entorno é um planalto mais elevado que o do Campina; e sendo menor esse desnível, há também pequena desvantagem na vista.


Ele não é nada agudo, possui uma forma arredondada. Com acesso mais a oeste, pela Rodovia Dos Minérios, não demoramos a chegar na chácara da sua base, onde os moradores foram receptivos e nos indicaram a estradinha interna, que chega quase ao cume. Dela se vê bem a serra de Itaperuçu e outros contornos verdes no oeste.


Adentramos o capinzal à esquerda do caminho para alcançar a cerca que limita a propriedade; o topo está para além dela, num ponto que não localizamos tão rápido, porque todo o terreno ali é abaulado; coberto por pinus. Não fosse por eles, provavelmente o cenário para o lado oposto seria excelente. Há ainda outro morro acima dos 1200m nesse conjunto, porém "padece do mesmo mal". Como passeio, não deixa de ser agradável, mas o ideal é que seja feito como complemento de outras trilhas da região. Aquele dia escolhemos uma cascatinha no Rio Grande Da Laura.


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Cachoeira Do Rio Igreja


Quatro anos atrás, no afã de identificar um mínimo vestígio do traçado completo do Caminho Do Arraial em imagens de satélite, me surpreendeu como era possível distinguir mesmo de tão "longe" cachoeiras com o porte do Salto Da Fortuna, a qual foi minha primeira encontrada. Em retorno do Salto Do Sagrado (ou Das Crianças), também por curiosidade resolvi marcar a localização dele no Google Earth, quando em seguida, ao mover bem mais para dentro o mapa me deparei com um segundo risco branco. Logo vi que tinha achado mais uma cachoeira, com quase nenhuma chance de ter nome ou qualquer menção escrita.


Era um lugar ermo demais, no coração da floresta, pra lá da divisa com Guaratuba; e inicialmente pensei que morreria com a ilusão de conhecê-la. Ocorre que essa "brincadeira" de encontrar quedas d'água abriu um horizonte tão largo, que de certa forma contribuiu até para modificar o teor deste blog – cuja intenção primeira fora apenas tratar a história do Arraial, e hoje busca ser um útil sumário de trilhas raras. Numa carta topográfica do IBGE, constava aquele rio longínquo como um afluente do Igreja – por sua vez, tributário do Canavieiras – entretanto numa versão mais detalhada, refeita pela Mineropar, ficou claro que se tratava do próprio Igreja, o qual nasce ante o enorme paredão de pedra no pico de mesmo nome.


Ainda na atmosfera de ter andado um percurso inteiro dentro de um rio, como pude experimentar no impressionante Salto Canta Galo, surgiu a intuição de fazer o mesmo para chegar na inexplorada. E previ que assim seria, caso alguma vez conseguisse como parceiro alguém com carro e coragem bons o bastante para enfrentar a estradinha escabrosa que lá dava acesso. Outros projetos de trilha apareceram e se impuseram como prioridades, quais foram a Dupla (melhor cachoeira que conheci na vida), e uma outra que não gosto nem de lembrar o nome. Assim o tempo passava, e com a evolução nos conhecimentos aprendidos desde o Morro Da Pedra até a odisséia na Bocaina, vi quão preferível era andar pela floresta do que abraçando rochas rio acima por quilômetros.


Ao localizar uma chácara muito remota nas proximidades, e calculando que encurtaria nossa caminhada, tivemos então a primeira possibilidade real de alcançar o ponto do rio que nos interessava. Que nos desculpe o leitor, por mais essa vez que se rompe a forma impessoal característica das narrativas aqui, mas existe hoje um bom motivo. Esse artigo é especial não só pela raridade da conquista; mas também porque convido pela 1ª vez a minha amiga Wanele Riccetto para expor com suas próprias palavras o desenrolar do dia 14 de outubro; cujo relato a seguir será (alternadamente) diferenciado pela cor verde da escrita.

O dia 14 de Outubro de 2017 fora reservado para aquilo que eu considerava uma investida exploratória. Advindo de um aprazível convite do amigo Jean Di Santi, o qual conheci há cerca de 1 ano nas proximidades do morro Capivari Médio, localizado na carta topográfica Bairro Alto.

A ideia inicial era lotarmos o veículo do Antônio Sérgio, outro colega incumbido na aventura. Todavia, devido as condições climáticas desfavoráveis e demais casos fortuitos, outros colegas não abraçaram a causa e partimos apenas os três em direção a Morretes. No trajeto, trocamos típicas figurinhas de montanhistas, caminhantes ou trilheiros, como se queira definir. O assunto girava em torno de tudo aquilo que os pés podem alcançar e o coração almejar, como montanhas poucos frequentadas e lugares inóspitos no mapa.

O clima de “Indiana Jones” só veio à tona no momento em que pegamos a estradinha de chão em condições não muito transitáveis. Uma maratona contra buracos e pedras que poderiam danificar a parte inferior do veículo. Em dado momento, logo após atravessar o Rio Da Laje, notamos um barulho de peça batendo no chão: era o protetor de cárter da Ecosport do Antônio que havia se desprendido. A missão naquele momento, era utilizar a corda que o Jean carregava consigo, para prender a peça e prosseguir viagem.

Uma breve disputa entre homem e butuca se iniciou, onde um ajudava o outro espantando o bichinho sedento por sangue. Mas, como missão dada é missão cumprida, seguimos nossa aventura até chegar no ponto em que o Jean coletaria informações com moradores locais. Ledo engano, pois não havia uma alma viva nos casebres das redondezas.

A aventura deveria seguir então pelos prévios estudos da região e, também, pelo feeling dos envolvidos na empreitada. E assim, fomos rumo ao ponto de referência no mapa: uma velha casa desabrigada no meio do nada. A caminhada começou animada, porém com notada preocupação do Antônio devido as condições climáticas desfavoráveis. A previsão era de chuva e isso não seria muito convidativo para atravessar novamente o riacho.

Em dado momento, Antônio – o condutor na ocasião, resolveu voltar para não correr o risco de ficar ilhado com o carro. Decidimos, assim, que eu e o Jean continuaríamos na jornada, com o consentimento expresso do Antônio apostando todas suas fichas na nossa capacidade exploratória. E assim fomos, caminhando na maioria das vezes de forma silenciosa por entre a mata que nos observava de forma serena, sussurrando uma brisa em nossos ouvidos e, a cada novo passo, se estreitando em suas saliências.

Um pouco mais de 3km percorridos, chegamos finalmente em nosso ponto referencial. Resolvemos adentrar na casa abandonada e naquele exato momento, consegui sentir toda a vida que um dia habitara aquele lugar perdido no mundo. Uma pequena pausa para hidratação e fotos e, logo, a picada à esquerda nos convidava a seguir viagem num ambiente até então desconhecido dos olhos. O mato espaçado não ajudava muito na orientação, mas o Jean observava atentamente a localização em seu celular.

Ter encontrado abandonada a última casa tirou-nos já a preocupação de não ser permitida nossa entrada por eventuais moradores. O 2º risco era não existir sequer um vestígio de trilha para a cachoeira, apesar da proximidade. Mas logo ao chegar, já vi ao lado da casa, bem no ponto esperado, aquela entradinha “suspeita” que causou-nos alívio. Como é comum, à certa distancia, os indícios tornaram-se vagos demais, quase imaginários. A mata espaçada pode ser algo bom (nisso pensamos diferente) para quem está acostumado a andar fora de trilha; e considerando o pouco desnível do terreno, bastaria traçar uma linha na direção correta e andar, mesmo se apenas uma bússola nos guiasse, em vez do aplicativo.

Trabalhamos juntos para definir o melhor trajeto e evitar riscos desnecessários. Confesso que senti um certo receio, pois era a primeira vez que caminhava ao lado do Jean e não sabia o que nos aguardava. As chances de algo dar errado sempre existe e eu, definitivamente, não gostaria de virar estatística... O Jean comentava comigo de que existem onças naquela região. Eu olhava atentamente para todos os lados, com os ouvidos bem apurados e seguindo todas as instruções que ele me passava, caso avistasse o “bichinho”... Por sorte, somente os carrapatos faziam a festa com os novos visitantes!

Conseguimos navegar de forma satisfatória até ouvir o barulho da queda d'água. Sabíamos que a cachoeira estava próxima de nós, porém, existia uma certa dificuldade para encontrar a descida. Andamos um pouco adiante tentando achar a “reta final”, porém, tivemos que voltar pois não havia vestígios seguros para continuar. Uma pequena onda de negatividade pairou em minha cabeça: aquela sensação de confusão, do tempo correndo, da possibilidade de chuva, de não encontrar o caminho, enfim, a angústia da chegada obscura...

Não obstante todas essas sensações, continuei andando atenta e seguindo os conselhos que uma vez ouvi numa trilha: “Olhe sempre pra baixo, não procure fitas e marcações em árvores, mas sim o caminho”. E foi assim que, em certo momento, chamei o Jean que estava um pouco à minha frente e disse: “Olha Jean, ali parece ter uma entrada”. Ele prontamente voltou e seguimos aquela minha intuição. Os olhos já brilhavam e o coração disparava por avistar uma janela no meio da floresta. Faltava pouco, alguns passos somente, e o objetivo seria alcançado!

Lembrei da frase do Amyr Klink: “É preciso, antes de mais nada, querer”. E é assim mesmo, não existe obstáculo quando almejamos muito algo, nosso coração é nosso guia! Agradeço aos amigos Jean e Antonio, por mais uma página no livro de aventuras da minha vida!

O “enrosco” de fato era aquele final, como sempre, para achar o ponto correto de descida ao rio, que naquele caso poderia ser tanto pelas partes convexas, quanto pelas côncavas da barranca. Tentamos pela primeira, mas era íngreme demais. Quem nunca fez exploratória em rio não sabe a tensão que é tentar enxergar para baixo entre as matas, sem saber se naquele ponto pode-se ou não despencar. Não aceitaria um fracasso; sonhava com aquilo havia tempo suficiente, ademais não estava disposto a decepcionar a Wanele de forma alguma.


Ela mesma identificou o ponto melhor para descer, na parte côncava, como dito em sua narrativa; e isso foi crucial porque nos poupou bastante tempo. Vimos o primeiro “branco” da cachoeira por entre as folhas, e tenho certeza que a felicidade dela foi igual a minha. Sobre base rochosa, era uma queda d'água de médio porte, mas muito bonita, permitindo aproximação sem obstáculos para o banho. Nela só não nos estendemos mais, pelo receio da chuva, e por pensar em quem nos aguardava. Finalmente aquele risco branco perdido no mapa tinha se tornado uma realidade para nós.




quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Cachoeira Da Barragem


Distante 4km do centro de Bocaiuva Do Sul, a Usina do Roncador, que foi um dia a única fonte de eletricidade do município, encontra-se há 40 anos inativa e depredada no pouco que resta das suas antigas estruturas. A queda d'água que movimentava as turbinas pertence ao Rio Capivari, em cujo trecho na verdade ainda é chamado Roncador, tendo recebido os afluentes Antinha, Mina e Água Comprida. Na carta topográfica de escala “1:250.000”, consta o local como Rio da Mina até o encontro com o Bacaetava, de Colombo, porém em se tratando de nomes, a tradição oral tende a prevalecer.


Foi-nos mostrada por alguém da UTFPR uma elogiável ideia de revitalização e reaproveitamento do potencial energético da usina, incluindo até um pequeno laboratório para ensino sobre o assunto. O que falta é dinheiro, especialmente para compra das novas turbinas. Sendo escassas até as fontes de informação sobre as muitas histórias que aquele ambiente deve ter, resta ao visitante desfrutar o atrativo da sua cachoeira.

Para quem chega de Curitiba, logo de passar o centro, pode tanto entrar à esquerda na PR-506 (que vai para Rio Branco) e depois entrar na primeira à direita (via em mau estado); quanto pode escolher a saída seguinte da Ribeira - que é um pouco mais longa.

Deixa-se o carro a pouca distância do topo da barragem, sobre a qual se pode andar e ver a pequena parte de queda artificial acima da cascata verdadeira. Pelo lado esquerdo de quem chega, inicia uma trilha curta e lisa, mas não muito arriscada, que chega na frente do poço. Ele é largo, o caminho contorna-o, e parece haver outra trilha vinda das casas próximas.


O jorro d'água ora lembra um “x”, pela forma como se estreita, e também parece um pouco com a Cachoeira Quintilha, de Paranaguá, só que menor. Levando em conta a facilidade e a localização, vimos poucos vestígios ruins, não mais que uma ou duas latinhas jogadas no mato. Não só pelo frio foi que evitamos entrar no poço aquele dia. Há um grande orifício oculto na base da torrente, e dizem os locais que várias pessoas já morrerem nele quando abusam em nadar muito perto; de tal sorte que nem mergulhadores recuperaram os corpos. Pelo menos assim nos contaram.


Nota posterior: Para informações sobre o projeto de revitalização da usina, é favor escrever para: waltersanchez@utfpr.edu.br.

sábado, 4 de novembro de 2017

Cachoeiras Do Rio Massaroca


Quase junto à divisa de Rio Branco do Sul com Bocaiuva, na bacia do Rio Santana, nasce um afluente que corre de leste para oeste entre colinas não tão distantes do Morro Campina Dos Rosas. Ouvimos menção ao que lá existe de mais bonito enquanto conhecíamos a cascatinha de um certo rio próximo; lugar aquele onde todos disseram não haver cachoeira maior, porém tínhamos tanta esperança, que ainda me é difícil resignar. O acesso ao Massaroca passa pela estrada do Bacaetava, desde a qual um desinformado pode nem notar que já saiu de Colombo e entrou noutro município. Ali buscávamos a cachoeira que nos sugeriram, em seguida de ter visitado a do Roncador; e previmos que ambos passeios se complementariam muito bem.


Deixamos o carro e viemos procurando uma entrada de trilha, que estava a 415m do cruzamento com o rio – um bom tanto adiante de onde imaginei. Sendo uma das mais curtas já descritas aqui, esta picada é bem íngreme e lisa, mas não tivemos problema em descer. A cachoeira que encontramos não era muito alta; jorrava sobre um poço largo e não tão profundo, estando bem sombreada no fundo daquele vale. Ela sozinha já teria valido a pena.


Vimos um vestígio de trilha à sua esquerda, e ali já comecei a desconfiar. De volta à estrada, a intuição aumentou, e seguimos mais alguns metros à montante do rio procurando outra trilha que descesse. Logo notamos que o barulho d'água não vinha mais da queda anterior, e sim de um ponto acima. Achamos uma picada ainda mais declive e curta, que nos levou até a cachoeira maior, a qual apelidamos de "1".


Era mais perto chegar no seu topo do que na base, passando por uma pedra não tão confiável onde esticamos a corda (só para garantir) e chegamos no pocinho superior, defronte a outra cascatinha mais baixa. Depois descemos até a base da maior e vimos a ponta de trilha que subia da cachoeira 2, onde primeiro estivemos. A 1 é bem ampla, e o branco da sua água formava um bonito contraste com as rochas bem escuras.

 

O rio vizinho ainda estava nos planos daquele dia, mesmo que a visita  servisse como um "tira-teima" confirmando a inexistência de cachoeira; porém uma valetinha ao lado da estrada de acesso veio a nos causar uma "pequena calamidade", custando o resto da tarde até acharmos ajuda para tirar o carro de lá. No entanto não saímos reclamando, porque a satisfação desse dia foi bem maior que os transtornos.


 
Cachoeira 2 Cachoeira 1

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Cachoeira Roncador E Mirante Da Colina


Dentre os 2 dilemas que existem na divulgação online ou impressa de cachoeiras desconhecidas (ou pouco conhecidas), um já foi citado neste blog, que é a questão da segurança. Quase despenquei na Cascata 1 do Rio Cari, meses atrás, quando buscava a Cascata 2. E se ela veio a ser descrita aqui foi unicamente porque o ponto perigoso era um só, ficando bem explicado como evita-lo. Mas o que fazer quando o problema não é o risco, e sim o comportamento destrutivo de uma parte das pessoas que visitam um ambiente? Atrativos próximos de áreas urbanas têm esse porém. A família que mora perto da cachoeira do Roncador, em Colombo, estava cansada de ter que recolher lixo e lidar com os transtornos da visitação aberta do local. Restringiram, e com razão.


Junto com a gruta do Bacaetava e o Morro da Cruz, é um dos lugares mais bonitos deste município, o qual muitas vezes é lembrado injustamente apenas pelos seus problemas. Omitindo dessa vez os detalhes de acesso – que podem ser encontrados noutras fontes – tratamos apenas de descrever a cachoeira e o mirante, compreendendo o leitor que pode ou não ter sua entrada permitida, caso decida visita-la.

"Pedra da vertigem" - Pela copa da araucária pode-se imaginar a altura...

Menos longe do centro, existia uma entrada anterior àquela que usamos; porém com placa proibindo a passagem e sem ninguém a quem se pudesse pedir autorização. 2 moradores a quem perguntamos do outro acesso pareciam fingir que desconheciam sua existência. Finalmente chegamos à casa indicada pelo mapa como o melhor local para início, e caso não tivesse trilha, restaria adentrar o mato como sempre. Mas a moça que nos atendeu deve ter tido uma intuição boa a nosso respeito, porque embora explicasse o motivo do lugar não ser liberado como antes, faria a nós uma exceção. Orientados, passamos para trás da grade que limitava o quintal, descendo logo por uma trilha curta e íngreme à beira da cerca até o rio, onde mais adiante atravessamos. Da margem oposta, mais uma picada chegava.

Bem antes dali, entre os 2 morros que cercam o bairro mais alto da cidade (o Campestre) ficam as nascentes do rio, que pertence à bacia do Ribeira.

Sempre vi Colombo como um município "morno", quase incipiente em relação à natureza, apesar do verde da sua área rural e de curtos trechos restantes de floresta primária. Mas no início da caminhada já senti aquelas características "selvagens" que tanto nos atraem em Rio Branco e Bocaiuva, por exemplo. O rio se mostrava cada vez mais "prensado" pelas barrancas verticais de ambos lados. Depois da 2ª travessia, a trilha passa por um ponto elevado, até que se avista a cachoeira. O caminho forma um "T" com outra trilha que vem de cima e se inclina bastante na descida final até a base. Para a direita, tratava-se da ida ao mirante que planejávamos conhecer depois dali.


Chegando na parte plana em frente ao poço, notamos que a queda não era tão pequena. A água do poço era de um marrom claro, como a das Gêmeas Gigantes de S. Francisco De Paula; não por sujeira, mas pelos sedimentos próprios daquele solo. Do lado oposto de onde chegamos vimos a ponta da trilha que vem do bairro ao lado. Ela passa por um estreito valezinho, único ponto possível entre os quase penhascos do entorno. Lemos em algum lugar que no meio do poço há uma abertura onde parte da água segue pelo subterrâneo, tornando o mergulho ali muito perigoso.


Novamente na trilha, começamos a subida para o mirante, esperando apenas uma boa vista para o lado norte – rumo à serrinha do Campina Dos Rosas. O que nos surpreendeu é que em tão pouco tempo já estávamos bem alto, sendo aquele um precipício ainda na borda do poço. Isso é que nos permitiu ter uma vista perfeita da cachoeira, e de mais dois jorros atrás dela; um cenário lindo. Seguimos pela trilha e alcançamos a esperada estradinha que nos levaria quase até o cimo naquele lado da colina. Nela tivemos exatamente a paisagem prevista, desde o Morro Do Rio Comprido até o Campina, bem como da Serra do Mar na direção leste. Expectativas superadas, mas ainda tínhamos ansiedade pelo que faltava desbravar naquele dia, as Cachoeiras Do Rio Massaroca.


Álbum completo no Google Fotos: https://photos.app.goo.gl/ECMePFH4CoFLI8RP2




quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Morro 5 Da Serra Da Bocaina


Conquanto figure no 5º lugar em altitude, o mais remoto morro da Bocaina, além de não dever nada em beleza para os demais, corresponde a um terço do comprimento desta serra, lembrando à certa distância uma chapada ou mesmo uma linguiça, se visto no mapa. A estrada que lhe dá acesso não é a mesma dos outros, e sim uma verdadeira “trilha de jipe” que deveria ligar o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, sendo sazonalmente estragada pelos caminhões que transportam toras. 4 meses depois de conhecer o primeiro cume na Bocaina foi que felizmente conseguimos concluir o propósito de chegar ao último, e este foi o mais trabalhoso.


Diferente ao acesso de outros morros, ali se pode percorrer longa distância sem sequer ouvir sons de gente ou de outros veículos. Só à pouca distância, sem nenhuma colina na frente, é que pudemos ter o panorama do lugar onde desejávamos estar dentro de poucas horas; ali então mais variado em contornos e não apenas um "retão". O início da caminhada é bem no "bico" da serra, adiante da curva mais aguda da estrada. Em frente ao local onde deixamos o carro, corria a água de alguma nascente próxima, e havia sido colocada uma madeirinha em certo ponto para que fluísse como uma bica.

Deste ponto e do falso cume do Morro Da Bocaina (dir.) é que melhor se compreende as formas do Morro 5

Tínhamos a ponta do morro bem à nossa direita; ali a estrada já cortava um pouco seu barranco, e talvez por isso seria abrupta demais para que escolhêssemos uma subida direta. Perto de uma nascente na estrada - Início do percurso para o Morro 5 da Serra Da Bocaina Pouco antes dessa curva mais fechada existia uma entradinha que em vez de subir, parecia seguir paralelamente ao morro, a qual na verdade já sabíamos que se desviaria dele cada vez mais. Assim mesmo o início dela era o ponto correto do caminho, porque nossa única necessidade foi passar ao largo do barranco mais íngreme, antes de começar a subir. Vimos que pouco adiante já estava melhor, e adentramos o mato à esquerda, tendo ali bastante facilidade.


O capim alto intercalava alguns pinus perdidos, e com o calor aumentando surgiu uma das maiores dificuldades daquele dia, as mutucas. Como mencionamos sobre essa estranha espécie no artigo do Morro 4, apesar de elas conseguirem picar através da roupa (igual fazem as da Serra Do Mar), precisam que a vítima esteja parada; pois do contrário rondam insistentemente sem nada conseguir. Na vez anterior isso não chegou a ser um problema, porque onde elas mais existiam, nós não tínhamos porque parar; visto que o calor era leve e exigência física, moderada. Porém no trecho exploratório do Morro 5, a situação rapidamente tornou-se uma sinuca, onde a mata que abríamos era bem mais longa que o previsto, e o mormaço fustigava à medida que se aproximava o meio dia.


Atingimos o início da crista, e por ela seguimos tornando à direita, sem vestígios de trilha e nem esperança de alcançar tão cedo o descampado que imaginamos. Vencendo a capoeira mais emaranhada na contínua subida, e enroscando em tudo quanto era raiz e galho, notamos que as mutucas se juntavam num enxame. Alternávamos o avanço eu e meu amigo, um estapeando as pernas do que estivesse à frente; e quando eu tinha que parar para ver nossa posição no aplicativo, dava a ele o galho que usava para espantá-las. Felizmente tinha ali um parceiro de fibra. Foi um sufoco, porque se marchávamos sem pausa, vinha o fogo da exaustão; e se parávamos, vinha a luta contra elas.


A perspectiva melhora depois do trecho em que a crista mais se estreita, inclusive com vestígios de trilha; e finalmente chegam os campos de altitude perto do falso cume, então com bem menos insetos. Já se descobre desde ali a paisagem dos Capivaris até o Ibitiraquire. Apesar do abafamento entre as moitas, por breves mas numerosas pausas me atirava sem pudor ao descanso na relva, porque quase no topo só sentia as forças diminuindo. Como uma ironia qualquer, o menos alto dos "5 Bocainas" revelara-se o mais árduo.
As vistas entre o cume principal e o falso, ou vice versa, e aquelas que tínhamos para o morro 1 (Morro Da Bocaina) eram deliciosas. A chácara menos distante, com seu açude contrastando à escarpa florestada abaixo de nós; e uma certa serra no horizonte formaram a mais bonita imagem daquele dia.


Lembrando o alto do Capivari Grande, as picadas paralelas durante a volta nos causavam enganos no trecho de floresta. Errávamos por pouco, mas errávamos muito; principalmente quando entramos num rastro de trilha um pouco mais forte quase na saída, que decerto vinha daquele único sítio da região. Contudo não é a sensação dos percalços que permanece, e sim a da conquista; o que fica são as imagens todas, da ocasião em que finalmente tinha conhecido os 5 topos daquela serra que tanto aprendi a gostar.


Álbum completo no Google Fotos:

Aplicativo Soviet Military Maps  Google Earth

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Morro 4 Da Serra Da Bocaina

Planejar e realizar uma trilha exploratória ou semi-exploratória é algo que reúne todas as sensações de um bom jogo de investigação. Em algumas, os elementos de aventura fogem do controle, sufocam e não “coadunam”; porém noutras como o Morro 4 da Bocaina, é como se em vez do acaso, houvesse uma história inteira cheia de detalhes esperando por ser praticada, tornando o percurso algo até aconchegante a despeito das dificuldades. Anteriormente o 4 nos parecia apenas uma crista do Morro 2, mas descobrimos que era um morro independente, com uma vista central daquela serra. Nossa visita aconteceu pouco mais de 1 mês depois de conquistarmos o 1 (Morro Da Bocaina). Vale lembrar que nós somente os numeramos em ordem de altitude como referência, pois exceto o mais alto, todos carecem de nomes oficiais.

Para este artigo, ainda que o visitante não use GPS, é muito importante que ao menos observe o percurso completo neste mapa: https://www.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=19423486 e tenha a descrição seguinte como um apoio.

A caminhada começa no mesmo ponto “de sempre”, em frente à chácara Serra da Bocaina – estrada Eulisses Milani. Inicialmente o percurso coincide com o trajeto para o Morro 2, ou seja, adentra o trecho particular dessa estrada e segue por 990m até uma bifurcação, onde se toma a direita. Por esta “quase estrada”, anda-se 480m até nova bifurcação à esquerda, conducente a dois casebres numa clareira, onde se pensa haver gente; porém ambos estão se arruinando.
4 visto da subida do 2

Para além deles, o caminho vira trilha e chega num bonito riacho que antecede uma cerca, sendo que depois dela parece não existir nenhuma continuação. Ali não há pinus, e sim uma floresta nativa emaranhada onde logo se percebe um labirinto de trilhas; no entanto a distância do riacho até o seguinte caminho aberto é pequena; algo como 50 a 60m. Tudo o que o passante deve fazer é escolher dentre essas picadas, aquelas que continuarem levando-o na mesma direção reta que vinha seguindo desde os casebres.

1

Irá sair numa trilha transversal larga, em que deve tomar um pouco à direita e logo entrará à esquerda por caminho mais aberto, na subida. 200m depois, estará num cruzamento de “estradinhas”, onde deve escolher a da direita. Isto é bem perto do início da crista do Morro 4; e nós acreditávamos que ao fim daquele caminho rural, a ascensão se daria bem pelo “bico” dela; porém não só era íngreme, como estava fechado demais. Entendemos que teríamos de voltar um pouco, procurando a entrada correta, ou um local mais maleável para abrir nossa própria trilha com facão, o que não foi necessário. Na ida tínhamos passado sem notar por uma entrada de trilha (a 75m do cruzamento, lado esquerdo de quem sobe), e quando a achamos, tivemos certeza que seria ali.


Totalmente sombreada, ela corre paralelamente ao morro; e por experiência já esperávamos ter que abandoná-la, à certa distância, para subir à direita e alcançar a crista dele por onde fosse mais cômodo. A questão é se teria ou não alguma outra trilha para isso. O faro foi certeiro, e logo encontramos vestígios; o que nos permitiu começar a parte teoricamente mais “exigente” do percurso. É por esse trecho que recomendamos não visitar o Morro 4 sem a companhia de alguém que ao menos tenha certo conhecimento em exploratórias, ou um bom conhecimento em trilhas normais. Até alcançar a crista e avistar o cume, a passagem entre a vegetação exige mudanças de direção bruscas, o que confunde um pouco.


Saímos da mata mais alta e começamos a bordejar a florestinha da crista, tendo seguido à esquerda, com o cume por referência. A subida, então por relva mais confortável e com vestígios mais claros, era muito gradual e fazia o topo parecer mais próximo do que realmente estava. Por observações anteriores desde o Morro 2, sabíamos que ele era “fendido”, ou seja, tratava-se de dois cumes; e em ambos encontramos marco geodésico.


Do 1º deles, a trilha desce um pouco à frente e entra à direita numa matinha fechada, até sair no cume verdadeiro (1375m). Ali se tem uma das vistas mais lindas dessa serra. O Morro da Bocaina (1) parece que pode ser tocado com as mãos de tão amplo que se mostra, assim como os topinhos recortados ao sul dele. E à direita se vê o Morro 2; com destaque para sua 3ª crista. Os vestígios de trilha eram evidentes para além do topo, sendo provavelmente uma ligação dele com um dos “vizinhos”.


Álbum completo no Google Fotos:

Tendo subido em dia quente, nos deparamos com um tipo de mutuca grande que não conhecíamos. Só não eram tão numerosas quanto as que viríamos a enfrentar no 'terrível' Morro 5, duas semanas depois. Entretanto mostraram-se muito pouco eficientes; precisando que nós ficássemos parados para pousarem e nos picarem; diferente das mutucas do litoral e Serra Do Mar. Ocorreu então que às vezes estivemos cercados por elas, sem que tomássemos uma única picada. Não sendo assim, teríamos desistido e voltado correndo para a base.