Planejar
e realizar uma trilha exploratória ou semi-exploratória é algo que
reúne todas as sensações de um bom jogo de investigação. Em
algumas, os elementos de aventura fogem do controle, sufocam e não
“coadunam”; porém noutras como o Morro 4 da Bocaina, é como se
em vez do acaso, houvesse uma história inteira cheia de detalhes
esperando por ser praticada, tornando o percurso algo até
aconchegante a despeito das dificuldades. Anteriormente o 4 nos
parecia apenas uma crista do Morro 2, mas descobrimos que era um
morro independente, com uma vista central daquela serra. Nossa visita
aconteceu pouco mais de 1 mês depois de conquistarmos o 1 (Morro Da
Bocaina). Vale lembrar que nós somente os numeramos em ordem de
altitude como referência, pois exceto o mais alto, todos carecem de
nomes oficiais.
Para este artigo, ainda que o visitante não use GPS, é muito importante que ao menos observe o percurso completo neste mapa: https://www.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=19423486 e tenha a descrição seguinte como um apoio.
|
A
caminhada começa no mesmo ponto “de sempre”, em frente à
chácara Serra da Bocaina – estrada Eulisses Milani. Inicialmente o
percurso coincide com o trajeto para o Morro 2, ou seja, adentra o
trecho particular dessa estrada e segue por 990m
até uma bifurcação, onde se toma a direita. Por esta “quase
estrada”, anda-se 480m até nova
bifurcação à esquerda, conducente a dois casebres numa clareira,
onde se pensa haver gente; porém ambos estão se arruinando.
Para
além deles, o caminho vira trilha e chega num bonito riacho que
antecede uma cerca, sendo que depois dela parece não existir nenhuma
continuação. Ali não há pinus, e sim uma floresta nativa
emaranhada onde logo se percebe um labirinto de trilhas; no entanto a
distância do riacho até o seguinte caminho aberto é pequena; algo
como 50 a 60m. Tudo o que o passante deve fazer é escolher dentre
essas picadas, aquelas que continuarem levando-o na mesma direção
reta que vinha seguindo desde os casebres.
Irá
sair numa trilha transversal larga, em que deve tomar um pouco à
direita e logo entrará à esquerda por caminho mais aberto, na
subida. 200m
depois, estará num cruzamento de “estradinhas”, onde deve
escolher a da direita. Isto é bem perto do início da crista do
Morro 4; e nós acreditávamos que ao fim daquele caminho rural, a ascensão se daria bem pelo “bico” dela; porém não só era
íngreme, como estava fechado demais. Entendemos que teríamos de
voltar um pouco, procurando a entrada correta, ou um local mais
maleável para abrir nossa própria trilha com facão, o que não foi
necessário. Na ida tínhamos passado sem notar por uma entrada de
trilha (a 75m do cruzamento, lado esquerdo de quem sobe), e quando a
achamos, tivemos certeza que seria ali.
Totalmente
sombreada, ela corre paralelamente ao morro; e por experiência já
esperávamos ter que abandoná-la, à certa distância, para subir à
direita e alcançar a crista dele por onde fosse mais cômodo. A
questão é se teria ou não alguma outra trilha para isso. O faro
foi certeiro, e logo encontramos vestígios; o que nos permitiu
começar a parte teoricamente mais “exigente” do percurso. É por
esse trecho que recomendamos não visitar o Morro 4 sem a companhia
de alguém que ao menos tenha certo conhecimento em
exploratórias, ou um bom conhecimento em trilhas normais. Até
alcançar a crista e avistar o cume, a passagem entre a vegetação
exige mudanças de direção bruscas, o que confunde um pouco.
Saímos
da mata mais alta e começamos a bordejar a florestinha da crista,
tendo seguido à esquerda, com o cume por referência. A subida,
então por relva mais confortável e com vestígios mais claros, era
muito gradual e fazia o topo parecer mais próximo do que realmente
estava. Por observações anteriores desde o Morro 2, sabíamos que
ele era “fendido”, ou seja, tratava-se de dois cumes; e em ambos
encontramos marco geodésico.
Do 1º deles, a trilha desce um pouco à
frente e entra à direita numa matinha fechada, até sair no cume
verdadeiro (1375m). Ali se tem uma das
vistas mais lindas dessa serra. O Morro da Bocaina (1) parece que
pode ser tocado com as mãos de tão amplo que se mostra, assim como
os topinhos recortados ao sul dele. E à direita se vê o Morro 2;
com destaque para sua 3ª crista. Os vestígios de trilha eram
evidentes para além do topo, sendo provavelmente uma ligação dele
com um dos “vizinhos”.
Tendo subido em dia quente, nos deparamos com um tipo de mutuca grande que não conhecíamos. Só não eram tão numerosas quanto as que viríamos a enfrentar no 'terrível' Morro 5, duas semanas depois. Entretanto mostraram-se muito pouco eficientes; precisando que nós ficássemos parados para pousarem e nos picarem; diferente das mutucas do litoral e Serra Do Mar. Ocorreu então que às vezes estivemos cercados por elas, sem que tomássemos uma única picada. Não sendo assim, teríamos desistido e voltado correndo para a base.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário