Conquanto
figure no 5º lugar em altitude, o mais remoto morro da Bocaina, além
de não dever nada em beleza para os demais, corresponde a um terço
do comprimento desta serra, lembrando à certa distância uma chapada
ou mesmo uma linguiça, se visto no mapa. A estrada que lhe dá
acesso não é a mesma dos outros, e sim uma verdadeira “trilha de
jipe” que deveria ligar o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte
de Bocaiuva, sendo sazonalmente estragada pelos caminhões que
transportam toras. 4 meses depois de conhecer o primeiro cume na
Bocaina foi que felizmente conseguimos concluir o propósito de
chegar ao último, e este foi o mais trabalhoso.
Diferente
ao acesso de outros morros, ali se pode percorrer longa distância
sem sequer ouvir sons de gente ou de outros veículos. Só à pouca
distância, sem nenhuma colina na frente, é que pudemos ter o
panorama do lugar onde desejávamos estar dentro de poucas horas; ali então
mais variado em contornos e não apenas um "retão". O início da
caminhada é bem no "bico" da serra, adiante da curva mais
aguda da estrada. Em frente ao local onde deixamos o carro, corria a
água de alguma nascente próxima, e havia sido colocada uma
madeirinha em certo ponto para que fluísse como uma bica.
Deste ponto e do falso cume do Morro Da Bocaina (dir.) é que melhor se compreende as formas do Morro 5 |
Tínhamos a ponta do morro bem à nossa direita; ali a estrada já cortava um pouco seu barranco, e talvez por isso seria abrupta demais para que escolhêssemos uma subida direta. Pouco antes dessa curva mais fechada existia uma entradinha que em vez de subir, parecia seguir paralelamente ao morro, a qual na verdade já sabíamos que se desviaria dele cada vez mais. Assim mesmo o início dela era o ponto correto do caminho, porque nossa única necessidade foi passar ao largo do barranco mais íngreme, antes de começar a subir. Vimos que pouco adiante já estava melhor, e adentramos o mato à esquerda, tendo ali bastante facilidade.
O capim alto
intercalava alguns pinus perdidos, e com o calor aumentando surgiu uma
das maiores dificuldades daquele dia, as mutucas. Como mencionamos
sobre essa estranha espécie no artigo do Morro 4, apesar de elas
conseguirem picar através da roupa (igual fazem as da Serra Do Mar),
precisam que a vítima esteja parada; pois do contrário rondam
insistentemente sem nada conseguir. Na vez anterior isso não chegou
a ser um problema, porque onde elas mais existiam, nós não tínhamos
porque parar; visto que o calor era leve e exigência física,
moderada. Porém no trecho exploratório do Morro 5, a situação
rapidamente tornou-se uma sinuca, onde a mata que abríamos
era bem mais longa que o previsto, e o mormaço fustigava à medida
que se aproximava o meio dia.
Atingimos o
início da crista, e por ela seguimos tornando à direita, sem
vestígios de trilha e nem esperança de alcançar tão cedo o
descampado que imaginamos. Vencendo a capoeira
mais emaranhada na contínua subida, e enroscando em tudo quanto era raiz e galho,
notamos que as mutucas se juntavam num enxame. Alternávamos o
avanço eu e meu amigo, um estapeando as pernas do que estivesse à
frente; e quando eu tinha que parar para ver nossa posição no
aplicativo, dava a ele o galho que usava para espantá-las.
Felizmente tinha ali um parceiro de fibra. Foi um sufoco, porque se
marchávamos sem pausa, vinha o fogo da exaustão; e se parávamos,
vinha a luta contra elas.
A perspectiva
melhora depois do trecho em que a crista mais se estreita, inclusive
com vestígios de trilha; e finalmente chegam os campos de altitude
perto do falso cume, então com bem menos insetos. Já se descobre
desde ali a paisagem dos Capivaris até o Ibitiraquire. Apesar do
abafamento entre as moitas, por breves mas numerosas pausas me
atirava sem pudor ao descanso na relva, porque quase no topo só
sentia as forças diminuindo. Como uma ironia qualquer, o menos alto
dos "5 Bocainas" revelara-se o mais árduo.
As vistas
entre o cume principal e o falso, ou vice versa, e aquelas que
tínhamos para o morro 1 (Morro Da Bocaina) eram deliciosas. A
chácara menos distante, com seu açude contrastando à escarpa
florestada abaixo de nós; e uma certa serra no horizonte formaram a
mais bonita imagem daquele dia.
Lembrando o
alto do Capivari Grande, as picadas paralelas durante a volta nos
causavam enganos no trecho de floresta. Errávamos por pouco, mas
errávamos muito; principalmente quando entramos num rastro de trilha
um pouco mais forte quase na saída, que decerto vinha daquele único
sítio da região. Contudo não é a sensação dos percalços que
permanece, e sim a da conquista; o que fica são as imagens
todas, da ocasião em que finalmente tinha conhecido os 5 topos
daquela serra que tanto aprendi a gostar.
Álbum
completo no Google Fotos:
Aplicativo Soviet Military Maps | Google Earth |