A história da Serra da Virgem Maria é a história da divisa entre PR e SP. Havia anos que ninguém visitava a parte alta do Agudo Grande. A metade mais baixa sim, para extração de palha, madeira, caça… Palmito talvez não reste. A trilha existente até os 40% do percurso era para esse tipo de fim. Havia fotos, de 19 anos atrás, em rede social; mas no Youtube nenhum vídeo. No Google constava a marcação do local no Maps; bem como imagens dela vista de outras serras, inclusive algumas que eu tirei.
Nosso reconhecimento inicial foi a ida à cachoeira do Rio Barrinha, meses antes. Terreno bom, trilha aberta, impressão boa. Mas para o cume se chega via margem do Rio Pardinho. A virgindade do nome da serra não se estende ao aspecto ecológico, pois que onde não há copas altas impedindo a insolação, a taquara invasora permeia e ‘polui’ o terreno como um veneno seco.
Da BR-116 não se vê o topo exatamente, mas a primeira lomba, para além da qual conduz a picada existente. O rio Pardinho, que das culminâncias vem límpido, ali empoça até meio nojento antes de se estreitar para seu último trecho de descida. Nos charcos que parecem terra de ninguém, há madeiras postas como ponte sobre um fluxo de água, para marcar a presença humana. Depois de abandonar-se a trilha original, que não segue para o cume e teoricamente termina em áreas “vigiadas”, vem as dificuldades.
Se agora a subida maior é alcançável em pouco tempo, é porque na nossa investida final, os facões tiniram à exaustão, uma vez que não há teletransporte entre as taquaras. Vista norte da Serra do Ibitiraquire, vista pra rodovia, a vastidão de Guaraqueçaba no outro lado… Não precisa isso ser esmiuçado; não é um relato clássico, e as imagens já expressam.
Quase não tive ânimo para fotografar e filmar, só conseguia pensar na chegada de volta na chácara, nas horas de escuro que passaríamos, em sair do trecho bravio antes de precisar pegar a lanterna. Antes disso pensava em descer daquela pedra complicada onde estávamos sem me estabacar, tampouco meus dois colegas.
“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.” Fazer aquilo uma outra vez para melhor aproveitar, recreativa e “fotograficamente”? Para plenamente atender um sonho que não era meu? Pensava esse morro só para o ano seguinte; e foi certa dívida de gratidão que o adiantou, mas ali era meu limite. Numa parada em um posto para o lanche na volta, um frio anormal, um frio de cansaço antes de retornar ao carro, aumentava a reflexão da autoexigência excessiva daqueles dias.
Não é coincidência esse morro ter passado anos sem interessados, e logo um ou dois meses depois da nossa ida ter ido outro grupo. O tracklog que postaram é via SP, com trecho no leito do Rio Pardinho, até a oportuna convergência com nossa trilha. Bastava ter subido antes para a margem paranaense e a dificuldade teria sido evitada.