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sábado, 10 de setembro de 2022

Pico Agudo Grande - Serra Da Virgem Maria

A história da Serra da Virgem Maria é a história da divisa entre PR e SP. Havia anos que ninguém visitava a parte alta do Agudo Grande. A metade mais baixa sim, para extração de palha, madeira, caça… Palmito talvez não reste. A trilha existente até os 40% do percurso era para esse tipo de fim. Havia fotos, de 19 anos atrás, em rede social; mas no Youtube nenhum vídeo. No Google constava a marcação do local no Maps; bem como imagens dela vista de outras serras, inclusive algumas que eu tirei.

Nosso reconhecimento inicial foi a ida à cachoeira do Rio Barrinha, meses antes. Terreno bom, trilha aberta, impressão boa. Mas para o cume se chega via margem do Rio Pardinho. A virgindade do nome da serra não se estende ao aspecto ecológico, pois que onde não há copas altas impedindo a insolação, a taquara invasora permeia e ‘polui’ o terreno como um veneno seco.

Da BR-116 não se vê o topo exatamente, mas a primeira lomba, para além da qual conduz a picada existente. O rio Pardinho, que das culminâncias vem límpido, ali empoça até meio nojento antes de se estreitar para seu último trecho de descida. Nos charcos que parecem terra de ninguém, há madeiras postas como ponte sobre um fluxo de água, para marcar a presença humana. Depois de abandonar-se a trilha original, que não segue para o cume e teoricamente termina em áreas “vigiadas”, vem as dificuldades.

Se agora a subida maior é alcançável em pouco tempo, é porque na nossa investida final, os facões tiniram à exaustão, uma vez que não há teletransporte entre as taquaras. Vista norte da Serra do Ibitiraquire, vista pra rodovia, a vastidão de Guaraqueçaba no outro lado… Não precisa isso ser esmiuçado; não é um relato clássico, e as imagens já expressam.

Quase não tive ânimo para fotografar e filmar, só conseguia pensar na chegada de volta na chácara, nas horas de escuro que passaríamos, em sair do trecho bravio antes de precisar pegar a lanterna. Antes disso pensava em descer daquela pedra complicada onde estávamos sem me estabacar, tampouco meus dois colegas.

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.” Fazer aquilo uma outra vez para melhor aproveitar, recreativa e “fotograficamente”? Para plenamente atender um sonho que não era meu? Pensava esse morro só para o ano seguinte; e foi certa dívida de gratidão que o adiantou, mas ali era meu limite. Numa parada em um posto para o lanche na volta, um frio anormal, um frio de cansaço antes de retornar ao carro, aumentava a reflexão da autoexigência excessiva daqueles dias.

Não é coincidência esse morro ter passado anos sem interessados, e logo um ou dois meses depois da nossa ida ter ido outro grupo. O tracklog que postaram é via SP, com trecho no leito do Rio Pardinho, até a oportuna convergência com nossa trilha. Bastava ter subido antes para a margem paranaense e a dificuldade teria sido evitada.

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quarta-feira, 18 de abril de 2018

Crista Norte Do Capivari Mirim


Descobrir no morro Capivari Mirim a existência de uma trilha alternativa, que confluía com o caminho principal somente 750m antes do cume, foi uma ideia que teve origem em 3 diferentes desconfianças. Tempos atrás havia reparado numa proeminente ponta rochosa, visível desde a BR-116, no ponto de ônibus do bairro Barragem, semelhante a certa extremidade que existe no Capivari Grande. Essas arestas costumam ter boas vistas, e comecei a imaginar como chegar nela por cima. Nas vezes que percorri a trilha principal, tão cheia de poeira e pedriscos, desagradável na descida, reparava ao longe a crista paralela, com a impressão de ter um aclive menos forte. A 3ª (e maior) suspeita foi noutra vez que tentei chegar à Cascata Do Ribeirão Vermelho, por um desvio alto, buscando evitar a passagem pela propriedade particular que lá existe. Utilizamos um vestígio de picada que 'continuava' para cima, além do ponto onde nos interessava descer ao rio.



A linha vermelha é a Crista. Trilha normal (2011)
Num domingo nublado qualquer, decidimos resolver essa curiosidade, partindo não do Ribeirão, mas da base da trilha convencional, onde se deixa o carro. O riachinho paralelo ao início do percurso abastece agora duas caixas d'água mais abaixo, que atendem as casas vizinhas. Nesse estreito trecho de floresta, sempre vimos bifurcações de trilhas que levam à outra parte do povoado, em que se encontra o Ribeirão vermelho. Chegando no início da crista que nos interessava, o caminho era bem mais pisado do que esperávamos, sendo apenas camuflado pelos tufos de mato. As chuvas dos dias anteriores tornaram mais barulhento o vale à nossa esquerda, cujo leito um dia conheci até a nascente. À direita víamos cada vez mais os contornos bonitos da face por onde passa a trilha normal. Inicialmente sem obstáculos, nossa subida era longa e contínua.


Perto do bico rochoso que me chamara a atenção, quase todas as pedras grandes eram desviadas pela esquerda; não havendo em nenhum ponto o risco de queda. As imagens de satélite mais antigas do morro mostram que seu caminho usual foi outrora uma estrada, no começo da subida, e talvez por isso consolidou-se como via única para os trilheiros, porque do contrário a Crista Norte é que o seria, graças a suavidade do desnível. O tempo naquele dia nos traiu, e justo no lugar mais interessante, as nuvens cobriram tudo. A trilha passa para trás das rochas, e inflete à direita buscando encontrar-se com a outra. Por bobeira começamos a subida seguinte por uma linha reta, quando o correto seria acompanhar os vestígios para contornar o "bojo", mas isso não nos roubou muito tempo.


O encontro dos caminhos é aproximadamente nos 1430m de altitude. Sob densa névoa, seria vão continuar até o cume – um dos que mais vezes já visitamos. Dali descemos pela via convencional, e esticamos o passeio até as cachoeiras do Capoeira, que meu amigo ainda não conhecia. Mas ter confirmado aquela nova rota valeu muito; creio até que nas próximas vezes no Mirim vou preferi-la sempre.