terça-feira, 6 de outubro de 2015

Guia Eco Verão


Não é de hoje que o litoral paranaense, por ter a sua população multiplicada durante cada veraneio, recebe do governo os recursos e as atenções correspondentes, na forma de operações sazonais voltadas ao turismo, do qual toda a sua economia depende. Num recente passado, em tempos de orelhões cor de laranja e dólar a R$1,16; a então operação Eco Verão (que atualmente perdeu o "Eco") trazia consigo além de policiais e bombeiros, um guia informativo gratuito mais completo e de mais alta qualidade gráfica que os distribuídos nas últimas temporadas. Um compêndio descritivo de várias atrações dos 7 municípios denotava os melhores esforços de quem o elaborara, a fim de que o veranista dispusesse de todos os conhecimentos para desfrutar e gastar nas nossas praias.

Outrora facilmente acessível, a edição de 1998 hoje é quase rara, encontrada somente em alguns sebos - de um dos quais agora trago em duas formas.

Baixar pelo link:

Visualizar no navegador, com qualidade um pouco menor em:
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A qualidade das imagens não é 100%, mas todo o conteúdo está presente. Nessas 117 páginas, uma versão bem ampliada da de 1997, há algo de muito nostálgico especialmente para quem conheceu e curtiu o litoral do Paraná àquela época.


As imagens que o ilustraram foram desenhadas por um artista de talento, que juntava as representações dos locais numa maneira bem parecida com a que faz nossa imaginação ou memória afetiva sobre determinada região; e todos os seus elementos, desde os ícones, pareciam estrategicamente criados para instigar nossa vontade de aproveitar cada ponto turístico.


Uma enormidade de atrativos do litoral, talvez por desconhecimento, estavam ausentes; e algumas descrições continham informações imprecisas; mas por outro lado constavam alguns que, de tão "longínquos", são ainda hoje pouco conhecidos da maioria dos turistas, como o Rio Pasmado e a Serra Gigante. As histórias dos caminhos coloniais, por exemplo, que foram tema inicial desse blog, traziam uma linguagem vagamente semelhante à do livro de Júlio Estrela Moreira, quem por sua vez tivera como fonte maior as "Memórias Cronológicas" do historiador Vieira Dos Santos, (Séc. XIX).


É perceptível que nos guias dos anos seguintes, geralmente mais simples e sucintos, o padrão dos textos é basicamente o mesmo, inclusive nas imprecisões. E talvez ainda hoje muitos litorâneos não lhe façam caso, descartando-o às vezes como folheto de propaganda. Mas quem ainda tiver outros materiais turísticos do litoral, anteriores ao ano 2000, e deseje compartilha-los, é favor entrar em contato com o e-mail gomes681@gmail.com

Passado algum tempo, também tive acesso à versão de 1997; e aqui está para download (.rar):


Não sendo muitas páginas, o arquivo tem pouco menos de 5Mb. E este é o link para leitura online (menor qualidade):


Em 1997, para um olhar curioso, um "mundo" cabia nessa imagem...


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Caminho Do Arraial


Um dos principais caminhos coloniais que faziam a ligação entre o litoral do Paraná e o altiplano onde Curitiba se situa, o Arraial foi via importante por onde passou a história do estado, sendo partícipe na sua formação e na sua identidade. Anteriormente com 10,75 léguas, ou 53,7 km, seu calçamento de pedras enveredava a Mata Atlântica no enorme desnível da Serra do Mar, unindo o atual município de São José Dos Pinhais com o Porto Fluvial Do Padre Veiga, em Morretes, por onde circulavam as mercadorias vindas ou destinadas ao trânsito marítimo. Palco por três séculos e meio de aventuras, dores e fortunas, fora em tempos pré-cabralinos possivelmente uma picada por onde a nação indígena Carijó se deslocava, ora à baixada na época de mariscos, ora de volta ao planalto na época do pinhão.


A despeito de tal origem, nunca constituiu um “ramal” do Caminho do Peabiru, como levianamente se divulga; tampouco uma simples “estrada dos Jesuítas”. Degradado hoje por obras estruturais e pelo imerecido esquecimento, representa um valioso patrimônio paranaense relegado ao longo de alguns quilômetros de floresta. Deu também origem a este blog, cuja intenção antes dos relatos de trilha seria tratar sobre história. Depois da tentativa frustrada, em 2013, de encontrar seus trechos preservados (como citado noutro artigo), fizemos novas visitas aos seus arredores, durante as descobertas das cachoeiras 1 e 2 da parte alta do Rio Fortuna; e também as do Rio Da Serra. As mesmas pessoas que nos orientaram sobre esses rios acabaram esclarecendo detalhes do Caminho Do Arraial. Passados alguns anos, este artigo deixa de ser um resumo histórico com um parêntese sobre a descrição atual, e passa a ser um relato da trilha atual, com um longo parêntese sobre sua história.




De tudo o que restou, o Arraial ao sul da BR-277 e o Arraial ao norte dela são dois mundos diferentes. Menções aos possíveis trechos calçados incluem descobertas feitas no tempo dos estudos para criação do Parque Guaricana. Nunca pisamos no lado sul; esperamos fazê-lo um dia, e imaginamos que seja uma paisagem de planalto rural, bucólica e tranquila como os demais interiores de São José Dos Pinhais. Já o lado norte, a descida da serra, é o contrário; um florestão perpetuamente disposto a fazer sumir o calçamento existente. Tendo o oleoduto OLAPA como o "eixo" do passeio, percorremos 2 dos seus prováveis 5 trechos, totalizando 1,79Km que são a parte em que se pode andar sem grande dificuldade.

Acesso

Começo da descida
Iniciamos na 1ª estrada de servidão da Petrobras, pois nossa intenção era andar noutra parte do calçamento desde cima, o que não foi possível por estar a mata muito fechada, e dessa forma acabaríamos gastando todo o tempo disponível numa só parte do trajeto. Descemos pela faixa de servidão até o Rio Da Serra, onde mostrei à minha amiga a cascata mais próxima, e logo seguimos para a entrada do trecho maior do Arraial, único que conhecia desde pouco tempo. A localização de cada coisa, assim como as distâncias e aquilo que presumimos ficarão bem claros no mapa seguinte. Estava bem mais limpo que na vez anterior, mas foi só nos 320 primeiros metros até a torre da linha de transmissão, creio eu, para uso dos funcionários da Copel. É interessante pensar que os séculos passaram, e o caminho continua sendo útil para alguém.


E tão roçado estava, que foi possível ver e ouvir ao longe o Salto Da Fortuna e as outras duas cachoeiras acima dele. Em seguida cruzamos um breve pedaço de floresta que separa ambas linhas de transmissão; e sob a segunda delas encontramos o bananal onde a trilha se torna bastante intrincada, antes de retomar a descida. Esta é a única parte que pode confundir um pouco. Entre a reentrada na floresta e a chegada na trilha do Fortuna, pode-se dizer que é o centro do passeio. Em trilhas antigas percorridas por mulas, mesmo as que não chegaram a ser calçadas, observa-se frequentemente que ao menos uma das laterais é mais alta, como se o caminho tivesse sido abaixado e aplainado. E de quando em quando, passa-se por vestígio de escoamento de água, na lateral oposta. Cuidar tal detalhe é garantia de não sair da rota certa, mesmo havendo várias curvas e trechos onde a folhagem cresceu.



Antigo engenho de mate
O mesmo Rio Da Serra por onde passamos antes curva-se para encontrar o Fortuna, e no final da descida é o seu ruído que predomina, quase abafando o de um filete d'água que existe à direita da trilha. A 75m de distância dela, no lado esquerdo, há uma vala murada que é o que restou de um dos beneficiamentos de erva mate da região. Mal aparece o vestígio até ele; a mata já quase o engoliu. Quando inteiro, o Arraial virava um pouco à direita e seguia até o segmento conservado que hoje se conhece. Mas infelizmente houve um desmoronamento, sabe-se lá em que época, obrigando os passantes a usarem um curto desvio um pouco duvidoso até alcançar a trilha do Fortuna. Nela fomos até o 1º cruzamento de rio, mas só para descansar um pouco pois naquele dia tínhamos receio de cabeça d'água; e até já estava garoando um pouco.


Já na parte preservada, lembro o que senti quando anos atrás pisei aquelas pedras pela 1ª vez; toda a curiosidade e desconfiança de que talvez nunca chegasse a conhecer sua continuação, tanto para cima, quanto para baixo. Esta era a parte que então faltava, e sem saber em que condições a encontraríamos, tínhamos o desafio de percorrê-la inteira, até a saída de volta no oleoduto. Facão ali é cômodo, mas nem de longe é necessário; há bastante espaço para andar, e até mais da metade da distância, a lateral alta na direita é bem reconhecível. Até que aparecem vestígios para a esquerda, em terreno mais lamacento e sem pedras, resultando numa trilha estreita cujo sentido era o que queríamos, de modo que saímos na faixa de servidão.

Parte preservada que coincide com a trilha do Salto Fortuna. Na 4ª imagem, a entrada da continuação, rumo ao oleoduto.

Foi-nos dito que do outro lado dela há um último trecho em pior estado, que seria necessário investigar de baixo para cima, por assim ser menos complicado. Não estava roçado o mato, no que nos restava para andar no oleoduto, mas havia uma picada nele; e em pouco tempo cruzamos o início da trilha normal do Fortuna, para em seguida chegar ao Sítio Vanessa. Lá viríamos a conseguir uma carona. A caminho do centro de Morretes, sabemos da existência de pelo menos uma casa em cujo terreno ainda existem pedras do Arraial. Parece até algo recente, uma calçada comum. Dos remanescentes deste caminho que fez parte da história de tantos homens e mulheres do nosso estado, é justo ali onde corre o menor risco de ser destruído.