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terça-feira, 8 de agosto de 2017

Serra Da Bocaina - Segunda Parte


O Cume Do Morro 2

Ao cabo de 15 dias, pela primeira vez tive parceiros otimistas o bastante para não cancelarem uma trilha em face a uma manhã de garoa. Por sorte ela cessou antes de chegarmos, deixando apenas um véu de nuvens que não frustraria o passeio, embora nos furtasse a vista.

3 visto do 2

No mesmo acesso do Morro 3 é possível deixar o carro, pois a estrada encontra logo uma porteira desde a qual já é Fazenda Turbay; (este nome está indicado numa das placas do início). Há umas poucas casas dentro da propriedade, que aparenta mais ser de lazer em vez de produção; e assim como na fazenda anterior, também são tolerados os visitantes. Passa-se pela porteirinha lateral – de pedestres – e segue-se pela estrada, mas não até a última porteira, porque lá já pertence ao reflorestamento Madrigal. "Certa mágoa" guardamos desta empresa.

Colina Leste

Os pinus começam a aumentar na paisagem, apesar de ela ser melhor permeada por mata nativa do que em outros municípios. 990m depois da porteira, toma-se a direita num caminho que já foi estrada, e ali eram descidas as toras. Andando por ele, quase não há equívocos; sendo o mais relevante um córrego sem ponte, onde é melhor molhar as botas do que saltar entre as margens. Anos passaram, e a erosão nalguns trechos da antiga via foi tão violenta que os sulcos hoje existentes superam 2m de profundidade. Já nos 1430m de altitude aparece entrada para a direita; um caminho curvo até a clareira do cume, o qual marca 1456m (contra os 1434m mostrados pelo Google Earth).

3ª Crista (mais alta) atrás de partes da 2ª (na esquerda)

Parte da descrição seguinte deve-se à nossa 2ª visita, porque na 1ª só enxergamos neblina. Os arbustos em torno do topo são altos e de qualquer forma limitariam um pouco a paisagem; a não ser pelo Morro 3, que visto dali parece bem mais gracioso que da base. Para o lado oposto, o que se espia é um esboço do maravilhoso cenário descortinado desde as cristas à frente, nas quais só pisaríamos semanas depois. Alguns morros são assim mesmo, têm melhores mirantes fora do cume do que nele próprio. E se antes o caseiro do 3 disse a nós que o visual do 2 era menos interessante, deve-se provavelmente a que ele só conheça o percurso até a clareira.

A 1ª crista (de onde se tirou essa foto) é a única que "só desce"




Descoberta Das Cristas E A Constatação Do Morro 4

Vestígios de trilha e o fim da estrada eram tudo que sabíamos existir depois da bifurcação para o cume. E não mais que uma borda com vista estratégica para o 1 esperávamos encontrar na nossa 2ª visita, quase “acidental” ao morro 2, (ensaiando talvez um ataque ao objetivo maior). Mas o que vimos ao entrar pela esquerda e descer por uns 300m foram (inicialmente) duas ondulações, oblíquas ao caminho, descampadas no topo e separadas por uma faixa de mata.

Morro 4 visto da base

Daquele ínterim, o Morro Da Bocaina já mostra toda a sua graça, chega a lembrar de longe o Pico Paraná, com os outros topinhos parecendo o Camelos. Quanto mais descíamos pela 1ª crista, melhor era a vista para ele, e mais profunda era a separação entre ela e a 2ª. Ali também fomos, contornando a grande fenda pelo caminho principal, e entrando novamente à direita até chegar em cima. Só então descobrimos que eram 3 e não duas as cristas, pois logo enxergamos a última.

3ª crista e Morro Da Bocaina ao fundo

Tudo lá ainda pertence ao morro 2, e embora fendidos, seus relevos compõem um mesmo bloco. Entretanto de lá atestamos a existência de um outro maciço, mais baixo e de certa forma abrupto, suficientemente separado do 1 e do 2 para ser numerado como “Morro 4”; conforme os 1348m de altitude indicados pelo Google. Outra suspeita nossa aproximou-se da confirmação, quando ouvimos não tão longe o chiado de uma queda d'água entre os precipícios no começo do Rio Passa Vinte.


O abismo é bordejado por indícios de um caminho rumo à crista 3; mas o vale que a antecede tem também alguma profundidade, sendo suave na descida, e simplesmente terrível na subida oposta. Uma das causas é certo musgo avermelhado que enfesta a escarpa, e sugere o tempo todo que o chão despencará conosco junto. Chegar ali serviu para vermos que o caminho completo de travessia da serra não era apenas um mito, já que estávamos pisando nele; mas galgar o Morro 1 sem arriscar tanto o grupo custar-nos-ia um raciocínio melhor.



Os Dilemas Antes Da Conquista

O "dia D" aproximava-se, mas antes disso teríamos que enfrentar transtornos e dificuldades. Toda ou quase toda a base noroeste/norte do Morro Da Bocaina pertence à Madrigal; e justo o ponto ideal do nosso planejamento passava por ela, sendo que a entrada não é autorizada. A face oposta, sudeste, é de floresta densa com penhascos "violentos", os quais já notávamos desde a passagem pela estrada do Passa Vinte, na ida à Cachoeira do Potunã.

1 visto da base

 Tínhamos menos referências visuais dele do que gostaríamos para achar uma solução, e restaram a princípio duas opções, sendo a 1ª delas o seguinte: Insistindo na travessia 2 – 1, tentaríamos chegar mais por baixo à crista dos musgos, mesmo sem vestígios de trilha, e desceríamos uma ladeira forte para depois fustigar o facão na floresta do vale, ressurgindo dela pelo lado oposto. Mas figurar a série de dificuldades que poderíamos encontrar nesse trajeto, e como elas martirizariam o grupo, (além da alta chance de um revés) fizeram-me quase descartar a ideia.

Morro 4

A outra opção seria pelo norte, pela estrada que liga o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, percorrendo o desconhecido Morro 5, cujo vale em direção ao 1 mostrava-se mais suave. Tudo o que sabíamos dele é que se tratava de uma verdadeira linguiça, por ser comprido, diferente dos demais; lembrando de longe uma chapada. Mas tal acesso trouxe-nos grande frustração, demonstrando ser intransitável (naquele então) para carros comuns, o que nos forçou por duas vezes a abortar o plano e ir aproveitar o dia com outros morros, um dos quais, o Maior Da Serra De Santana.

Morro 2

Se reparariam ou não a estrada, ao ser perguntado, o sec. de obras de Bocaiuva pouco pareceu se importar. Estávamos pois, diante da possibilidade triste de desistir, já que tudo parecia lutar contra. Por um motivo complicado, não podemos dizer exatamente qual escolha fizemos; o que nos leva a suprimir parte da descrição, e relatar direto do ponto onde iniciamos nosso ataque final ao morro, no dia 22 de Julho.

BR-116 ao longo da base dos Capivaris


A Vitória Da Expedição

Ao fim de uma estrada rural nos 1200m de altitude, depois de uma boa caminhada, tínhamos à nossa direita um barranco florestado de onde o cume não era visível, mas já de longe o acompanhávamos. Pinheiros ali existiam, mas não eram a maior parte da floresta, e tanto o solo quanto a vegetação estavam algo ressecados pela estiagem.

Ibitiraquire

Esse trecho não era tão íngreme, e conseguimos abrir sem facão; apenas usei as luvas, e quem veio logo atrás fazia as "correções" com um bastão. Saímos num topinho descampado de onde então conseguimos ver bem todo o caminho faltante até o cume, mas precisaríamos descer um pouco e passar por outra florestinha, essa totalmente nativa, aparentemente mais densa. Para nossa surpresa, a trilha ali existente estava até bem aberta, diferente dos vagos vestígios que vínhamos vendo.


A crista que escolhemos para caminho, e que delineamos no Google Earth para ter como referência na nossa investida era um tanto óbvia; e muito provavelmente quem quer que já tivesse subido aquele morro, seja trilheiro ou morador da região, escolheria passar por ela. Desde a saída das árvores, a picada quase se desvanece; e o que se vê é uma longa subida para a esquerda. Isso porque o trajeto direto seria quase impossível, uma vez que cruzaria outro valezinho íngreme, (com subida final quase ereta). A caminhada vai ficando mais lenta; tudo enrosca, tudo faz tropeçar; o capim grosso aberto com as coxas vai cobrando aos poucos boa parte da reserva de energia. Andávamos nesse ponto olhando para baixo, como para reforçar a concentração na própria resiliência; inclusive no meu caso pelos "repuxos" que sentia no peito em razão do cansaço.

Morro 5

Apenas no vértice da crista é que se consegue passar com conforto para o seguinte patamar. Pouco antes dali o Morro 5 já mostrava seus contornos; é muito mais robusto do que parecia da estrada ou do satélite. A linha divisória entre suas faces sudeste e noroeste é menos retilínea do que imaginamos, e o lado florestado é um verdadeiro paredão. Imagino como deva ser o cenário visto da chácara que tão minúscula nos parecia do alto, a única daquela região, onde antes teríamos pedido para deixar o carro se a estrada não nos tivesse impedido na outra vez. Todo aquele lado, início da bacia do Potunã, considero o mais bonito da paisagem que se tem desde o Morro 1.


Passando este topinho, cujas rochas ao fim da dura subida foram como poltronas para o nosso descanso, há apenas um patamar antes do cume, com pouco desnível. Embora esteja 1,2m abaixo dele, possui um marco geodésico; e entre ambos topos encontra-se uma matinha que é contornada à direita pela trilha. Mais alguns instantes, e enfim pisávamos aquele solo a 1501,5m de altitude, comemorando com alarido o êxito de tantas semanas de expectativa. O ponto culminante de toda a região fora da Serra Do Mar, que momentos antes era apenas um nome numa carta topográfica, bem pouco conhecido no círculo social do nosso esporte, poderia então ser trazido a público nestes detalhes.


Notas Posteriores

1 A parte restante do relato da expedição de 56 encontra-se neste link: http://www.mediafire.com/view/6d8wr8a9eroiser/Segunda%20Parte%20Do%20Relato%20-%201956.jpg#
2 – Encontramos também o relato de Ermelino De Leão, de 1928: http://www.mediafire.com/view/p59qauz2ff74lsi/Relato%20De%20Ermelino%20De%20Le%C3%A3o.jpg#

3 – No último fim de semana de agosto viemos a alcançar também o cume do Morro 4: http://caminhodoarraial.blogspot.com/2017/09/morro-4-da-serra-da-bocaina.html

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4 – E em Setembro finalmente conseguimos visitar o Morro 5: http://caminhodoarraial.blogspot.com/2017/09/morro-5-da-serra-da-bocaina.html

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5 – O Morro 3 também é chamado Morro Da Cruz ou Morro Do Cruzeiro. Infelizmente a serra vem sendo chamada de Cordilheira Secreta ou Serra Do Potunã, bem como o Morro 2 de Morro Da Sempre Viva, e o Morro Da Bocaina de Pico Potunã, não por uma liberalidade de se os batizar, mas pelo uso de termos próprios a fim de evitar concorrência à sua atividade ecoturística; uma vez que estes mesmos nomes não são encontráveis em outras fontes de pesquisa.

6 – Links para os álbuns completos no Google Fotos: Morro Da Bocaina (84 fotos); Morro 2 (81 fotos); Morro 3 (99 fotos) e Cachoeira do Rio Bocaina (28 fotos).

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Serra Da Bocaina - Primeira Parte

Uma formação montanhosa homógrafa a certa serra paulista e fluminense, distante 45km de Curitiba – mas quase totalmente desconhecida até então da maioria dos trilheiros do estado – constitui o ponto mais alto de toda a região fora da Serra Do Mar do Paraná. Seu pico maior, o Morro Da Bocaina, supera quaisquer altitudes do 2º e 3º planaltos, e para efeito de comparação, mesmo a Farinha Seca, Canavieiras e Baitaca, na Serra Do Mar, não igualam seus 1501,5m.


Uma mera observação ao subir as encostas do Capivari Mirim, em dia de forte calor, abriu nossos olhos para esse novo horizonte, de uma bela e acidentada silhueta que era alta demais para ser apenas simples colinas perdidas no relevo de Bocaiuva do Sul ou Tunas do Paraná. E embora já nos desviássemos do eixo habitual do montanhismo, a Bocaina foi motivadora das muitas trilhas (ao norte da capital), que divulgamos neste blog; sendo este talvez o artigo mais importante de todos até aqui.


É composta por 5 morros principais, sendo que apenas o maior deles tem nome conhecido pelos moradores do entorno, ou inscrito em mapa; razão pela qual os referimos de ora em diante como números em ordem decrescente de altitude, para fins de descrição, tal como exposto na imagem a seguir. Por vezes o próprio Morro da Bocaina também será mencionado como “1”, comparativamente. Além deles, existem duas elevações menores – leste e sudoeste – as quais tratamos por “colinas”.

Característica comum a outras serras desta região, sua base noroeste é mais alta e relvada, com maior presença humana, enquanto a vertente sudeste é coberta por floresta; com inclinações que em alguns pontos chegam a ser penhascos.

Antes da finalidade de descrever suas trilhas conforme as conhecemos, cabe mostrar uma foto rara – acompanhada pelo relato – do reconhecimento feito na Bocaina em idos anos 50 durante a "1ª Expedição Científica À Serra De Paranapiacaba E Ao Alto Ribeira" pelo grupo do Coronel João De Mello Moraes e Major Sinval Pinheiro, ambos do Serviço Geográfico do Exército.

Empreenderam esta viagem entre janeiro e abril de 56, tendo seu trabalho republicado pela Revista Brasileira de Geografia, edição abril - junho de 57. Naqueles tempos pioneiros, a região também foi sondada pelo historiador Ermelino De Leão e provavelmente pelo geólogo Reinhard Maack. [Cortesia da biblioteca do IBGE em Curitiba.]

No dia 13 de maio desse ano (2017), depois de muito planejar, iniciamos o intento de conhecer os 3 principais morros deste conjunto, e a partir aqui retratamos como foram as investidas.

Morro 3 – Reconhecimentos E Primeiras Impressões

Entrada
Com altitude semelhante ao Tapapuí, o Morro 3 é a porta de entrada da Bocaina, não somente por ser o 1º visto da estrada, mas por ser o único inteiramente acessível de carro (4 x 4) e estar dentro de uma propriedade bastante hospitaleira. Vindo de Curitiba pela BR-476, passados 1,6 km da pousada Valle do Ribeira (Ribeirão Das Pedras), entra-se à direita na estrada Eulisses Milani, (com trajeto em boas condições), e segue-se por aprox. 7,4 Km até a Fazenda Serra Da Bocaina, constante em carta topográfica. Pouco antes da porteira principal no lado oposto da rua, vive o irmão do caseiro, ante cuja casa nos foi permitido deixar o carro durante nossas 4 idas.

Passagem do 3 para o 2

O que então se vê é um morro comprido, cujo cume está um pouco para trás, e de início aparenta ser mais baixo do que é. Para chegar ao caseiro, entra-se por uma porteirinha a 70m da principal, e passa-se junto aos animais, que são mansos (inclusive os bovinos). O local pertence a um empresário do ramo de transportes, e parece ter uma produção relativamente pequena, em face de sua extensão. Ser o caminho por uma estrada pode dar a impressão de que a serra toda é um lugar fácil e confortável, mas não demoraríamos para conhecê-la de verdade. Por coincidência, quando lá chegamos, o caseiro e sua esposa também iam para o cume, e nos deram carona na caçamba de uma Toyota, resultando numa experiência ruim para alguém do nosso grupo, embora aos demais fosse bem divertido.


A paisagem ao redor começa a causar admiração; encontra-se desde o entorno da Estrada da Ribeira, a Serra De Santana, e os morros perto de Tunas. Para o norte e nordeste estava a nossa grande curiosidade de como seriam os morros 2 e 1, (deste só avistamos a silhueta). O 2 é o que se vê mais bonito dali, com aquele aspecto de "gominhos" por entre os recortes nos pequenos vales onde flui a água das chuvas. Dentre os morros "conhecidos", o menos distante dali é o Capivari Mirim, e assim mesmo são mais de 20km em linha reta. Isso não impede de se ter um panorama privilegiado de toda a Serra do Mar, como se desde a 1ª fila de uma plateia observássemos um palco.

Guaricana

A altitude mostrada no GPS supera um pouco os 1430m. Há um muro baixo que circunda alguns metros do cume, e nele uma cruz, sendo que adiante encontra-se trilhas entre os arbustos. Ao final deles, numa relva baixa é possível avistar detalhes de uma crista do Morro 1; e só então foi que começamos a notar como ele é impressionante. O que do Google Earth se afigura como uma sucessão de relevos não tão recortados é na verdade uma sequência de topinhos íngremes com feições bem mais "hostis" do que imaginamos. Contou-nos depois o irmão do caseiro algo que já era de se supor, a existência de uma trilha entre os cumes do 3 e do 2.


Muito bom visual também se tem num topinho, à direita de quem está retornando do cume. Já à esquerda percebe-se a crista longa e relvada que termina no vale ao início da Colina Sudoeste, quase "pedindo" para também ser percorrida. Existe outra estrada, um pouco paralela à principal, que também desce à fazenda, mas voltamos pela que já conhecíamos. Neste dia ainda nos faltava por visitar uma queda d'água 'deliciosa' que observamos na imagem de satélite, e que veio a ser parte importante desse passeio.



Cachoeira Do Rio Bocaina

Descrito em algumas referências como Arroio Águas Amarelas (tal característica não notamos muito), o Rio Bocaina é afluente do Passa Vinte, e tem nascentes tanto nos morros 2, 3 e 4, quanto nas colinas do outro lado da Eulisses Milani. Vem a completar o laurel daquela fazenda com uma das mais bonitas cachoeiras existentes nos entornos da capital. Ao fim da descida, entramos à esquerda numa estrada interna que logo se aproxima do rio, estando quase paralela. Este corre para o sul, e a 1ª das suas quedas encontra-se a 1km de distância da casa do caseiro, enquanto a 2ª está a aprox. 2km.

Queda maior

Há no caminho uma porteira sem cadeado, e a queda menor fica pouco adiante dela, à direita; desde onde se desce por degraus de pedra. Se a intenção for só o banho, ali já será satisfeita. Mais perto da cachoeira principal, o vale onde o rio passa começa a parecer cada vez mais profundo. A estrada termina numa clareira, e bem na sua borda inicia outra escadaria, que é bem mais longa que a anterior. Ouve-se bem o rumor da água desde o 1º degrau; e ela começa a ser visível na metade da descida. Tem uma boa altura; seu poço não é fundo, e seria impossível não entrarmos nela, caso aquele não fosse um dia frio.


 Tínhamos dado o 1º passo na descoberta da Bocaina, e depois desta vez, alternamos as investidas com outros morros descritos no blog, como foram o Lorena, Betara e Baleia. As idas seguintes e seus resultados são descritos na 2ª parte deste artigo.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Cachoeiras Do Rio Itararé

Procurando resolver certa dúvida com a carta topográfica “Pedra Branca Do Araraquara”, tempos atrás me surpreendeu a informação “de mão beijada” sobre a existência de uma cachoeira no Rio Itararé (divisor entre Tijucas Do Sul e Guaratuba), num ponto ao norte da BR-376, cuja margem oposta dá acesso ao Morro dos Perdidos. Não a famosa (ou melhor, as famosas) que ficam dentro da propriedade, e que são o complemento ideal para o passeio no cume, mas outra, nominada “Cachoeira Dos Jesuítas”. Fato raro, pois quando muito encontra-se nesses mapas apenas um tracinho situando a queda, ou às vezes uma desinteressada abreviação “Cach”, como foi o caso da Colle, em Quatro Barras.


Antes de formar a atraente visão que se tem até mesmo da estrada, o rio Itararé desce a floresta da encosta leste do Morro Araçatuba, e passa (provavelmente) por cascatas menores, até atingir as grandes quedas que estão a 'módicos' dez reais de distância do visitante. Menos gente sabe que a beleza não termina ali, e que para baixo da ponte há outra cachoeira, com características distintas, cuja trilha inicia à esquerda da rodovia, a 310m da P.R.F.


O percurso começa atravessando um filete d'água que corre paralelamente à pista, onde a descida é suave, mas o barranquinho oposto é bem íngreme; sendo este o único ponto ruim do primeiro trecho. Pouco antes da chegada, vê-se um outro caminho, para a direita, que leva ao topo da cachoeira; e quem optar por conhecê-lo deve cuidar bastante com o declive. É uma larga queda d'água, que não lembra as da Serra do Mar e litoral, e sim as da região central do estado. O poço é amplo, e de frente para ele as rochas são fendidas de modo que parece proposital, como para o visitante se sentar diante dela com certo conforto.

Viria a saber que mais tarde a Cachoeira 1 foi marcada por alguém no Google como "Cachoeira Alemão-Cwb", e que infelizmente esse nome foi acreditado por muita gente. Provavelmente trata-se de algum usuário que, em vez de se informar com moradores, ou em último caso batizar o lugar com um nome neutro, resolveu dar seu próprio apelido ou nome de usuário dentro do Google; atitude essa que nos parece simplesmente asquerosa.




Abaixo do poço, a água corre por mais uma parte espraiada, aonde se chega pela esquerda, por uma pedra bem no canto, evitando com isso passar entre as do meio. Ao cruzar esse ponto, com maior distância da cachoeira, pode-se tirar ótimas fotos. Também se nota que à jusante, o desnível do rio continua, e muito. Forma-se uma longa cascata, bem aberta, não muito íngreme, mas também bonita. Na margem direita é fácil perceber uma trilha que acompanha o rio e segue paralela a ela, entre um pouco de mata, mas com boa vista desde alguns pontos. A trilha alcança uma parte do rio onde a água perde velocidade; até ali ainda se vê indícios de presença humana. 


Depois já não é inequívoca, e exige em alguns pontos que se ande pelo rio, mas em parte rasa. A recompensa, mais adiante, é um local aberto onde a água se divide e forma cascatas menores, uma das quais mais vertical, ponto esse bem menos frequentado. Chega a ser um local mais agradável que o poço maior. Do barranco direito vem uma certa trilha, que inicia na chácara vizinha, cujo dono foi quem me indicou essas cascatas, às quais eu já pretendia ir porque suspeitava da existência. Desde a BR são aproximadamente 600m de caminhada até elas. Mas qual exatamente é a Cachoeira dos Jesuítas, mostrada no mapa? Só viria a descobrir isso 2 anos depois.



Dentre os muitos ônibus que passam pela localidade, só duas empresas a atendem; uma é a Catarinense, que só serve na ida, porque na volta não para na estrada. Paga-se a passagem inteira até Garuva. A empresa que serve na ida e na volta é a Expresso Maringá, com os ônibus que vão para Guaratuba. Recomenda-se embarcar não na rodoviária de Curitiba, encarecida pela taxa de embarque, e sim na Agência Pinheirão de são José dos Pinhais, onde os primeiros horários de ida são 07:20 e 11:20; e os últimos de volta são 12:15. 14:45, 16:20, 18:45 e 20:15. R$17,80. Há o risco de o ônibus vir lotado e não parar na estrada. Mais que em outros lugares, sem entrar em detalhes, desaconselha-se pegar carona ali. Horários consultados em 06/2017. O telefone da agência é 3384-2647; mas quase nunca atendem.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Caminho Original Da Graciosa - Parte 2



 O Terceiro Trecho Calçado


Antes de andar 100m, vê-se à esquerda um discreto ramal que vai em direção às trilhas do marco 22 (Cachoeiras Gêmeas, Salto Mãe Catira, etc.), e quem anda nele precisa estar alerta para encontrar sua continuação depois de um riachinho. Voltando ao principal, no dia em que conhecemos o 3º trecho, era a 2ª vez que descíamos a Graciosa; quando ao cabo de 500 metros nosso grupo acabou se atrapalhando numa bifurcação por causa do calçamento que desaparecia. Assim tivemos de retornar pelo início, prejudicados novamente pela inexperiência; porém antes ainda paramos num curso d'água a fim de recolher mica, convencidos pela tolice de alguém que jurava estarmos levando ouro para casa. O trajeto certo, que hoje nos parece fácil, encontra outra altura do Rio Cascata e mais algumas bifurcações 'inofensivas', uma das quais parte da direita e hoje sabemos que encontra a estrada.

O trecho faz mais algumas curvas até chegar próximo do recanto Grota Funda, e são poucas as confusões causadas por árvores caídas. O primeiro relato que li menciona que o 3º e o 4º trechos eram um só, mas que foram separados por um desmoronamento, à partir do qual foi criado um desvio entre ambos, forçando o visitante a passar pela estrada novamente. Mas desconfiamos que não seja ali, pois nesse ponto tanto é possível subir direto ao recanto, (por uma trilha íngreme), quanto é possível descer ao rio Grota Funda, por outra ainda mais acidentada, porém viável. E do outro lado sim, chega-se na estrada por uma subida bem mais cômoda, e com indícios de ser a original.

Cascatas Do Rio Grota Funda

Ao cruzar esse rio, a maioria dos trilheiros perde a chance de conhecer a cascata que existe 80m acima, a qual varia muito em volume conforme o período do ano, sendo que mais vale a pena no verão. Andando pelo leito, não há dificuldades senão os galhos caídos. Se só ela o visitante quer conhecer, convém descer do recanto pela trilha do lado oposto do rio. Para conhecer a cascatinha de cima, desce-se ao rio pelo outro lado da estrada. Dela, aliás, já se vê o vulto da queda d'água, a qual é mais espraiada que a de baixo. Da ponte seguinte é visível a profundidade da grota, ainda mais abrupta em comparação à que dá nome ao recanto.


O “Misterioso” Quarto Trecho

Nunca o percorri. Inicia adiante de um ponto perto do qual dizem ser visíveis as Cachoeiras Gêmeas. Tinha lido que dele saía um ramal que desce até o rio Mãe Catira, sabe lá com qual propósito. Aparentemente é um pouco mais curto que o anterior, e seu fim é pouco antes do recanto Bela Vista. Cheguei a andar na saída dele, mas tendo menos destreza que agora, não fui longe e preferi abandona-lo.

O Quinto Trecho

Jacuguaçu
Caramujo Gigante Branco
Depois do Bela Vista, chega-se a uma curva que é a mais acentuada até então. O verdadeiro início deste próximo calçamento seria um pouco para frente, ao lado de um riachinho, cuja ponte criara um desnível ruim. Isso induziu as pessoas a entrarem pelo atalho direto na curva; sendo que em poucos metros a picada já encontra o trajeto original. Paralelamente, com certa distância à direita, corre outro riacho, que nasce numa das fendas do Morro Mãe Catira; e que tem uma curta trilha desde o recanto anterior, para manutenção do cano de água que o abastece. O presente trecho é mais aberto e menos acidentado que o 3º, por exemplo; e para não desviar do rumo basta cuidar os contornos dos troncos caídos.

Nota-se a inteligência com que o caminho todo foi construído. Em vários locais não é apenas uma trilha normal ao nível do solo, como deve ter sido enquanto picada indígena antes da colônia, mas sim um percurso ora elevado, ora rebaixado aproximadamente em 1m com relação à parte mais alta do barranco. Também se vê onde a terra foi mexida para o escoamento de água da chuva; um contraste interessante de uma coisa que é ao mesmo tempo “artesanal”, porém muito eficiente. Só em um lugar a estrutura de um caminho antigo me impressionou mais, que foi a descida do Canion da Pedra, entre Cambará Do Sul (RS) e Jacinto Machado (SC). O trecho termina no penúltimo recanto, o Curva Da Ferradura.

A calçada de paralelepípedos desse recanto, que desce para direita atrás do quiosque, termina numa trilha que leva até uma cascatinha, a qual fica no mesmo riacho onde se capta água para o Bela Vista, lá em cima.


Cachoeiras Impermanentes Do Morro Mãe Catira


Aqui mais um parêntese, esta vez para um espetáculo da natureza que são as enormes quedas d'água formadas em dia de chuva, desde o platô entre o Morro Do Sete e o Mãe Catira. Em dias normais são apenas dois filetes invisíveis à distância, que formam um riachinho perto da Casa De Pedra, mas basta uma precipitação forte para que se transformem nas torrentes que nem todos têm a sorte de ver. Isso porque parte das vezes, a mesma tormenta que as gera, também as encobre. Na base, a água atinge uma fenda que é maior que a do riacho no recanto Ferradura, mais adiante do qual ambos se unem para seguir em paralelo ao último calçamento do caminho, à certa distância dele. Este é o recanto de onde melhor se vê o fenômeno, embora seja observável até das proximidades de São João da Graciosa.


O Sexto Trecho

Mais uma vez são 2 os acessos; o calçamento mesmo inicia entre a saída do recanto e a estrada, mas muitos usam a trilha que sai detrás do banheiro. Logo encontram-se, e desde ali é o trecho menos inclinado. Aproximando-se do seu final ouve-se os barulhos, principalmente latidos dos cachorros, pois lá junto ao recanto Mãe Catira existe uma casa. Ocorre que estão sempre presos e não há risco de virem até a trilha.

Antes de chegar no final, existem 3 entradas para a direita, separadas por pouca distância, sendo uma para captação de água no riozinho, e as outras duas com cascatinhas pequenas, que consideramos como a melhor forma de encerrar o passeio. A última é a mais bonita; um dos poços é uma piscina deliciosa. Curioso é que para o lado oposto do riacho existe um caminho (sem calçamento) bem aberto no início, onde entrei até certo ponto, e vi que começa a curvar para a direita. Depois me informaram no recanto que outrora houve ali um bananal, e que a trilha não leva hoje a lugar algum; mas persiste a curiosidade de percorrê-la até o fim.

O calçamento chega no meio do Mãe Catira, que é o maior dos 6 recantos. Até ao lado das churrasqueiras, as pedras ainda estão preservadas. Vários trilheiros concluem o dia com um banho no rio Mãe Catira em vez das cascatinhas, mas nesse caso recomendo usar a trilhazinha de frente para o último quiosque, e não a ponte de ferro, porque nela sempre há muita gente, é mais tumultuado.


Caminho Original Da Graciosa - Parte 1

Por diversos motivos, entre saber da existência dos caminhos coloniais da Serra do Mar, em 1997, e chegar a percorrer um deles pela primeira vez, dez anos tive que esperar. No êxtase de ter conhecido o Itupava, diligentemente busquei saber como chegar às outras duas trilhas mencionadas no guia Eco Verão, que foi o principal dos informativos turísticos de outrora, trazedor de tanto fascínio a respeito daquele mundo remoto que era a floresta atlântica. Sendo descrito apenas como um “trajeto distinto da rodovia”, o caminho colonial que a originou parecia ser o menos interessante dos 3, pois diante do afã em desbravar aquela parte da serra, considerava a própria estrada como objeto de saciedade quase suficiente. Vê-la da janela de um ônibus, e isso ter sido quase tão distante como vê-la por uma TV, foram o bastante para querer pôr o pé no chão novamente.

Duas referências encontrei, sendo um tracklog impreciso (que hoje concluo ter sido desenhado à mão), mas que mesmo assim veio a ser útil; e o relato de alguém que, para conhecer a rota inteira, precisou mais de uma investida, tal como me aconteceria. O caminho consiste de 6 trechos calçados que intercalam a rodovia, precedidos por outro, bastante deteriorado, que não se costuma percorrer. São aproximadamente 8 km de história, descobertas, cascatas e paisagens. Com uma experiência muito menor que hoje e sem saber os pontos exatos de início, conseguimos na primeira investida andar só pelos segmentos 2 e 5, sendo o restante pela estrada; entretanto no momento isso já nos satisfez.

A Casa De Pedra



As ruínas da centenária casa que pertenceu ao preservacionista Johannes Garbers são parada quase obrigatória para quem desce o caminho. Está localizada 700m para dentro na via chamada Graciosa Velha, ou “Trilha” do Alemão, estradinha que liga a Graciosa atual à Av. D. Pedro II; é a última entrada à direita antes do mirante. Quem chega de ônibus deve comprar passagem até a localidade Alto da Serra, para não pagar o valor inteiro até São João ou Morretes; e atualmente são dois os horários que saem de Curitiba, 07:45 e 09:00. Há que se cuidar com alguns dias do ano em que a estrada é fechada para eventos esportivos, pois embora não transcorram o dia inteiro, causam a suspensão dessas linhas.

A casa é mais visitada por estar no ponto de partida das trilhas para o Morro Mãe Catira, Sete, Polegar e travessia da Farinha Seca. Ao lado da ruína está a casa do caseiro, que cobra R$ 20,00 pelo estacionamento, mas sempre franqueou a entrada para pedestres. É recomendado chegar devagar para não provocar seus numerosos cachorros, embora nem sempre estejam presentes. A Casa de Pedra em si é um ambiente pitoresco – ao mesmo tempo sombrio mas acolhedor; com suas frequentes neblinas, e o mato em volta, ora alto, ora bem roçado. Sob sua lareira se vê um fundo buraco onde alguma mente rasa veio um dia cavar e depredar para buscar ouro. Entre as duas partes do terreno corre o Rio Do Corvo, cuja cachoeira conhecida (mencionada como "Do Riva") está apenas 400m à montante; e nela uma corda permite subir ao topo; mas o que existe adiante dela já é outra história. Para baixo, este mesmo rio é cruzado pela estradinha, e paralelo a ele inicia uma certa trilha, também interessante.


O Labirinto Entre A Casa De Pedra E O Recanto Engenheiro Lacerda

Vindo de algum lugar na direção de Quatro Barras, está pouco visível o calçamento de pedras construído há mais de 180 anos, que tinha naquele terreno apenas um local de passagem. A casa simplesmente o interrompe, dando indício de ter sido edificada posteriormente, e não há 200 anos como alguns creem. Para o outro lado não se o distingue, e o que existe é um carreiro na relva baixa até alguns metros, onde se adentra a densa floresta – desde então tudo torna-se um complicado labirinto.

Há trilhas para todos os lados, partes muito fechadas, travessias de pequenos charcos, mas também pontos onde se tem a certeza de estar pisando sobre o calçamento original, pela forma aplainada e firme, e pela gramínea típica que recobre aquelas pedras quando não são percorridas. O visitante sente-se como um arqueólogo. Crendo na descrição errada que nos baseou, pensávamos que o correto seria sair na captação de água do mirante (Engenheiro Lacerda), e que o 1º trecho íntegro do calçamento era o que corta a curva seguinte. Mas não; esse pedaço deteriorado do caminho deve apenas levar o visitante de volta para a estrada, se não estiver fechado demais; a fim de que em seguida adentre o verdadeiro 1º trecho bom, no lado oposto da rodovia. Um mapa ao final da página esclarecerá o que verbalmente soa tão complicado

O Primeiro Trecho Íntegro


Este segmento que conhecemos tardiamente (e de trás para frente) tem sua entrada à esquerda, aproximadamente 87 metros antes da placa que demarca a divisa de município, entre Quatro Barras E Morretes. Sem acostamento, às vezes entre cipós e mato mais alto, somente o começo é ruim, porque logo se alarga, antes de cruzar um riachinho. Segue mais ou menos paralelo a ele, até sair adiante do 1º recanto; perfazendo 371m.

Local aproximado da entrada e local exato da saída; respectivamente

O Segundo Trecho


Vista do mirante para a serra do Ibitiraquire

235m à frente do mirante, e apenas 30m à frente da saída do segmento anterior, fica a continuidade da trilha, sendo essa parte a mais curta e inequívoca das 6. Ali, como na última, também há um buraco feito à procura de ouro. Por algum motivo, do começo ao fim da Graciosa, as teias são até um pouco mais constantes que em outros caminhos. Não são de espécies perigosas, e na maioria das vezes as aranhas nem estão presentes, mas se quem anda na frente não se cuida, pode até tecer uma blusa com tantos fios que acumula.

Em pouco tempo encontra-se novamente a estrada, 280m antes do recanto Rio Cascata. Esse nome se deve à quedinha ali existente, no mesmo riacho que abastece o recanto anterior. Sendo normalmente modesta, impressiona um pouco em dias de cabeça d'água. Para ir do fim do 1º trecho calçado à entrada do 2º, basta atravessar a estrada e dar uns passos à esquerda; sendo ela menos ou mais visível conforme a época.


Entrada do segundo trecho



3 primeiros trechos