Fotos, vídeos e eventualmente os relatos e tracklogs de quase todas as trilhas, exploratórias ou não, que empreendemos no leste do PR - ou outras regiões, conforme possível. Enfoque oposto à indústria do turismo, e voltado ao interesse do usufrutuário dos atrativos naturais. Blog vinculado ao canal JEANDISANTI no Youtube.
Planejar
e realizar uma trilha exploratória ou semi-exploratória é algo que
reúne todas as sensações de um bom jogo de investigação. Em
algumas, os elementos de aventura fogem do controle, sufocam e não
“coadunam”; porém noutras como o Morro 4 da Bocaina, é como se
em vez do acaso, houvesse uma história inteira cheia de detalhes
esperando por ser praticada, tornando o percurso algo até
aconchegante a despeito das dificuldades. Anteriormente o 4 nos
parecia apenas uma crista do Morro 2, mas descobrimos que era um
morro independente, com uma vista central daquela serra. Nossa visita
aconteceu pouco mais de 1 mês depois de conquistarmos o 1 (Morro Da
Bocaina). Vale lembrar que nós somente os numeramos em ordem de
altitude como referência, pois exceto o mais alto, todos carecem de
nomes oficiais.
Para este artigo, ainda que o visitante não use GPS, é muito importante que ao menos observe o percurso completo neste mapa: https://www.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=19423486 e tenha a descrição seguinte como um apoio.
A
caminhada começa no mesmo ponto “de sempre”, em frente à
chácara Serra da Bocaina – estrada Eulisses Milani. Inicialmente o
percurso coincide com o trajeto para o Morro 2, ou seja, adentra o
trecho particular dessa estrada e segue por 990m
até uma bifurcação, onde se toma a direita. Por esta “quase
estrada”, anda-se 480m até nova
bifurcação à esquerda, conducente a dois casebres numa clareira,
onde se pensa haver gente; porém ambos estão se arruinando.
4 visto da subida do 2
Para
além deles, o caminho vira trilha e chega num bonito riacho que
antecede uma cerca, sendo que depois dela parece não existir nenhuma
continuação. Ali não há pinus, e sim uma floresta nativa
emaranhada onde logo se percebe um labirinto de trilhas; no entanto a
distância do riacho até o seguinte caminho aberto é pequena; algo
como 50 a 60m. Tudo o que o passante deve fazer é escolher dentre
essas picadas, aquelas que continuarem levando-o na mesma direção
reta que vinha seguindo desde os casebres.
1
Irá
sair numa trilha transversal larga, em que deve tomar um pouco à
direita e logo entrará à esquerda por caminho mais aberto, na
subida. 200mdepois, estará num cruzamento de “estradinhas”, onde deve
escolher a da direita. Isto é bem perto do início da crista do
Morro 4; e nós acreditávamos que ao fim daquele caminho rural, a ascensão se daria bem pelo “bico” dela; porém não só era
íngreme, como estava fechado demais. Entendemos que teríamos de
voltar um pouco, procurando a entrada correta, ou um local mais
maleável para abrir nossa própria trilha com facão, o que não foi
necessário. Na ida tínhamos passado sem notar por uma entrada de
trilha (a 75m do cruzamento, lado esquerdo de quem sobe), e quando a
achamos, tivemos certeza que seria ali.
Totalmente
sombreada, ela corre paralelamente ao morro; e por experiência já
esperávamos ter que abandoná-la, à certa distância, para subir à
direita e alcançar a crista dele por onde fosse mais cômodo. A
questão é se teria ou não alguma outra trilha para isso. O faro
foi certeiro, e logo encontramos vestígios; o que nos permitiu
começar a parte teoricamente mais “exigente” do percurso. É por
esse trecho que recomendamos não visitar o Morro 4 sem a companhia
de alguém que ao menos tenha certo conhecimento em
exploratórias, ou um bom conhecimento em trilhas normais. Até
alcançar a crista e avistar o cume, a passagem entre a vegetação
exige mudanças de direção bruscas, o que confunde um pouco.
Saímos
da mata mais alta e começamos a bordejar a florestinha da crista,
tendo seguido à esquerda, com o cume por referência. A subida,
então por relva mais confortável e com vestígios mais claros, era
muito gradual e fazia o topo parecer mais próximo do que realmente
estava. Por observações anteriores desde o Morro 2, sabíamos que
ele era “fendido”, ou seja, tratava-se de dois cumes; e em ambos
encontramos marco geodésico.
Do 1º deles, a trilha desce um pouco à
frente e entra à direita numa matinha fechada, até sair no cume
verdadeiro (1375m). Ali se tem uma das
vistas mais lindas dessa serra. O Morro da Bocaina (1) parece que
pode ser tocado com as mãos de tão amplo que se mostra, assim como
os topinhos recortados ao sul dele. E à direita se vê o Morro 2;
com destaque para sua 3ª crista. Os vestígios de trilha eram
evidentes para além do topo, sendo provavelmente uma ligação dele
com um dos “vizinhos”.
Tendo subido em dia quente, nos deparamos com um tipo de mutuca grande que não conhecíamos. Só não eram tão numerosas quanto as que viríamos a enfrentar no 'terrível' Morro 5, duas semanas depois. Entretanto mostraram-se muito pouco eficientes; precisando que nós ficássemos parados para pousarem e nos picarem; diferente das mutucas do litoral e Serra Do Mar. Ocorreu então que às vezes estivemos cercados por elas, sem que tomássemos uma única picada. Não sendo assim, teríamos desistido e voltado correndo para a base.
Ao
cabo de 15 dias, pela primeira vez tive parceiros otimistas o
bastante para não cancelarem uma trilha em face a uma manhã de
garoa. Por sorte ela cessou antes de chegarmos, deixando apenas um
véu de nuvens que não frustraria o passeio, embora nos furtasse a
vista.
3 visto do 2
No
mesmo acesso do Morro 3 é possível deixar o carro, pois a estrada
encontra logo uma porteira desde a qual já é Fazenda Turbay; (este
nome está indicado numa das placas do início). Há umas poucas
casas dentro da propriedade, que aparenta mais ser de lazer em vez de
produção; e assim como na fazenda anterior, também são tolerados
os visitantes. Passa-se pela porteirinha lateral – de pedestres –
e segue-se pela estrada, mas não até a última porteira, porque lá
já pertence ao reflorestamento Madrigal. "Certa mágoa" guardamos desta empresa.
Colina Leste
Os
pinus começam a aumentar na paisagem, apesar de ela ser melhor
permeada por mata nativa do que em outros municípios. 990m depois da
porteira, toma-se a direita num caminho que já foi estrada, e ali
eram descidas as toras. Andando por ele, quase não há equívocos;
sendo o mais relevante um córrego sem ponte, onde é melhor molhar
as botas do que saltar entre as margens. Anos passaram, e a erosão
nalguns trechos da antiga via foi tão violenta que os sulcos hoje
existentes superam 2m de profundidade. Já nos 1430m de altitude
aparece entrada para a direita; um caminho curvo até a clareira do
cume, o qual marca 1456m (contra os 1434m mostrados pelo Google
Earth).
3ª Crista (mais alta) atrás de partes da 2ª (na esquerda)
Parte
da descrição seguinte deve-se à nossa 2ª visita, porque na 1ª só
enxergamos neblina. Os arbustos em torno do topo são altos e de
qualquer forma limitariam um pouco a paisagem; a não ser pelo Morro
3, que visto dali parece bem mais gracioso que da base. Para o lado
oposto, o que se espia é um esboço do maravilhoso cenário
descortinado desde as cristas à frente, nas quais só pisaríamos
semanas depois. Alguns morros são assim mesmo, têm melhores
mirantes fora do cume do que nele próprio. E se antes o caseiro do 3
disse a nós que o visual do 2 era menos interessante, deve-se
provavelmente a que ele só conheça o percurso até a clareira.
A 1ª crista (de onde se tirou essa foto) é a única que "só desce"
Descoberta
Das Cristas E A Constatação Do Morro 4
Vestígios
de trilha e o fim da estrada eram tudo que sabíamos existir depois
da bifurcação para o cume. E não mais que uma borda com vista
estratégica para o 1 esperávamos encontrar na nossa 2ª visita,
quase “acidental” ao morro 2, (ensaiando talvez um ataque ao
objetivo maior). Mas o que vimos ao entrar pela esquerda e descer por
uns 300m foram (inicialmente) duas ondulações, oblíquas ao
caminho, descampadas no topo e separadas por uma faixa de mata.
Morro 4 visto da base
Daquele
ínterim, o Morro Da Bocaina já mostra toda a sua graça, chega a
lembrar de longe o Pico Paraná, com os outros topinhos parecendo o
Camelos. Quanto mais descíamos pela 1ª crista, melhor era a vista
para ele, e mais profunda era a separação entre ela e a 2ª. Ali
também fomos, contornando a grande fenda pelo caminho principal, e
entrando novamente à direita até chegar em cima. Só então
descobrimos que eram 3 e não duas as cristas, pois logo enxergamos a
última.
3ª crista e Morro Da Bocaina ao fundo
Tudo
lá ainda pertence ao morro 2, e embora fendidos, seus relevos
compõem um mesmo bloco. Entretanto de lá atestamos a existência de
um outro maciço, mais baixo e de certa forma abrupto,
suficientemente separado do 1 e do 2 para ser numerado como “Morro
4”; conforme os 1348m de altitude indicados pelo Google. Outra
suspeita nossa aproximou-se da confirmação, quando ouvimos não tão
longe o chiado de uma queda d'água entre os precipícios no começo
do Rio Passa Vinte.
O
abismo é bordejado por indícios de um caminho rumo à crista 3; mas
o vale que a antecede tem também alguma profundidade, sendo suave na
descida, e simplesmente terrível na subida oposta. Uma das causas é
certo musgo avermelhado que enfesta a escarpa, e sugere o tempo todo
que o chão despencará conosco junto. Chegar ali serviu para vermos
que o caminho completo de travessia da serra não era apenas um mito,
já que estávamos pisando nele; mas galgar o Morro 1 sem arriscar
tanto o grupo custar-nos-ia um raciocínio melhor.
Os
Dilemas Antes Da Conquista
O
"dia D" aproximava-se, mas antes disso teríamos que
enfrentar transtornos e dificuldades. Toda ou quase toda a base
noroeste/norte do Morro Da Bocaina pertence à Madrigal; e justo o
ponto ideal do nosso planejamento passava por ela, sendo que a
entrada não é autorizada. A face oposta, sudeste, é de floresta
densa com penhascos "violentos", os quais já notávamos
desde a passagem pela estrada do Passa Vinte, na ida à Cachoeira do Potunã.
1 visto da base
Tínhamos menos referências visuais dele do que gostaríamos
para achar uma solução, e restaram a princípio duas opções,
sendo a 1ª delas o seguinte: Insistindo na travessia 2 – 1,
tentaríamos chegar mais por baixo à crista dos musgos, mesmo sem
vestígios de trilha, e desceríamos uma ladeira forte para depois
fustigar o facão na floresta do vale, ressurgindo dela pelo lado
oposto. Mas figurar a série de dificuldades que poderíamos
encontrar nesse trajeto, e como elas martirizariam o grupo, (além da
alta chance de um revés) fizeram-me quase descartar a ideia.
Morro 4
A
outra opção seria pelo norte, pela estrada que liga o bairro Ouro
Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, percorrendo o desconhecido
Morro 5, cujo vale em direção ao 1 mostrava-se mais suave. Tudo o
que sabíamos dele é que se tratava de uma verdadeira linguiça, por
ser comprido, diferente dos demais; lembrando de longe uma chapada.
Mas tal acesso trouxe-nos grande frustração, demonstrando ser
intransitável (naquele então) para carros comuns, o que nos forçou
por duas vezes a abortar o plano e ir aproveitar o dia com outros
morros, um dos quais, o Maior Da Serra De Santana.
Morro 2
Se
reparariam ou não a estrada, ao ser perguntado, o sec. de obras de
Bocaiuva pouco pareceu se importar. Estávamos pois, diante da
possibilidade triste de desistir, já que tudo parecia lutar contra.
Por um motivo complicado, não podemos dizer exatamente qual escolha
fizemos; o que nos leva a suprimir parte da descrição, e relatar
direto do ponto onde iniciamos nosso ataque final ao morro, no dia 22
de Julho.
BR-116 ao longo da base dos Capivaris
A
Vitória Da Expedição
Ao
fim de uma estrada rural nos 1200m de altitude, depois de uma boa
caminhada, tínhamos à nossa direita um barranco florestado de onde
o cume não era visível, mas já de longe o acompanhávamos.
Pinheiros ali existiam, mas não eram a maior parte da floresta, e
tanto o solo quanto a vegetação estavam algo ressecados pela
estiagem.
Ibitiraquire
Esse
trecho não era tão íngreme, e conseguimos abrir sem facão; apenas
usei as luvas, e quem veio logo atrás fazia as "correções"
com um bastão. Saímos num topinho descampado de onde então
conseguimos ver bem todo o caminho faltante até o cume, mas
precisaríamos descer um pouco e passar por outra florestinha, essa
totalmente nativa, aparentemente mais densa. Para nossa surpresa, a
trilha ali existente estava até bem aberta, diferente dos vagos
vestígios que vínhamos vendo.
A
crista que escolhemos para caminho, e que delineamos no Google Earth
para ter como referência na nossa investida era um tanto óbvia; e
muito provavelmente quem quer que já tivesse subido aquele morro,
seja trilheiro ou morador da região, escolheria passar por ela.
Desde a saída das árvores, a picada quase se desvanece; e o que se
vê é uma longa subida para a esquerda. Isso porque o trajeto direto
seria quase impossível, uma vez que cruzaria outro valezinho
íngreme, (com subida final quase ereta). A caminhada vai ficando mais
lenta; tudo enrosca, tudo faz tropeçar; o capim grosso aberto com as
coxas vai cobrando aos poucos boa parte da reserva de energia.
Andávamos nesse ponto olhando para baixo, como para reforçar a
concentração na própria resiliência; inclusive no meu caso pelos
"repuxos" que sentia no peito em razão do cansaço.
Morro 5
Apenas
no vértice da crista é que se consegue passar com conforto para o
seguinte patamar. Pouco antes dali o Morro 5 já mostrava seus
contornos; é muito mais robusto do que parecia da estrada ou do
satélite. A linha divisória entre suas faces sudeste e noroeste é
menos retilínea do que imaginamos, e o lado florestado é um
verdadeiro paredão. Imagino como deva ser o cenário visto da
chácara que tão minúscula nos parecia do alto, a única daquela
região, onde antes teríamos pedido para deixar o carro se a estrada
não nos tivesse impedido na outra vez. Todo aquele lado, início da
bacia do Potunã, considero o mais bonito da paisagem que se tem
desde o Morro 1.
Passando
este topinho, cujas rochas ao fim da dura subida foram como poltronas
para o nosso descanso, há apenas um patamar antes do cume, com pouco
desnível. Embora esteja 1,2m abaixo dele, possui um marco geodésico;
e entre ambos topos encontra-se uma matinha que é contornada à
direita pela trilha. Mais alguns instantes, e enfim pisávamos aquele
solo a 1501,5m de altitude, comemorando com alarido o êxito de
tantas semanas de expectativa. O ponto culminante de toda a região
fora da Serra Do Mar, que momentos antes era apenas um nome numa
carta topográfica, bem pouco conhecido no círculo social do
nosso esporte, poderia então ser trazido a público nestes detalhes.
5
– O Morro 3 também é chamado Morro Da Cruz ou Morro Do Cruzeiro. Infelizmente a serra vem sendo chamada de Cordilheira Secreta ou Serra Do Potunã, bem como o Morro 2 de Morro Da Sempre Viva, e o Morro Da Bocaina de Pico Potunã, não por uma liberalidade de se os batizar, mas pelo uso de termos próprios a fim de evitar concorrência à sua atividade ecoturística; uma vez que estes mesmos nomes não são encontráveis em outras fontes de pesquisa.
Uma formação
montanhosa homógrafa a certa serra paulista e fluminense, distante
45km de Curitiba – mas quase totalmente desconhecida até então da
maioria dos trilheiros do estado – constitui o ponto mais alto de
toda a região fora da Serra Do Mar do Paraná. Seu pico maior, o
Morro Da Bocaina, supera quaisquer altitudes do 2º e 3º planaltos,
e para efeito de comparação, mesmo a Farinha Seca, Canavieiras e
Baitaca, na Serra Do Mar, não igualam seus 1501,5m.
Uma mera
observação ao subir as encostas do Capivari Mirim, em dia de forte
calor, abriu nossos olhos para esse novo horizonte, de uma bela e
acidentada silhueta que era alta demais para ser apenas simples
colinas perdidas no relevo de Bocaiuva do Sul ou Tunas do Paraná. E
embora já nos desviássemos do eixo habitual do montanhismo, a
Bocaina foi motivadora das muitas trilhas (ao norte da capital), que
divulgamos neste blog; sendo este talvez o artigo mais importante de
todos até aqui.
É composta
por 5 morros principais, sendo que apenas o maior deles tem nome
conhecido pelos moradores do entorno, ou inscrito em mapa; razão pela qual os referimos de ora em diante como
números em ordem decrescente de altitude, para fins de descrição,
tal como exposto na imagem a seguir. Por vezes o próprio Morro da
Bocaina também será mencionado como “1”, comparativamente. Além
deles, existem duas elevações menores – leste e sudoeste – as
quais tratamos por “colinas”.
Característica comum a outras serras desta
região, sua base noroeste é mais alta e relvada, com maior presença
humana, enquanto a vertente sudeste é coberta por floresta; com
inclinações que em alguns pontos chegam a ser penhascos.
Antes da
finalidade de descrever suas trilhas conforme as conhecemos, cabe
mostrar uma foto rara – acompanhada pelo relato –
do reconhecimento feito na Bocaina em idos anos 50 durante a "1ª
Expedição Científica À Serra De Paranapiacaba E Ao Alto Ribeira"
pelo grupo do Coronel João De Mello Moraes e Major Sinval
Pinheiro, ambos do Serviço Geográfico do Exército.
Empreenderam
esta viagem entre janeiro e abril de 56, tendo seu trabalho
republicado pela Revista Brasileira de Geografia, edição abril -
junho de 57. Naqueles tempos pioneiros, a região também foi sondada
pelo historiador Ermelino De Leão e provavelmente pelo geólogo
Reinhard Maack. [Cortesia da biblioteca do IBGE em Curitiba.]
No
dia 13 de maio desse ano (2017), depois de muito planejar, iniciamos
o intento de conhecer os 3 principais morros deste conjunto, e a partir
aqui retratamos como foram as investidas.
Morro
3 – Reconhecimentos E Primeiras Impressões
Entrada
Com
altitude semelhante ao Tapapuí, o Morro 3 é a porta de entrada da
Bocaina, não somente por ser o 1º visto da estrada, mas por ser o
único inteiramente acessível de carro (4 x 4) e estar dentro de uma
propriedade bastante hospitaleira. Vindo de Curitiba pela BR-476,
passados 1,6 km da pousada Valle do Ribeira (Ribeirão Das Pedras),
entra-se à direita na estrada Eulisses Milani, (com trajeto em boas
condições), e segue-se por aprox. 7,4 Km até a Fazenda Serra Da
Bocaina, constante em carta topográfica. Pouco antes da porteira
principal no lado oposto da rua, vive o irmão do caseiro, ante cuja
casa nos foi permitido deixar o carro durante nossas 4 idas.
Passagem do 3 para o 2
O
que então se vê é um morro comprido, cujo cume está um pouco para
trás, e de início aparenta ser mais baixo do que é. Para chegar ao
caseiro, entra-se por uma porteirinha a 70m da principal, e passa-se
junto aos animais, que são mansos (inclusive os bovinos). O local
pertence a um empresário do ramo de transportes, e parece ter uma
produção relativamente pequena, em face de sua extensão. Ser o
caminho por uma estrada pode dar a impressão de que a serra toda é
um lugar fácil e confortável, mas não demoraríamos para
conhecê-la de verdade. Por coincidência, quando lá chegamos, o
caseiro e sua esposa também iam para o cume, e nos deram carona na
caçamba de uma Toyota, resultando numa experiência ruim para alguém
do nosso grupo, embora aos demais fosse bem divertido.
A
paisagem ao redor começa a causar admiração; encontra-se desde o
entorno da Estrada da Ribeira, a Serra De Santana, e os morros perto
de Tunas. Para o norte e nordeste estava a nossa grande curiosidade
de como seriam os morros 2 e 1, (deste só avistamos a silhueta). O 2
é o que se vê mais bonito dali, com aquele aspecto de "gominhos"
por entre os recortes nos pequenos vales onde flui a água das chuvas. Dentre os morros "conhecidos", o menos distante dali
é o Capivari Mirim, e assim mesmo são mais de 20km em linha reta.
Isso não impede de se ter um panorama privilegiado de toda a Serra
do Mar, como se desde a 1ª fila de uma plateia observássemos um
palco.
Guaricana
A
altitude mostrada no GPS supera um pouco os 1430m. Há um muro baixo
que circunda alguns metros do cume, e nele uma cruz, sendo que
adiante encontra-se trilhas entre os arbustos. Ao final deles, numa
relva baixa é possível avistar detalhes de uma crista do Morro 1; e só
então foi que começamos a notar como ele é impressionante. O que
do Google Earth se afigura como uma sucessão de relevos não tão
recortados é na verdade uma sequência de topinhos íngremes com
feições bem mais "hostis" do que imaginamos. Contou-nos
depois o irmão do caseiro algo que já era de se supor, a existência
de uma trilha entre os cumes do 3 e do 2.
Muito
bom visual também se tem num topinho, à direita de quem está
retornando do cume. Já à esquerda percebe-se a crista longa e
relvada que termina no vale ao início da Colina Sudoeste, quase
"pedindo" para também ser percorrida. Existe outra
estrada, um pouco paralela à principal, que também desce à
fazenda, mas voltamos pela que já conhecíamos. Neste dia ainda nos
faltava por visitar uma queda d'água 'deliciosa' que observamos na
imagem de satélite, e que veio a ser parte importante desse passeio.
Cachoeira
Do Rio Bocaina
Descrito em
algumas referências como Arroio Águas Amarelas (tal característica
não notamos muito), o Rio Bocaina é afluente do Passa Vinte, e tem
nascentes tanto nos morros 2, 3 e 4, quanto nas colinas do outro lado
da Eulisses Milani. Vem a completar o laurel daquela fazenda com uma
das mais bonitas cachoeiras existentes nos entornos da capital. Ao
fim da descida, entramos à esquerda numa estrada interna que logo se
aproxima do rio, estando quase paralela. Este corre para o sul, e a 1ª
das suas quedas encontra-se a 1km de distância da casa do caseiro,
enquanto a 2ª está a aprox. 2km.
Queda maior
Há
no caminho uma porteira sem cadeado, e a queda menor fica pouco
adiante dela, à direita; desde onde se desce por degraus de pedra.
Se a intenção for só o banho, ali já será satisfeita. Mais perto da
cachoeira principal, o vale onde o rio passa começa a parecer cada
vez mais profundo. A estrada termina numa clareira, e bem na sua
borda inicia outra escadaria, que é bem mais longa que a anterior.
Ouve-se bem o rumor da água desde o 1º degrau; e ela começa a ser
visível na metade da descida. Tem uma boa altura; seu poço não é
fundo, e seria impossível não entrarmos nela, caso aquele não
fosse um dia frio.
Tínhamos
dado o 1º passo na descoberta da Bocaina, e depois desta vez,
alternamos as investidas com outros morros descritos no blog, como
foram o Lorena, Betara e Baleia. As idas seguintes e seus resultados
são descritos na 2ª parte deste artigo.
Procurando
resolver certa dúvida com a carta topográfica “Pedra Branca Do
Araraquara”, tempos atrás me surpreendeu a informação “de mão
beijada” sobre a existência de uma cachoeira no Rio Itararé
(divisor entre Tijucas Do Sul e Guaratuba), num ponto ao norte da
BR-376, cuja margem oposta dá acesso ao Morro dos Perdidos. Não a famosa (ou melhor, as famosas) que ficam dentro da propriedade, e que
são o complemento ideal para o passeio no cume, mas outra, nominada
“Cachoeira Dos Jesuítas”. Fato raro, pois quando muito
encontra-se nesses mapas apenas um tracinho situando a queda, ou às
vezes uma desinteressada abreviação “Cach”, como foi o caso da
Colle, em Quatro Barras.
Antes de
formar a atraente visão que se tem até mesmo da estrada, o rio
Itararé desce a floresta da encosta leste do Morro Araçatuba, e
passa (provavelmente) por cascatas menores, até atingir as grandes
quedas que estão a 'módicos' dez reais de distância do visitante.
Menos gente sabe que a beleza não termina ali, e que para baixo da
ponte há outra cachoeira, com características distintas, cuja
trilha inicia à esquerda da rodovia, a 310m da P.R.F.
O percurso
começa atravessando um filete d'água que corre paralelamente à
pista, onde a descida é suave, mas o barranquinho oposto é bem
íngreme; sendo este o único ponto ruim do primeiro trecho. Pouco
antes da chegada, vê-se um outro caminho, para a direita, que leva ao
topo da cachoeira; e quem optar por conhecê-lo deve cuidar bastante
com o declive. É uma larga queda d'água, que não lembra as da
Serra do Mar e litoral, e sim as da região central do estado. O poço
é amplo, e de frente para ele as rochas são fendidas de modo que
parece proposital, como para o visitante se sentar diante dela com
certo conforto.
Viria a saber que mais tarde a Cachoeira 1 foi marcada por alguém no Google como "Cachoeira Alemão-Cwb", e que infelizmente esse nome foi acreditado por muita gente. Provavelmente trata-se de algum usuário que, em vez de se informar com moradores, ou em último caso batizar o lugar com um nome neutro, resolveu dar seu próprio apelido ou nome de usuário dentro do Google; atitude essa que nos parece simplesmente asquerosa.
Abaixo do poço, a água corre por mais uma parte
espraiada, aonde se chega pela esquerda, por uma pedra bem no canto,
evitando com isso passar entre as do meio. Ao cruzar esse ponto, com
maior distância da cachoeira, pode-se tirar ótimas fotos. Também se
nota que à jusante, o desnível do rio continua, e muito. Forma-se
uma longa cascata, bem aberta, não muito íngreme, mas também
bonita. Na margem direita é fácil perceber uma trilha que acompanha
o rio e segue paralela a ela, entre um pouco de mata, mas com boa
vista desde alguns pontos. A trilha alcança uma parte do rio onde a
água perde velocidade; até ali ainda se vê indícios de presença humana.
Depois já não é inequívoca, e exige em alguns pontos que se ande
pelo rio, mas em parte rasa. A recompensa, mais adiante, é um local
aberto onde a água se divide e forma cascatas menores, uma das quais
mais vertical, ponto esse bem menos frequentado. Chega a ser um local
mais agradável que o poço maior. Do barranco direito vem uma certa
trilha, que inicia na chácara vizinha, cujo dono foi quem me
indicou essas cascatas, às quais eu já pretendia ir porque
suspeitava da existência. Desde a BR são aproximadamente 600m de
caminhada até elas. Mas qual exatamente é a Cachoeira dos
Jesuítas, mostrada no mapa? Só viria a descobrir isso 2 anos depois.
Dentre os muitos ônibus que passam pela localidade, só duas empresas a atendem; uma é a Catarinense, que só serve na ida, porque na volta não para na estrada. Paga-se a passagem inteira até Garuva. A empresa que serve na ida e na volta é a Expresso Maringá, com os ônibus que vão para Guaratuba. Recomenda-se embarcar não na rodoviária de Curitiba, encarecida pela taxa de embarque, e sim na Agência Pinheirão de são José dos Pinhais, onde os primeiros horários de ida são 07:20 e 11:20; e os últimos de volta são 12:15. 14:45, 16:20, 18:45 e 20:15. R$17,80. Há o risco de o ônibus vir lotado e não parar na estrada. Mais que em outros lugares, sem entrar em detalhes, desaconselha-se pegar carona ali. Horários consultados em 06/2017. O telefone da agência é 3384-2647; mas quase nunca atendem.
Não
é de hoje que o litoral paranaense, por ter a sua população
multiplicada durante cada veraneio, recebe do governo os recursos e
as atenções correspondentes, na forma de operações sazonais
voltadas ao turismo, do qual toda a sua economia depende. Num recente
passado, em tempos de orelhões cor de laranja e dólar a R$1,16; a
então operação Eco Verão (que atualmente perdeu o "Eco")
trazia consigo além de policiais e bombeiros, um guia informativo
gratuito mais completo e de mais alta qualidade gráfica que os
distribuídos nas últimas temporadas. Um compêndio descritivo de
várias atrações dos 7 municípios denotava os melhores esforços
de quem o elaborara, a fim de que o veranista dispusesse de todos os
conhecimentos para desfrutar e gastar nas nossas praias.
Outrora
facilmente acessível, a edição de 1998 hoje é quase rara,
encontrada somente em alguns sebos - de um dos quais agora trago em
duas formas.
A
qualidade das imagens não é 100%, mas todo o conteúdo está presente. Nessas 117 páginas, uma versão bem
ampliada da de 1997, há algo de muito nostálgico especialmente para
quem conheceu e curtiu o litoral do Paraná àquela época.
As
imagens que o ilustraram foram desenhadas por um artista de talento,
que juntava as representações dos locais numa maneira bem parecida
com a que faz nossa imaginação ou memória afetiva sobre
determinada região; e todos os seus elementos, desde os ícones,
pareciam estrategicamente criados para instigar nossa
vontade de aproveitar cada ponto turístico.
Uma
enormidade de atrativos do litoral, talvez por desconhecimento,
estavam ausentes; e algumas descrições continham informações
imprecisas; mas por outro lado constavam alguns que, de tão
"longínquos", são ainda hoje pouco conhecidos da maioria
dos turistas, como o Rio Pasmado e a Serra Gigante. As histórias dos
caminhos coloniais, por exemplo, que foram tema inicial desse blog,
traziam uma linguagem vagamente semelhante à do livro de Júlio
Estrela Moreira, quem por sua vez tivera como fonte maior as "Memórias
Cronológicas" do historiador Vieira Dos Santos, (Séc. XIX).
É
perceptível que nos guias dos anos seguintes, geralmente mais
simples e sucintos, o padrão dos textos é basicamente o mesmo,
inclusive nas imprecisões. E talvez ainda hoje muitos litorâneos
não lhe façam caso, descartando-o às vezes como folheto de
propaganda. Mas quem ainda tiver outros materiais turísticos do
litoral, anteriores ao ano 2000, e deseje compartilha-los, é favor
entrar em contato com o e-mail gomes681@gmail.com
Passado
algum tempo, também tive acesso à versão de 1997; e aqui está
para download (.rar):