Antes de chegar no final, existem 3 entradas para a direita, separadas por pouca distância, sendo uma para captação de água no riozinho, e as outras duas com cascatinhas pequenas, que consideramos como a melhor forma de encerrar o passeio. A última é a mais bonita; um dos poços é uma piscina deliciosa. Curioso é que para o lado oposto do riacho existe um caminho (sem calçamento) bem aberto no início, onde entrei até certo ponto, e vi que começa a curvar para a direita. Depois me informaram no recanto que outrora houve ali um bananal, e que a trilha não leva hoje a lugar algum; mas persiste a curiosidade de percorrê-la até o fim.
Fotos, vídeos e eventualmente os relatos e tracklogs de quase todas as trilhas, exploratórias ou não, que empreendemos no leste do PR - ou outras regiões, conforme possível. Enfoque oposto à indústria do turismo, e voltado ao interesse do usufrutuário dos atrativos naturais. Blog vinculado ao canal JEANDISANTI no Youtube.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Caminho Original Da Graciosa - Parte 2
Antes de andar
100m, vê-se à esquerda um discreto ramal que vai em direção às
trilhas do marco 22 (Cachoeiras Gêmeas, Salto Mãe Catira, etc.),
e quem anda nele precisa estar alerta para encontrar sua continuação depois de
um riachinho. Voltando ao principal, no dia em que conhecemos o 3º
trecho, era a 2ª vez que descíamos a Graciosa; quando ao cabo de
500 metros nosso grupo acabou se atrapalhando numa bifurcação por
causa do calçamento que desaparecia. Assim tivemos de retornar pelo
início, prejudicados novamente pela inexperiência; porém antes
ainda paramos num curso d'água a fim de recolher mica, convencidos
pela tolice de alguém que jurava estarmos levando ouro para
casa. O trajeto certo, que hoje nos parece fácil, encontra outra altura do Rio Cascata e mais algumas bifurcações 'inofensivas', uma
das quais parte da direita e hoje sabemos que encontra a
estrada.
O trecho faz
mais algumas curvas até chegar próximo do recanto Grota Funda, e
são poucas as confusões causadas por árvores caídas. O primeiro
relato que li menciona que o 3º e o 4º trechos eram um só, mas que
foram separados por um desmoronamento, à partir do qual foi criado
um desvio entre ambos, forçando o visitante a passar pela estrada
novamente. Mas desconfiamos que não seja ali, pois nesse ponto tanto
é possível subir direto ao recanto, (por uma trilha íngreme),
quanto é possível descer ao rio Grota Funda, por outra ainda mais
acidentada, porém viável. E do outro lado sim, chega-se na estrada
por uma subida bem mais cômoda, e com indícios de ser a original.
Cascatas Do Rio Grota Funda
Ao cruzar esse
rio, a maioria dos trilheiros perde a chance de conhecer a cascata
que existe 80m acima, a qual varia muito em volume conforme o
período do ano, sendo que mais vale a pena no verão. Andando pelo
leito, não há dificuldades senão os galhos caídos. Se só ela o visitante quer conhecer, convém descer do recanto pela trilha do lado oposto do
rio. Para conhecer a cascatinha de cima, desce-se ao rio pelo outro lado da estrada. Dela,
aliás, já se vê o vulto da queda d'água, a qual é mais espraiada
que a de baixo. Da ponte seguinte é visível a profundidade da
grota, ainda mais abrupta em comparação à que dá nome ao recanto.
O
“Misterioso” Quarto Trecho
Nunca o percorri. Inicia
adiante de um ponto perto do qual dizem ser visíveis as Cachoeiras Gêmeas.
Tinha lido que dele saía um ramal que desce até o rio Mãe
Catira, sabe lá com qual propósito.
Aparentemente é um pouco mais curto que o anterior, e seu fim é
pouco antes do recanto Bela Vista. Cheguei a andar na saída dele, mas tendo menos destreza que agora, não fui longe e preferi abandona-lo.
O Quinto Trecho
Depois do
Bela Vista, chega-se a uma curva que é a mais acentuada até então.
O verdadeiro início deste próximo calçamento seria um pouco para frente, ao lado de um
riachinho, cuja ponte criara um desnível ruim. Isso induziu as pessoas a entrarem pelo atalho direto na curva; sendo que em poucos metros a picada já encontra o trajeto original.
Paralelamente, com certa distância à direita, corre outro riacho,
que nasce numa das fendas do Morro Mãe Catira; e que tem uma curta
trilha desde o recanto anterior, para manutenção do cano de água
que o abastece. O presente trecho é mais aberto e menos acidentado que o 3º, por exemplo; e para não desviar do rumo basta cuidar os contornos dos troncos caídos.
Nota-se
a inteligência com que o caminho todo foi construído. Em vários
locais não é apenas uma trilha normal ao nível do solo, como deve
ter sido enquanto picada indígena antes da colônia, mas sim um
percurso ora elevado, ora rebaixado aproximadamente em 1m com relação
à parte mais alta do barranco. Também se vê onde a terra foi
mexida para o escoamento de água da chuva; um contraste interessante
de uma coisa que é ao mesmo tempo “artesanal”, porém muito
eficiente. Só em um lugar a estrutura de um caminho antigo me
impressionou mais, que foi a descida do Canion da Pedra, entre
Cambará Do Sul (RS) e Jacinto Machado (SC). O trecho termina no
penúltimo recanto, o Curva Da Ferradura.
A calçada de
paralelepípedos desse recanto, que desce para direita atrás do
quiosque, termina numa trilha que leva até uma cascatinha, a qual
fica no mesmo riacho onde se capta água para o Bela Vista, lá em
cima.
Cachoeiras
Impermanentes Do Morro Mãe Catira
Aqui mais um
parêntese, esta vez para um espetáculo da natureza que são as
enormes quedas d'água formadas em dia de chuva, desde o platô entre
o Morro Do Sete e o Mãe Catira. Em dias normais são apenas dois
filetes invisíveis à distância, que formam um riachinho perto da
Casa De Pedra, mas basta uma precipitação forte para que se
transformem nas torrentes que nem todos têm a sorte de ver. Isso
porque parte das vezes, a mesma tormenta que as gera, também as
encobre. Na base, a água atinge uma fenda que é maior que a do
riacho no recanto Ferradura, mais adiante do qual ambos se unem para
seguir em paralelo ao último calçamento do caminho, à certa
distância dele. Este é o recanto de onde melhor se vê o fenômeno,
embora seja observável até das proximidades de São João da
Graciosa.
O Sexto Trecho
Mais uma vez
são 2 os acessos; o calçamento mesmo inicia entre a saída do
recanto e a estrada, mas muitos usam a trilha que sai detrás do
banheiro. Logo encontram-se, e desde ali é o trecho menos inclinado.
Aproximando-se do seu final ouve-se os barulhos, principalmente
latidos dos cachorros, pois lá junto ao recanto Mãe Catira existe
uma casa. Ocorre que estão sempre presos e não há risco de
virem até a trilha.
O calçamento
chega no meio do Mãe Catira, que é o maior dos 6 recantos. Até ao lado das churrasqueiras, as pedras ainda estão
preservadas. Vários trilheiros concluem o dia com um banho no rio
Mãe Catira em vez das cascatinhas, mas nesse caso recomendo usar a
trilhazinha de frente para o último quiosque, e não a ponte de
ferro, porque nela sempre há muita gente, é mais tumultuado.
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Caminho Original Da Graciosa - Parte 1
Por
diversos motivos, entre saber da existência dos caminhos coloniais
da Serra do Mar, em 1997, e chegar a percorrer um deles pela primeira vez, dez
anos tive que esperar. No êxtase de ter conhecido o Itupava, diligentemente busquei saber como chegar às outras duas trilhas mencionadas no
guia
Eco Verão, que foi o principal dos informativos turísticos de
outrora, trazedor de tanto fascínio a respeito daquele mundo
remoto que era a floresta atlântica. Sendo descrito apenas
como um “trajeto distinto da rodovia”, o caminho colonial que a originou parecia ser o menos interessante dos 3, pois diante do afã em desbravar aquela parte da serra, já considerava a
própria estrada como objeto de saciedade quase
suficiente. Vê-la
da janela de um ônibus, e isso ter sido quase tão distante como
vê-la por uma TV, foram o bastante para querer pôr o pé no chão novamente.
Duas
referências encontrei, sendo um tracklog impreciso (que hoje concluo
ter sido desenhado à mão), mas que mesmo assim veio a ser útil; e
o relato de alguém que, para conhecer a rota inteira, precisou mais
de uma investida, tal como me aconteceria. O caminho consiste de 6
trechos calçados que intercalam a rodovia, precedidos por outro,
bastante deteriorado, que não se costuma percorrer. São
aproximadamente 8 km de história, descobertas, cascatas e paisagens.
Com uma experiência muito
menor que hoje e sem saber os pontos exatos de início, conseguimos na primeira investida andar só pelos segmentos 2 e 5, sendo o restante pela estrada; entretanto no momento isso já nos satisfez.
A Casa De Pedra
As ruínas da
centenária casa que pertenceu ao preservacionista Johannes Garbers
são parada quase obrigatória para quem desce o caminho. Está
localizada 700m para dentro na via chamada Graciosa Velha,
ou “Trilha” do Alemão, estradinha que liga a Graciosa atual à
Av. D. Pedro II; é a última entrada à direita antes do mirante.
Quem chega de ônibus deve comprar passagem até a localidade Alto da
Serra, para não pagar o valor inteiro até São João ou Morretes; e
atualmente são dois os horários
que saem de Curitiba, 07:45 e 09:00. Há que se cuidar
com alguns dias do ano em que a estrada é fechada para eventos
esportivos, pois embora não transcorram o dia inteiro, causam a
suspensão dessas linhas.
A casa é
mais visitada por estar no ponto de partida das trilhas para o Morro Mãe
Catira, Sete, Polegar e travessia da Farinha Seca. Ao lado da ruína
está a casa do caseiro, que cobra R$ 20,00 pelo estacionamento, mas
sempre franqueou a entrada para pedestres. É
recomendado chegar devagar para não provocar seus numerosos
cachorros, embora nem sempre estejam presentes. A Casa de Pedra em si é um ambiente pitoresco – ao mesmo
tempo sombrio mas acolhedor; com suas frequentes neblinas, e o mato
em volta, ora alto, ora bem roçado. Sob sua lareira se vê um fundo
buraco onde alguma mente rasa veio um dia cavar e depredar para
buscar ouro. Entre as duas partes do terreno corre o Rio Do Corvo,
cuja cachoeira conhecida (mencionada como "Do Riva") está apenas 400m à montante; e nela uma
corda permite subir ao topo; mas o que existe adiante dela já é
outra história. Para baixo, este mesmo rio é cruzado pela
estradinha, e paralelo a ele inicia uma
certa trilha, também interessante.
O
Labirinto Entre A Casa De Pedra E O Recanto Engenheiro Lacerda
Vindo de algum
lugar na direção de Quatro Barras, está pouco visível o
calçamento de pedras construído há mais de 180 anos, que tinha
naquele terreno apenas um local de passagem. A casa simplesmente o
interrompe, dando indício de ter sido edificada posteriormente, e
não há 200 anos como alguns creem. Para o outro lado não se o
distingue, e o que existe é um carreiro na relva baixa até alguns
metros, onde se adentra a densa floresta – desde então tudo
torna-se um complicado labirinto.
Há trilhas para todos os lados, partes muito fechadas, travessias de pequenos charcos, mas também pontos onde se tem a certeza de estar pisando sobre o calçamento original, pela forma aplainada e firme, e pela gramínea típica que recobre aquelas pedras quando não são percorridas. O visitante sente-se como um arqueólogo. Crendo na descrição errada que nos baseou, pensávamos que o correto seria sair na captação de água do mirante (Engenheiro Lacerda), e que o 1º trecho íntegro do calçamento era o que corta a curva seguinte. Mas não; esse pedaço deteriorado do caminho deve apenas levar o visitante de volta para a estrada, se não estiver fechado demais; a fim de que em seguida adentre o verdadeiro 1º trecho bom, no lado oposto da rodovia. Um mapa ao final da página esclarecerá o que verbalmente soa tão complicado
O Primeiro Trecho Íntegro
Este segmento
que conhecemos tardiamente (e de trás para frente) tem sua entrada à
esquerda, aproximadamente 87 metros antes da placa que demarca a
divisa de município, entre Quatro Barras E Morretes. Sem
acostamento, às vezes entre cipós e mato mais alto, somente o
começo é ruim, porque logo se alarga, antes de cruzar um riachinho.
Segue mais ou menos paralelo a ele, até sair adiante do 1º recanto;
perfazendo 371m.
O Segundo Trecho
235m à frente
do mirante, e apenas 30m à frente da saída do segmento anterior, fica a continuidade da trilha, sendo essa parte a mais curta e inequívoca das 6. Ali, como na última, também há
um buraco feito à procura de ouro. Por algum motivo, do começo ao
fim da Graciosa, as teias são até um pouco mais constantes que em
outros caminhos. Não são de espécies perigosas, e na maioria das
vezes as aranhas nem estão presentes, mas se quem anda na frente não
se cuida, pode até tecer uma blusa com tantos fios que acumula.
Em pouco tempo encontra-se novamente a estrada, 280m antes do recanto Rio Cascata. Esse nome se deve à quedinha ali existente, no mesmo riacho que abastece o recanto anterior. Sendo normalmente modesta, impressiona um pouco em dias de cabeça d'água. Para ir do fim do 1º trecho calçado à entrada do 2º, basta atravessar a estrada e dar uns passos à esquerda; sendo ela menos ou mais visível conforme a época.
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terça-feira, 6 de outubro de 2015
Guia Eco Verão
Não
é de hoje que o litoral paranaense, por ter a sua população
multiplicada durante cada veraneio, recebe do governo os recursos e
as atenções correspondentes, na forma de operações sazonais
voltadas ao turismo, do qual toda a sua economia depende. Num recente
passado, em tempos de orelhões cor de laranja e dólar a R$1,16; a
então operação Eco Verão (que atualmente perdeu o "Eco")
trazia consigo além de policiais e bombeiros, um guia informativo
gratuito mais completo e de mais alta qualidade gráfica que os
distribuídos nas últimas temporadas. Um compêndio descritivo de
várias atrações dos 7 municípios denotava os melhores esforços
de quem o elaborara, a fim de que o veranista dispusesse de todos os
conhecimentos para desfrutar e gastar nas nossas praias.
Outrora
facilmente acessível, a edição de 1998 hoje é quase rara,
encontrada somente em alguns sebos - de um dos quais agora trago em
duas formas.
Baixar pelo link:
Visualizar no navegador, com qualidade um pouco menor em:
/
A
qualidade das imagens não é 100%, mas todo o conteúdo está presente. Nessas 117 páginas, uma versão bem
ampliada da de 1997, há algo de muito nostálgico especialmente para
quem conheceu e curtiu o litoral do Paraná àquela época.
As
imagens que o ilustraram foram desenhadas por um artista de talento,
que juntava as representações dos locais numa maneira bem parecida
com a que faz nossa imaginação ou memória afetiva sobre
determinada região; e todos os seus elementos, desde os ícones,
pareciam estrategicamente criados para instigar nossa
vontade de aproveitar cada ponto turístico.
Uma
enormidade de atrativos do litoral, talvez por desconhecimento,
estavam ausentes; e algumas descrições continham informações
imprecisas; mas por outro lado constavam alguns que, de tão
"longínquos", são ainda hoje pouco conhecidos da maioria
dos turistas, como o Rio Pasmado e a Serra Gigante. As histórias dos
caminhos coloniais, por exemplo, que foram tema inicial desse blog,
traziam uma linguagem vagamente semelhante à do livro de Júlio
Estrela Moreira, quem por sua vez tivera como fonte maior as "Memórias
Cronológicas" do historiador Vieira Dos Santos, (Séc. XIX).
É
perceptível que nos guias dos anos seguintes, geralmente mais
simples e sucintos, o padrão dos textos é basicamente o mesmo,
inclusive nas imprecisões. E talvez ainda hoje muitos litorâneos
não lhe façam caso, descartando-o às vezes como folheto de
propaganda. Mas quem ainda tiver outros materiais turísticos do
litoral, anteriores ao ano 2000, e deseje compartilha-los, é favor
entrar em contato com o e-mail gomes681@gmail.com
Passado
algum tempo, também tive acesso à versão de 1997; e aqui está
para download (.rar):
Não
sendo muitas páginas, o arquivo tem pouco menos de 5Mb. E este é o
link para leitura online (menor qualidade):
Em 1997, para um olhar curioso, um "mundo" cabia nessa imagem... |
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Caminho Do Arraial
Um dos
principais caminhos coloniais que faziam a ligação entre o litoral
do Paraná e o altiplano onde Curitiba se situa, o Arraial foi via
importante por onde passou a história do estado, sendo partícipe na
sua formação e na sua identidade. Anteriormente com 10,75 léguas,
ou 53,7 km, seu calçamento de pedras enveredava a Mata Atlântica no
enorme desnível da Serra do Mar, unindo o atual município de São
José Dos Pinhais com o Porto Fluvial Do Padre Veiga, em Morretes,
por onde circulavam as mercadorias vindas ou destinadas ao trânsito
marítimo. Palco por três séculos e meio de aventuras, dores e
fortunas, fora em tempos pré-cabralinos possivelmente uma picada por
onde a nação indígena Carijó se deslocava, ora à baixada na
época de mariscos, ora de volta ao planalto na época do pinhão.
A despeito de
tal origem, nunca constituiu um “ramal” do Caminho do Peabiru,
como levianamente se divulga; tampouco uma simples “estrada dos
Jesuítas”. Degradado hoje por obras estruturais e pelo imerecido
esquecimento, representa um valioso patrimônio paranaense relegado
ao longo de alguns quilômetros de floresta. Deu também origem a
este blog, cuja intenção antes dos relatos de trilha seria tratar
sobre história. Depois da tentativa frustrada, em 2013, de encontrar
seus trechos preservados (como citado noutro artigo), fizemos novas
visitas aos seus arredores, durante as descobertas das cachoeiras 1 e
2 da parte alta do Rio Fortuna; e também as do Rio Da Serra. As
mesmas pessoas que nos orientaram sobre esses rios acabaram
esclarecendo detalhes do Caminho Do Arraial. Passados alguns anos,
este artigo deixa de ser um resumo histórico com um parêntese sobre
a descrição atual, e passa a ser um relato da trilha atual, com um
longo parêntese sobre sua história.
De tudo o que
restou, o Arraial ao sul da BR-277 e o Arraial ao norte dela são
dois mundos diferentes. Menções aos possíveis trechos calçados
incluem descobertas feitas no tempo dos estudos para criação do
Parque Guaricana. Nunca pisamos no lado sul; esperamos fazê-lo um
dia, e imaginamos que seja uma paisagem de planalto rural, bucólica
e tranquila como os demais interiores de São José Dos Pinhais. Já
o lado norte, a descida da serra, é o contrário; um florestão
perpetuamente disposto a fazer sumir o calçamento existente. Tendo o
oleoduto OLAPA como o "eixo" do passeio, percorremos 2 dos
seus prováveis 5 trechos, totalizando 1,79Km que são a parte em que
se pode andar sem grande dificuldade.
Acesso |
Iniciamos na
1ª estrada de servidão da Petrobras, pois nossa intenção era
andar noutra parte do calçamento desde cima, o que não foi possível
por estar a mata muito fechada, e dessa forma acabaríamos gastando
todo o tempo disponível numa só parte do trajeto. Descemos pela
faixa de servidão até o Rio Da Serra, onde mostrei à minha amiga a
cascata mais próxima, e logo seguimos para a entrada do trecho maior
do Arraial, único que conhecia desde pouco tempo. A localização de
cada coisa, assim como as distâncias e aquilo que presumimos ficarão
bem claros no mapa seguinte. Estava bem mais limpo que na vez
anterior, mas foi só nos 320 primeiros metros até a torre da linha
de transmissão, creio eu, para uso dos funcionários da Copel. É
interessante pensar que os séculos passaram, e o caminho continua
sendo útil para alguém.
E tão roçado
estava, que foi possível ver e ouvir ao longe o Salto Da Fortuna e
as outras duas cachoeiras acima dele. Em seguida cruzamos um breve
pedaço de floresta que separa ambas linhas de transmissão; e sob a
segunda delas encontramos o bananal onde a trilha se torna bastante
intrincada, antes de retomar a descida. Esta é a única parte que pode
confundir um pouco. Entre a reentrada na floresta e a chegada na
trilha do Fortuna, pode-se dizer que é o centro do passeio. Em
trilhas antigas percorridas por mulas, mesmo as que não chegaram a
ser calçadas, observa-se frequentemente que ao menos uma das
laterais é mais alta, como se o caminho tivesse sido abaixado e
aplainado. E de quando em quando, passa-se por vestígio de
escoamento de água, na lateral oposta. Cuidar tal detalhe é
garantia de não sair da rota certa, mesmo havendo várias curvas e
trechos onde a folhagem cresceu.
O mesmo Rio Da
Serra por onde passamos antes curva-se para encontrar o Fortuna, e no
final da descida é o seu ruído que predomina, quase abafando o de
um filete d'água que existe à direita da trilha. A 75m de distância
dela, no lado esquerdo, há uma vala murada que é o que restou de um
dos beneficiamentos de erva mate da região. Mal aparece o vestígio
até ele; a mata já quase o engoliu. Quando inteiro, o Arraial virava um pouco à direita e seguia até o segmento conservado
que hoje se conhece. Mas infelizmente houve um desmoronamento,
sabe-se lá em que época, obrigando os passantes a usarem um curto
desvio um pouco duvidoso até alcançar a trilha do Fortuna. Nela
fomos até o 1º cruzamento de rio, mas só para descansar um pouco
pois naquele dia tínhamos receio de cabeça d'água; e até já
estava garoando um pouco.
Já na parte
preservada, lembro o que senti quando anos atrás pisei aquelas
pedras pela 1ª vez; toda a curiosidade e desconfiança de que talvez
nunca chegasse a conhecer sua continuação, tanto para cima, quanto
para baixo. Esta era a parte que então faltava, e sem saber em que
condições a encontraríamos, tínhamos o desafio de percorrê-la
inteira, até a saída de volta no oleoduto. Facão ali é cômodo,
mas nem de longe é necessário; há bastante espaço para andar, e
até mais da metade da distância, a lateral alta na direita é bem
reconhecível. Até que aparecem vestígios para a esquerda, em
terreno mais lamacento e sem pedras, resultando numa trilha estreita
cujo sentido era o que queríamos, de modo que saímos na faixa de
servidão.
Parte preservada que coincide com a trilha do Salto Fortuna. Na 4ª imagem, a entrada da continuação, rumo ao oleoduto. |
Foi-nos dito
que do outro lado dela há um último trecho em pior estado, que
seria necessário investigar de baixo para cima, por assim ser menos
complicado. Não estava roçado o mato, no que nos restava para andar
no oleoduto, mas havia uma picada nele; e em pouco tempo cruzamos o
início da trilha normal do Fortuna, para em seguida chegar ao Sítio
Vanessa. Lá viríamos a conseguir uma carona. A caminho do centro de
Morretes, sabemos da existência de pelo menos uma casa em cujo
terreno ainda existem pedras do Arraial. Parece até algo recente, uma
calçada comum. Dos remanescentes deste
caminho que fez parte da história de tantos homens e mulheres do
nosso estado, é justo ali onde corre o menor risco de ser destruído.
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