quarta-feira, 21 de junho de 2017

Cachoeiras Do Rio Itararé

Procurando resolver certa dúvida com a carta topográfica “Pedra Branca Do Araraquara”, tempos atrás me surpreendeu a informação “de mão beijada” sobre a existência de uma cachoeira no Rio Itararé (divisor entre Tijucas Do Sul e Guaratuba), num ponto ao norte da BR-376, cuja margem oposta dá acesso ao Morro dos Perdidos. Não a famosa (ou melhor, as famosas) que ficam dentro da propriedade, e que são o complemento ideal para o passeio no cume, mas outra, nominada “Cachoeira Dos Jesuítas”. Fato raro, pois quando muito encontra-se nesses mapas apenas um tracinho situando a queda, ou às vezes uma desinteressada abreviação “Cach”, como foi o caso da Colle, em Quatro Barras.


Antes de formar a atraente visão que se tem até mesmo da estrada, o rio Itararé desce a floresta da encosta leste do Morro Araçatuba, e passa (provavelmente) por cascatas menores, até atingir as grandes quedas que estão a 'módicos' dez reais de distância do visitante. Menos gente sabe que a beleza não termina ali, e que para baixo da ponte há outra cachoeira, com características distintas, cuja trilha inicia à esquerda da rodovia, a 310m da P.R.F.


O percurso começa atravessando um filete d'água que corre paralelamente à pista, onde a descida é suave, mas o barranquinho oposto é bem íngreme; sendo este o único ponto ruim do primeiro trecho. Pouco antes da chegada, vê-se um outro caminho, para a direita, que leva ao topo da cachoeira; e quem optar por conhecê-lo deve cuidar bastante com o declive. É uma larga queda d'água, que não lembra as da Serra do Mar e litoral, e sim as da região central do estado. O poço é amplo, e de frente para ele as rochas são fendidas de modo que parece proposital, como para o visitante se sentar diante dela com certo conforto.

Viria a saber que mais tarde a Cachoeira 1 foi marcada por alguém no Google como "Cachoeira Alemão-Cwb", e que infelizmente esse nome foi acreditado por muita gente. Provavelmente trata-se de algum usuário que, em vez de se informar com moradores, ou em último caso batizar o lugar com um nome neutro, resolveu dar seu próprio apelido ou nome de usuário dentro do Google; atitude essa que nos parece simplesmente asquerosa.




Abaixo do poço, a água corre por mais uma parte espraiada, aonde se chega pela esquerda, por uma pedra bem no canto, evitando com isso passar entre as do meio. Ao cruzar esse ponto, com maior distância da cachoeira, pode-se tirar ótimas fotos. Também se nota que à jusante, o desnível do rio continua, e muito. Forma-se uma longa cascata, bem aberta, não muito íngreme, mas também bonita. Na margem direita é fácil perceber uma trilha que acompanha o rio e segue paralela a ela, entre um pouco de mata, mas com boa vista desde alguns pontos. A trilha alcança uma parte do rio onde a água perde velocidade; até ali ainda se vê indícios de presença humana. 


Depois já não é inequívoca, e exige em alguns pontos que se ande pelo rio, mas em parte rasa. A recompensa, mais adiante, é um local aberto onde a água se divide e forma cascatas menores, uma das quais mais vertical, ponto esse bem menos frequentado. Chega a ser um local mais agradável que o poço maior. Do barranco direito vem uma certa trilha, que inicia na chácara vizinha, cujo dono foi quem me indicou essas cascatas, às quais eu já pretendia ir porque suspeitava da existência. Desde a BR são aproximadamente 600m de caminhada até elas. Mas qual exatamente é a Cachoeira dos Jesuítas, mostrada no mapa? Só viria a descobrir isso 2 anos depois.



Dentre os muitos ônibus que passam pela localidade, só duas empresas a atendem; uma é a Catarinense, que só serve na ida, porque na volta não para na estrada. Paga-se a passagem inteira até Garuva. A empresa que serve na ida e na volta é a Expresso Maringá, com os ônibus que vão para Guaratuba. Recomenda-se embarcar não na rodoviária de Curitiba, encarecida pela taxa de embarque, e sim na Agência Pinheirão de são José dos Pinhais, onde os primeiros horários de ida são 07:20 e 11:20; e os últimos de volta são 12:15. 14:45, 16:20, 18:45 e 20:15. R$17,80. Há o risco de o ônibus vir lotado e não parar na estrada. Mais que em outros lugares, sem entrar em detalhes, desaconselha-se pegar carona ali. Horários consultados em 06/2017. O telefone da agência é 3384-2647; mas quase nunca atendem.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Caminho Original Da Graciosa - Parte 2



 O Terceiro Trecho Calçado


Antes de andar 100m, vê-se à esquerda um discreto ramal que vai em direção às trilhas do marco 22 (Cachoeiras Gêmeas, Salto Mãe Catira, etc.), e quem anda nele precisa estar alerta para encontrar sua continuação depois de um riachinho. Voltando ao principal, no dia em que conhecemos o 3º trecho, era a 2ª vez que descíamos a Graciosa; quando ao cabo de 500 metros nosso grupo acabou se atrapalhando numa bifurcação por causa do calçamento que desaparecia. Assim tivemos de retornar pelo início, prejudicados novamente pela inexperiência; porém antes ainda paramos num curso d'água a fim de recolher mica, convencidos pela tolice de alguém que jurava estarmos levando ouro para casa. O trajeto certo, que hoje nos parece fácil, encontra outra altura do Rio Cascata e mais algumas bifurcações 'inofensivas', uma das quais parte da direita e hoje sabemos que encontra a estrada.

O trecho faz mais algumas curvas até chegar próximo do recanto Grota Funda, e são poucas as confusões causadas por árvores caídas. O primeiro relato que li menciona que o 3º e o 4º trechos eram um só, mas que foram separados por um desmoronamento, à partir do qual foi criado um desvio entre ambos, forçando o visitante a passar pela estrada novamente. Mas desconfiamos que não seja ali, pois nesse ponto tanto é possível subir direto ao recanto, (por uma trilha íngreme), quanto é possível descer ao rio Grota Funda, por outra ainda mais acidentada, porém viável. E do outro lado sim, chega-se na estrada por uma subida bem mais cômoda, e com indícios de ser a original.

Cascatas Do Rio Grota Funda

Ao cruzar esse rio, a maioria dos trilheiros perde a chance de conhecer a cascata que existe 80m acima, a qual varia muito em volume conforme o período do ano, sendo que mais vale a pena no verão. Andando pelo leito, não há dificuldades senão os galhos caídos. Se só ela o visitante quer conhecer, convém descer do recanto pela trilha do lado oposto do rio. Para conhecer a cascatinha de cima, desce-se ao rio pelo outro lado da estrada. Dela, aliás, já se vê o vulto da queda d'água, a qual é mais espraiada que a de baixo. Da ponte seguinte é visível a profundidade da grota, ainda mais abrupta em comparação à que dá nome ao recanto.


O “Misterioso” Quarto Trecho

Nunca o percorri. Inicia adiante de um ponto perto do qual dizem ser visíveis as Cachoeiras Gêmeas. Tinha lido que dele saía um ramal que desce até o rio Mãe Catira, sabe lá com qual propósito. Aparentemente é um pouco mais curto que o anterior, e seu fim é pouco antes do recanto Bela Vista. Cheguei a andar na saída dele, mas tendo menos destreza que agora, não fui longe e preferi abandona-lo.

O Quinto Trecho

Jacuguaçu
Caramujo Gigante Branco
Depois do Bela Vista, chega-se a uma curva que é a mais acentuada até então. O verdadeiro início deste próximo calçamento seria um pouco para frente, ao lado de um riachinho, cuja ponte criara um desnível ruim. Isso induziu as pessoas a entrarem pelo atalho direto na curva; sendo que em poucos metros a picada já encontra o trajeto original. Paralelamente, com certa distância à direita, corre outro riacho, que nasce numa das fendas do Morro Mãe Catira; e que tem uma curta trilha desde o recanto anterior, para manutenção do cano de água que o abastece. O presente trecho é mais aberto e menos acidentado que o 3º, por exemplo; e para não desviar do rumo basta cuidar os contornos dos troncos caídos.

Nota-se a inteligência com que o caminho todo foi construído. Em vários locais não é apenas uma trilha normal ao nível do solo, como deve ter sido enquanto picada indígena antes da colônia, mas sim um percurso ora elevado, ora rebaixado aproximadamente em 1m com relação à parte mais alta do barranco. Também se vê onde a terra foi mexida para o escoamento de água da chuva; um contraste interessante de uma coisa que é ao mesmo tempo “artesanal”, porém muito eficiente. Só em um lugar a estrutura de um caminho antigo me impressionou mais, que foi a descida do Canion da Pedra, entre Cambará Do Sul (RS) e Jacinto Machado (SC). O trecho termina no penúltimo recanto, o Curva Da Ferradura.

A calçada de paralelepípedos desse recanto, que desce para direita atrás do quiosque, termina numa trilha que leva até uma cascatinha, a qual fica no mesmo riacho onde se capta água para o Bela Vista, lá em cima.


Cachoeiras Impermanentes Do Morro Mãe Catira


Aqui mais um parêntese, esta vez para um espetáculo da natureza que são as enormes quedas d'água formadas em dia de chuva, desde o platô entre o Morro Do Sete e o Mãe Catira. Em dias normais são apenas dois filetes invisíveis à distância, que formam um riachinho perto da Casa De Pedra, mas basta uma precipitação forte para que se transformem nas torrentes que nem todos têm a sorte de ver. Isso porque parte das vezes, a mesma tormenta que as gera, também as encobre. Na base, a água atinge uma fenda que é maior que a do riacho no recanto Ferradura, mais adiante do qual ambos se unem para seguir em paralelo ao último calçamento do caminho, à certa distância dele. Este é o recanto de onde melhor se vê o fenômeno, embora seja observável até das proximidades de São João da Graciosa.


O Sexto Trecho

Mais uma vez são 2 os acessos; o calçamento mesmo inicia entre a saída do recanto e a estrada, mas muitos usam a trilha que sai detrás do banheiro. Logo encontram-se, e desde ali é o trecho menos inclinado. Aproximando-se do seu final ouve-se os barulhos, principalmente latidos dos cachorros, pois lá junto ao recanto Mãe Catira existe uma casa. Ocorre que estão sempre presos e não há risco de virem até a trilha.

Antes de chegar no final, existem 3 entradas para a direita, separadas por pouca distância, sendo uma para captação de água no riozinho, e as outras duas com cascatinhas pequenas, que consideramos como a melhor forma de encerrar o passeio. A última é a mais bonita; um dos poços é uma piscina deliciosa. Curioso é que para o lado oposto do riacho existe um caminho (sem calçamento) bem aberto no início, onde entrei até certo ponto, e vi que começa a curvar para a direita. Depois me informaram no recanto que outrora houve ali um bananal, e que a trilha não leva hoje a lugar algum; mas persiste a curiosidade de percorrê-la até o fim.

O calçamento chega no meio do Mãe Catira, que é o maior dos 6 recantos. Até ao lado das churrasqueiras, as pedras ainda estão preservadas. Vários trilheiros concluem o dia com um banho no rio Mãe Catira em vez das cascatinhas, mas nesse caso recomendo usar a trilhazinha de frente para o último quiosque, e não a ponte de ferro, porque nela sempre há muita gente, é mais tumultuado.


Caminho Original Da Graciosa - Parte 1

Por diversos motivos, entre saber da existência dos caminhos coloniais da Serra do Mar, em 1997, e chegar a percorrer um deles pela primeira vez, dez anos tive que esperar. No êxtase de ter conhecido o Itupava, diligentemente busquei saber como chegar às outras duas trilhas mencionadas no guia Eco Verão, que foi o principal dos informativos turísticos de outrora, trazedor de tanto fascínio a respeito daquele mundo remoto que era a floresta atlântica. Sendo descrito apenas como um “trajeto distinto da rodovia”, o caminho colonial que a originou parecia ser o menos interessante dos 3, pois diante do afã em desbravar aquela parte da serra, considerava a própria estrada como objeto de saciedade quase suficiente. Vê-la da janela de um ônibus, e isso ter sido quase tão distante como vê-la por uma TV, foram o bastante para querer pôr o pé no chão novamente.

Duas referências encontrei, sendo um tracklog impreciso (que hoje concluo ter sido desenhado à mão), mas que mesmo assim veio a ser útil; e o relato de alguém que, para conhecer a rota inteira, precisou mais de uma investida, tal como me aconteceria. O caminho consiste de 6 trechos calçados que intercalam a rodovia, precedidos por outro, bastante deteriorado, que não se costuma percorrer. São aproximadamente 8 km de história, descobertas, cascatas e paisagens. Com uma experiência muito menor que hoje e sem saber os pontos exatos de início, conseguimos na primeira investida andar só pelos segmentos 2 e 5, sendo o restante pela estrada; entretanto no momento isso já nos satisfez.

A Casa De Pedra



As ruínas da centenária casa que pertenceu ao preservacionista Johannes Garbers são parada quase obrigatória para quem desce o caminho. Está localizada 700m para dentro na via chamada Graciosa Velha, ou “Trilha” do Alemão, estradinha que liga a Graciosa atual à Av. D. Pedro II; é a última entrada à direita antes do mirante. Quem chega de ônibus deve comprar passagem até a localidade Alto da Serra, para não pagar o valor inteiro até São João ou Morretes; e atualmente são dois os horários que saem de Curitiba, 07:45 e 09:00. Há que se cuidar com alguns dias do ano em que a estrada é fechada para eventos esportivos, pois embora não transcorram o dia inteiro, causam a suspensão dessas linhas.

A casa é mais visitada por estar no ponto de partida das trilhas para o Morro Mãe Catira, Sete, Polegar e travessia da Farinha Seca. Ao lado da ruína está a casa do caseiro, que cobra R$ 20,00 pelo estacionamento, mas sempre franqueou a entrada para pedestres. É recomendado chegar devagar para não provocar seus numerosos cachorros, embora nem sempre estejam presentes. A Casa de Pedra em si é um ambiente pitoresco – ao mesmo tempo sombrio mas acolhedor; com suas frequentes neblinas, e o mato em volta, ora alto, ora bem roçado. Sob sua lareira se vê um fundo buraco onde alguma mente rasa veio um dia cavar e depredar para buscar ouro. Entre as duas partes do terreno corre o Rio Do Corvo, cuja cachoeira conhecida (mencionada como "Do Riva") está apenas 400m à montante; e nela uma corda permite subir ao topo; mas o que existe adiante dela já é outra história. Para baixo, este mesmo rio é cruzado pela estradinha, e paralelo a ele inicia uma certa trilha, também interessante.


O Labirinto Entre A Casa De Pedra E O Recanto Engenheiro Lacerda

Vindo de algum lugar na direção de Quatro Barras, está pouco visível o calçamento de pedras construído há mais de 180 anos, que tinha naquele terreno apenas um local de passagem. A casa simplesmente o interrompe, dando indício de ter sido edificada posteriormente, e não há 200 anos como alguns creem. Para o outro lado não se o distingue, e o que existe é um carreiro na relva baixa até alguns metros, onde se adentra a densa floresta – desde então tudo torna-se um complicado labirinto.

Há trilhas para todos os lados, partes muito fechadas, travessias de pequenos charcos, mas também pontos onde se tem a certeza de estar pisando sobre o calçamento original, pela forma aplainada e firme, e pela gramínea típica que recobre aquelas pedras quando não são percorridas. O visitante sente-se como um arqueólogo. Crendo na descrição errada que nos baseou, pensávamos que o correto seria sair na captação de água do mirante (Engenheiro Lacerda), e que o 1º trecho íntegro do calçamento era o que corta a curva seguinte. Mas não; esse pedaço deteriorado do caminho deve apenas levar o visitante de volta para a estrada, se não estiver fechado demais; a fim de que em seguida adentre o verdadeiro 1º trecho bom, no lado oposto da rodovia. Um mapa ao final da página esclarecerá o que verbalmente soa tão complicado

O Primeiro Trecho Íntegro


Este segmento que conhecemos tardiamente (e de trás para frente) tem sua entrada à esquerda, aproximadamente 87 metros antes da placa que demarca a divisa de município, entre Quatro Barras E Morretes. Sem acostamento, às vezes entre cipós e mato mais alto, somente o começo é ruim, porque logo se alarga, antes de cruzar um riachinho. Segue mais ou menos paralelo a ele, até sair adiante do 1º recanto; perfazendo 371m.

Local aproximado da entrada e local exato da saída; respectivamente

O Segundo Trecho


Vista do mirante para a serra do Ibitiraquire

235m à frente do mirante, e apenas 30m à frente da saída do segmento anterior, fica a continuidade da trilha, sendo essa parte a mais curta e inequívoca das 6. Ali, como na última, também há um buraco feito à procura de ouro. Por algum motivo, do começo ao fim da Graciosa, as teias são até um pouco mais constantes que em outros caminhos. Não são de espécies perigosas, e na maioria das vezes as aranhas nem estão presentes, mas se quem anda na frente não se cuida, pode até tecer uma blusa com tantos fios que acumula.

Em pouco tempo encontra-se novamente a estrada, 280m antes do recanto Rio Cascata. Esse nome se deve à quedinha ali existente, no mesmo riacho que abastece o recanto anterior. Sendo normalmente modesta, impressiona um pouco em dias de cabeça d'água. Para ir do fim do 1º trecho calçado à entrada do 2º, basta atravessar a estrada e dar uns passos à esquerda; sendo ela menos ou mais visível conforme a época.


Entrada do segundo trecho



3 primeiros trechos

 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Guia Eco Verão


Não é de hoje que o litoral paranaense, por ter a sua população multiplicada durante cada veraneio, recebe do governo os recursos e as atenções correspondentes, na forma de operações sazonais voltadas ao turismo, do qual toda a sua economia depende. Num recente passado, em tempos de orelhões cor de laranja e dólar a R$1,16; a então operação Eco Verão (que atualmente perdeu o "Eco") trazia consigo além de policiais e bombeiros, um guia informativo gratuito mais completo e de mais alta qualidade gráfica que os distribuídos nas últimas temporadas. Um compêndio descritivo de várias atrações dos 7 municípios denotava os melhores esforços de quem o elaborara, a fim de que o veranista dispusesse de todos os conhecimentos para desfrutar e gastar nas nossas praias.

Outrora facilmente acessível, a edição de 1998 hoje é quase rara, encontrada somente em alguns sebos - de um dos quais agora trago em duas formas.

Baixar pelo link:

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A qualidade das imagens não é 100%, mas todo o conteúdo está presente. Nessas 117 páginas, uma versão bem ampliada da de 1997, há algo de muito nostálgico especialmente para quem conheceu e curtiu o litoral do Paraná àquela época.


As imagens que o ilustraram foram desenhadas por um artista de talento, que juntava as representações dos locais numa maneira bem parecida com a que faz nossa imaginação ou memória afetiva sobre determinada região; e todos os seus elementos, desde os ícones, pareciam estrategicamente criados para instigar nossa vontade de aproveitar cada ponto turístico.


Uma enormidade de atrativos do litoral, talvez por desconhecimento, estavam ausentes; e algumas descrições continham informações imprecisas; mas por outro lado constavam alguns que, de tão "longínquos", são ainda hoje pouco conhecidos da maioria dos turistas, como o Rio Pasmado e a Serra Gigante. As histórias dos caminhos coloniais, por exemplo, que foram tema inicial desse blog, traziam uma linguagem vagamente semelhante à do livro de Júlio Estrela Moreira, quem por sua vez tivera como fonte maior as "Memórias Cronológicas" do historiador Vieira Dos Santos, (Séc. XIX).


É perceptível que nos guias dos anos seguintes, geralmente mais simples e sucintos, o padrão dos textos é basicamente o mesmo, inclusive nas imprecisões. E talvez ainda hoje muitos litorâneos não lhe façam caso, descartando-o às vezes como folheto de propaganda. Mas quem ainda tiver outros materiais turísticos do litoral, anteriores ao ano 2000, e deseje compartilha-los, é favor entrar em contato com o e-mail gomes681@gmail.com

Passado algum tempo, também tive acesso à versão de 1997; e aqui está para download (.rar):


Não sendo muitas páginas, o arquivo tem pouco menos de 5Mb. E este é o link para leitura online (menor qualidade):


Em 1997, para um olhar curioso, um "mundo" cabia nessa imagem...


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Caminho Do Arraial


Um dos principais caminhos coloniais que faziam a ligação entre o litoral do Paraná e o altiplano onde Curitiba se situa, o Arraial foi via importante por onde passou a história do estado, sendo partícipe na sua formação e na sua identidade. Anteriormente com 10,75 léguas, ou 53,7 km, seu calçamento de pedras enveredava a Mata Atlântica no enorme desnível da Serra do Mar, unindo o atual município de São José Dos Pinhais com o Porto Fluvial Do Padre Veiga, em Morretes, por onde circulavam as mercadorias vindas ou destinadas ao trânsito marítimo. Palco por três séculos e meio de aventuras, dores e fortunas, fora em tempos pré-cabralinos possivelmente uma picada por onde a nação indígena Carijó se deslocava, ora à baixada na época de mariscos, ora de volta ao planalto na época do pinhão.


A despeito de tal origem, nunca constituiu um “ramal” do Caminho do Peabiru, como levianamente se divulga; tampouco uma simples “estrada dos Jesuítas”. Degradado hoje por obras estruturais e pelo imerecido esquecimento, representa um valioso patrimônio paranaense relegado ao longo de alguns quilômetros de floresta. Deu também origem a este blog, cuja intenção antes dos relatos de trilha seria tratar sobre história. Depois da tentativa frustrada, em 2013, de encontrar seus trechos preservados (como citado noutro artigo), fizemos novas visitas aos seus arredores, durante as descobertas das cachoeiras 1 e 2 da parte alta do Rio Fortuna; e também as do Rio Da Serra. As mesmas pessoas que nos orientaram sobre esses rios acabaram esclarecendo detalhes do Caminho Do Arraial. Passados alguns anos, este artigo deixa de ser um resumo histórico com um parêntese sobre a descrição atual, e passa a ser um relato da trilha atual, com um longo parêntese sobre sua história.




De tudo o que restou, o Arraial ao sul da BR-277 e o Arraial ao norte dela são dois mundos diferentes. Menções aos possíveis trechos calçados incluem descobertas feitas no tempo dos estudos para criação do Parque Guaricana. Nunca pisamos no lado sul; esperamos fazê-lo um dia, e imaginamos que seja uma paisagem de planalto rural, bucólica e tranquila como os demais interiores de São José Dos Pinhais. Já o lado norte, a descida da serra, é o contrário; um florestão perpetuamente disposto a fazer sumir o calçamento existente. Tendo o oleoduto OLAPA como o "eixo" do passeio, percorremos 2 dos seus prováveis 5 trechos, totalizando 1,79Km que são a parte em que se pode andar sem grande dificuldade.

Acesso

Começo da descida
Iniciamos na 1ª estrada de servidão da Petrobras, pois nossa intenção era andar noutra parte do calçamento desde cima, o que não foi possível por estar a mata muito fechada, e dessa forma acabaríamos gastando todo o tempo disponível numa só parte do trajeto. Descemos pela faixa de servidão até o Rio Da Serra, onde mostrei à minha amiga a cascata mais próxima, e logo seguimos para a entrada do trecho maior do Arraial, único que conhecia desde pouco tempo. A localização de cada coisa, assim como as distâncias e aquilo que presumimos ficarão bem claros no mapa seguinte. Estava bem mais limpo que na vez anterior, mas foi só nos 320 primeiros metros até a torre da linha de transmissão, creio eu, para uso dos funcionários da Copel. É interessante pensar que os séculos passaram, e o caminho continua sendo útil para alguém.


E tão roçado estava, que foi possível ver e ouvir ao longe o Salto Da Fortuna e as outras duas cachoeiras acima dele. Em seguida cruzamos um breve pedaço de floresta que separa ambas linhas de transmissão; e sob a segunda delas encontramos o bananal onde a trilha se torna bastante intrincada, antes de retomar a descida. Esta é a única parte que pode confundir um pouco. Entre a reentrada na floresta e a chegada na trilha do Fortuna, pode-se dizer que é o centro do passeio. Em trilhas antigas percorridas por mulas, mesmo as que não chegaram a ser calçadas, observa-se frequentemente que ao menos uma das laterais é mais alta, como se o caminho tivesse sido abaixado e aplainado. E de quando em quando, passa-se por vestígio de escoamento de água, na lateral oposta. Cuidar tal detalhe é garantia de não sair da rota certa, mesmo havendo várias curvas e trechos onde a folhagem cresceu.



Antigo engenho de mate
O mesmo Rio Da Serra por onde passamos antes curva-se para encontrar o Fortuna, e no final da descida é o seu ruído que predomina, quase abafando o de um filete d'água que existe à direita da trilha. A 75m de distância dela, no lado esquerdo, há uma vala murada que é o que restou de um dos beneficiamentos de erva mate da região. Mal aparece o vestígio até ele; a mata já quase o engoliu. Quando inteiro, o Arraial virava um pouco à direita e seguia até o segmento conservado que hoje se conhece. Mas infelizmente houve um desmoronamento, sabe-se lá em que época, obrigando os passantes a usarem um curto desvio um pouco duvidoso até alcançar a trilha do Fortuna. Nela fomos até o 1º cruzamento de rio, mas só para descansar um pouco pois naquele dia tínhamos receio de cabeça d'água; e até já estava garoando um pouco.


Já na parte preservada, lembro o que senti quando anos atrás pisei aquelas pedras pela 1ª vez; toda a curiosidade e desconfiança de que talvez nunca chegasse a conhecer sua continuação, tanto para cima, quanto para baixo. Esta era a parte que então faltava, e sem saber em que condições a encontraríamos, tínhamos o desafio de percorrê-la inteira, até a saída de volta no oleoduto. Facão ali é cômodo, mas nem de longe é necessário; há bastante espaço para andar, e até mais da metade da distância, a lateral alta na direita é bem reconhecível. Até que aparecem vestígios para a esquerda, em terreno mais lamacento e sem pedras, resultando numa trilha estreita cujo sentido era o que queríamos, de modo que saímos na faixa de servidão.

Parte preservada que coincide com a trilha do Salto Fortuna. Na 4ª imagem, a entrada da continuação, rumo ao oleoduto.

Foi-nos dito que do outro lado dela há um último trecho em pior estado, que seria necessário investigar de baixo para cima, por assim ser menos complicado. Não estava roçado o mato, no que nos restava para andar no oleoduto, mas havia uma picada nele; e em pouco tempo cruzamos o início da trilha normal do Fortuna, para em seguida chegar ao Sítio Vanessa. Lá viríamos a conseguir uma carona. A caminho do centro de Morretes, sabemos da existência de pelo menos uma casa em cujo terreno ainda existem pedras do Arraial. Parece até algo recente, uma calçada comum. Dos remanescentes deste caminho que fez parte da história de tantos homens e mulheres do nosso estado, é justo ali onde corre o menor risco de ser destruído.