Fotos, vídeos e eventualmente os relatos e tracklogs de quase todas as trilhas, exploratórias ou não, que empreendemos no leste do PR - ou outras regiões, conforme possível. Enfoque oposto à indústria do turismo, e voltado ao interesse do usufrutuário dos atrativos naturais. Blog vinculado ao canal JEANDISANTI no Youtube.
Os 2 topos
superiores da modesta serra ao sudeste de Rio Branco Do Sul, chamados
Campina Dos Rosas e Morro Do Rio Comprido (ou "Pernambuco")
podem ser vistos do mirante próximo à Cachoeira Do Roncador, em
Colombo; porém não são visíveis entre si. Estando no primeiro
deles, a única paisagem que a mata nos impedia foi a direção do
outro, o qual erradamente pensávamos ser mais alto, e que no entanto
tinha 3m a menos (1235m). Seu
entorno é um planalto mais elevado que o do Campina; e sendo menor
esse desnível, há também pequena desvantagem na vista.
Ele
não é nada agudo, possui uma forma arredondada. Com
acesso mais a oeste, pela Rodovia Dos Minérios, não demoramos a
chegar na chácara da sua base, onde os moradores foram receptivos e
nos indicaram a estradinha interna, que chega quase ao cume. Dela
se vê bem a serra de Itaperuçu e outros contornos verdes no oeste.
Adentramos
o capinzal à esquerda do caminho para alcançar a cerca que limita a
propriedade; o topo está para além dela, num ponto que não
localizamos tão rápido, porque todo o terreno ali é abaulado;
coberto por pinus. Não fosse por eles, provavelmente o cenário para
o lado oposto seria excelente. Há ainda outro morro acima dos 1200m
nesse conjunto, porém "padece do mesmo mal". Como passeio,
não deixa de ser agradável, mas o ideal é que seja feito como
complemento de outras trilhas da região. Aquele dia escolhemos uma cascatinha no Rio Grande Da Laura.
Distante 4km
do centro de Bocaiuva Do Sul, a Usina do Roncador, que foi um dia a
única fonte de eletricidade do município, encontra-se há 40 anos
inativa e depredada no pouco que resta das suas antigas estruturas. A
queda d'água que movimentava as turbinas pertence ao Rio Capivari,
em cujo trecho na verdade ainda é chamado Roncador, tendo recebido
os afluentes Antinha, Mina e Água Comprida. Na carta topográfica de escala “1:250.000”, consta o local como Rio da Mina até o
encontro com o Bacaetava, de Colombo, porém em se tratando de nomes,
a tradição oral tende a prevalecer.
Foi-nos
mostrada por alguém da UTFPR uma elogiável ideia de revitalização
e reaproveitamento do potencial energético da usina, incluindo até um
pequeno laboratório para ensino sobre o assunto. O que falta é
dinheiro, especialmente para compra das novas turbinas. Sendo
escassas até as fontes de informação sobre as muitas histórias
que aquele ambiente deve ter, resta ao visitante desfrutar o atrativo
da sua cachoeira.
Para quem chega de Curitiba, logo de passar o centro, pode tanto entrar à esquerda na PR-506 (que vai para Rio Branco) e depois entrar na primeira à direita (via em mau estado); quanto pode escolher a saída seguinte da Ribeira - que é um pouco mais longa.
Deixa-se o
carro a pouca distância do topo da barragem, sobre a qual se pode
andar e ver a pequena parte de queda artificial acima da cascata
verdadeira. Pelo lado esquerdo de quem chega, inicia uma trilha
curta e lisa, mas não muito arriscada, que chega na frente do poço.
Ele é largo, o caminho contorna-o, e parece haver outra trilha vinda
das casas próximas.
O jorro d'água ora lembra um “x”, pela forma como se estreita, e também parece um pouco com a Cachoeira Quintilha, de Paranaguá, só que menor. Levando em conta a facilidade e a localização, vimos poucos vestígios ruins, não mais que uma ou duas latinhas jogadas no mato. Não só pelo frio foi que evitamos entrar no poço aquele dia. Há um grande orifício oculto na base da torrente, e dizem os locais que várias pessoas já morrerem nele quando abusam em nadar muito perto; de tal sorte que nem mergulhadores recuperaram os corpos. Pelo menos assim nos contaram.
Nota posterior: Para informações sobre o projeto de revitalização da usina, é favor escrever para: waltersanchez@utfpr.edu.br.
Quase junto à
divisa de Rio Branco do Sul com Bocaiuva, na bacia do Rio Santana,
nasce um afluente que corre de leste para oeste entre colinas não
tão distantes do Morro Campina Dos Rosas. Ouvimos menção ao que lá
existe de mais bonito enquanto conhecíamos a cascatinha de um certo
rio próximo; lugar aquele onde todos disseram não haver cachoeira
maior, porém tínhamos tanta esperança, que ainda me é difícil
resignar. O acesso ao Massaroca passa pela estrada do Bacaetava,
desde a qual um desinformado pode nem notar que já saiu de Colombo e
entrou noutro município. Ali buscávamos a cachoeira que nos
sugeriram, em seguida de ter visitado a do Roncador; e previmos que
ambos passeios se complementariam muito bem.
Depois de
deixar o asfalto, roda-se 4,8 km até sair ao lado de uma escola
rural, onde se entra à esquerda e logo depois à direita,
totalizando 9,1km. O Rio Massaroca cruza sem ponte o caminho, sendo
ali espraiado e pouco profundo; para então correr paralelamente e
com certa distância da via.
Deixamos o
carro e viemos procurando uma entrada de trilha, que estava a 415m do
cruzamento com o rio – um bom tanto adiante de onde imaginei. Sendo
uma das mais curtas já descritas aqui, esta picada é bem íngreme e
lisa, mas não tivemos problema em descer. A cachoeira que
encontramos não era muito alta; jorrava sobre um poço largo e não
tão profundo, estando bem sombreada no fundo daquele vale. Ela
sozinha já teria valido a pena.
Vimos
um vestígio de trilha à sua esquerda, e ali já comecei a
desconfiar. De volta à estrada, a intuição aumentou, e seguimos
mais alguns metros à montante do rio procurando outra trilha que
descesse. Logo notamos que o barulho d'água não vinha mais da queda
anterior, e sim de um ponto acima. Achamos uma picada ainda mais
declive e curta, que nos levou até a cachoeira maior, a qual
apelidamos de "1".
Era mais perto chegar no seu topo do que na base, passando por uma pedra não tão confiável onde esticamos a corda (só para garantir) e chegamos no pocinho superior, defronte a outra cascatinha mais baixa. Depois descemos até a base da maior e vimos a ponta de trilha que subia da cachoeira 2, onde
primeiro estivemos. A 1 é bem ampla, e o branco da sua água formava um bonito contraste com as rochas bem escuras.
O rio vizinho
ainda estava nos planos daquele dia, mesmo que a visita servisse
só como um "tira-teima" confirmando a inexistência de
cachoeira; porém uma valetinha ao lado da estrada de acesso veio a
nos causar uma "pequena calamidade", custando o resto da
tarde até acharmos ajuda para tirar o carro de lá. No entanto não
saímos reclamando, porque a satisfação desse dia foi bem maior
que os transtornos.
Dentre os 2
dilemas que existem na divulgação online ou impressa de cachoeiras
desconhecidas (ou pouco conhecidas), um já foi citado neste blog, que
é a questão da segurança. Quase despenquei na Cascata 1 do Rio Cari, meses atrás, quando buscava a Cascata 2. E se ela veio a ser
descrita aqui foi unicamente porque o ponto perigoso era um só,
ficando bem explicado como evita-lo. Mas o que fazer quando o
problema não é o risco, e sim o comportamento destrutivo de uma
parte das pessoas que visitam um ambiente? Atrativos próximos de
áreas urbanas têm esse porém. A família que mora perto da
cachoeira do Roncador, em Colombo, estava cansada de ter que recolher
lixo e lidar com os transtornos da visitação aberta do local.
Restringiram, e com razão.
Junto com a
gruta do Bacaetava e o Morro da Cruz, é um dos lugares mais bonitos
deste município, o qual muitas vezes é lembrado injustamente apenas
pelos seus problemas. Omitindo dessa vez os detalhes de acesso –
que podem ser encontrados noutras fontes – tratamos apenas de
descrever a cachoeira e o mirante, compreendendo o leitor que pode ou
não ter sua entrada permitida, caso decida visita-la.
"Pedra da vertigem" - Pela copa da araucária pode-se imaginar a altura...
Menos longe do
centro, existia uma entrada anterior àquela que usamos; porém com
placa proibindo a passagem e sem ninguém a quem se pudesse pedir
autorização. 2 moradores a quem perguntamos do outro acesso
pareciam fingir que desconheciam sua existência. Finalmente chegamos
à casa indicada pelo mapa como o melhor local para início, e caso
não tivesse trilha, restaria adentrar o mato como sempre. Mas a moça
que nos atendeu deve ter tido uma intuição boa a nosso respeito,
porque embora explicasse o motivo do lugar não ser liberado como
antes, faria a nós uma exceção. Orientados, passamos para trás da
grade que limitava o quintal, descendo logo por uma trilha curta e
íngreme à beira da cerca até o rio, onde mais adiante
atravessamos. Da margem oposta, mais uma picada chegava.
Bem antes dali, entre os 2 morros que cercam o bairro mais alto da cidade (o Campestre) ficam as nascentes do rio, que pertence à bacia do Ribeira.
Sempre vi
Colombo como um município "morno", quase incipiente em
relação à natureza, apesar do verde da sua área rural e de curtos
trechos restantes de floresta primária. Mas no início da caminhada
já senti aquelas características "selvagens" que tanto
nos atraem em Rio Branco e Bocaiuva, por exemplo. O rio se mostrava
cada vez mais "prensado" pelas barrancas verticais de ambos
lados. Depois da 2ª travessia, a trilha passa por um ponto elevado,
até que se avista a cachoeira. O caminho forma um "T" com
outra trilha que vem de cima e se inclina bastante na descida final
até a base. Para a direita, tratava-se da ida ao mirante que
planejávamos conhecer depois dali.
Chegando
na parte plana em frente ao poço, notamos que a queda não era tão
pequena. A água do poço era de um marrom claro, como a das Gêmeas Gigantes de S. Francisco De Paula; não por sujeira, mas pelos
sedimentos próprios daquele solo. Do lado oposto de onde chegamos
vimos a ponta da trilha que vem do bairro ao lado. Ela passa por um
estreito valezinho, único ponto possível entre os quase penhascos
do entorno. Lemos em algum lugar que no meio do poço há uma
abertura onde parte da água segue pelo subterrâneo, tornando o
mergulho ali muito perigoso.
Novamente na trilha, começamos a subida para o mirante, esperando apenas uma boa vista para o lado norte – rumo à serrinha do Campina Dos Rosas. O que nos surpreendeu é que em tão pouco tempo já
estávamos bem alto, sendo aquele um precipício ainda na borda do poço. Isso
é que nos permitiu ter uma vista perfeita da cachoeira, e de mais
dois jorros atrás dela; um cenário lindo. Seguimos pela trilha e
alcançamos a esperada estradinha que nos levaria quase até o cimo
naquele lado da colina. Nela tivemos exatamente a paisagem prevista,
desde o Morro Do Rio Comprido até o Campina, bem como da Serra do
Mar na direção leste. Expectativas superadas, mas ainda tínhamos
ansiedade pelo que faltava desbravar naquele dia, as Cachoeiras
Do Rio Massaroca.
Conquanto
figure no 5º lugar em altitude, o mais remoto morro da Bocaina, além
de não dever nada em beleza para os demais, corresponde a um terço
do comprimento desta serra, lembrando à certa distância uma chapada
ou mesmo uma linguiça, se visto no mapa. A estrada que lhe dá
acesso não é a mesma dos outros, e sim uma verdadeira “trilha de
jipe” que deveria ligar o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte
de Bocaiuva, sendo sazonalmente estragada pelos caminhões que
transportam toras. 4 meses depois de conhecer o primeiro cume na
Bocaina foi que felizmente conseguimos concluir o propósito de
chegar ao último, e este foi o mais trabalhoso.
Indo de Curitiba, roda-se pouco menos de 60km pela estrada da Ribeira, contando desde o trevo do Atuba, até a estrada de Ouro Fino (direita), cujo início fica metros adiante da estrada do parque Campinhos (lado oposto). Por este caminho não pavimentado, toma-se a direita em 3 bifurcações; a 1ª está em 6,4km; a 2ª aos 7,93km e a 3ª aos 8,4km (contando desde que se sai da Ribeira). Desde esta última bifurcação são mais 6,5km de estrada terrível, muito acidentada e com bastante lama.
Diferente
ao acesso de outros morros, ali se pode percorrer longa distância
sem sequer ouvir sons de gente ou de outros veículos. Só à pouca
distância, sem nenhuma colina na frente, é que pudemos ter o
panorama do lugar onde desejávamos estar dentro de poucas horas; ali então
mais variado em contornos e não apenas um "retão". O início da
caminhada é bem no "bico" da serra, adiante da curva mais
aguda da estrada. Em frente ao local onde deixamos o carro, corria a
água de alguma nascente próxima, e havia sido colocada uma
madeirinha em certo ponto para que fluísse como uma bica.
Deste ponto e do falso cume do Morro Da Bocaina (dir.) é que melhor se compreende as formas do Morro 5
Tínhamos a ponta do morro bem à nossa direita; ali a estrada já cortava um pouco seu barranco, e talvez por isso seria abrupta demais para que escolhêssemos uma subida direta. Pouco antes dessa curva mais fechada existia uma entradinha que em vez de subir, parecia seguir paralelamente ao morro, a qual na verdade já sabíamos que se desviaria dele cada vez mais. Assim mesmo o início dela era o ponto correto do caminho, porque nossa única necessidade foi passar ao largo do barranco mais íngreme, antes de começar a subir. Vimos que pouco adiante já estava melhor, e adentramos o mato à esquerda, tendo ali bastante facilidade.
O capim alto
intercalava alguns pinus perdidos, e com o calor aumentandosurgiu uma
das maiores dificuldades daquele dia, as mutucas. Como mencionamos
sobre essa estranha espécie no artigo do Morro 4, apesar de elas
conseguirem picar através da roupa (igual fazem as da Serra Do Mar),
precisam que a vítima esteja parada; pois do contrário rondam
insistentemente sem nada conseguir. Na vez anterior isso não chegou
a ser um problema, porque onde elas mais existiam, nós não tínhamos
porque parar; visto que o calor era leve e exigência física,
moderada. Porém no trecho exploratório do Morro 5, a situação
rapidamente tornou-se uma sinuca, onde a mata que abríamos
era bem mais longa que o previsto, e o mormaço fustigava à medida
que se aproximava o meio dia.
Atingimos o
início da crista, e por ela seguimos tornando à direita, sem
vestígios de trilha e nem esperança de alcançar tão cedo o
descampado que imaginamos. Vencendo a capoeira
mais emaranhada na contínua subida, e enroscando em tudo quanto era raiz e galho,
notamos que as mutucas se juntavam num enxame. Alternávamos o
avanço eu e meu amigo, um estapeando as pernas do que estivesse à
frente; e quando eu tinha que parar para ver nossa posição no
aplicativo, dava a ele o galho que usava para espantá-las.
Felizmente tinha ali um parceiro de fibra. Foi um sufoco, porque se
marchávamos sem pausa, vinha o fogo da exaustão; e se parávamos,
vinha a luta contra elas.
A perspectiva
melhora depois do trecho em que a crista mais se estreita, inclusive
com vestígios de trilha; e finalmente chegam os campos de altitude
perto do falso cume, então com bem menos insetos. Já se descobre
desde ali a paisagem dos Capivaris até o Ibitiraquire. Apesar do
abafamento entre as moitas, por breves mas numerosas pausas me
atirava sem pudor ao descanso na relva, porque quase no topo só
sentia as forças diminuindo. Como uma ironia qualquer, o menos alto
dos "5 Bocainas" revelara-se o mais árduo.
As vistas
entre o cume principal e o falso, ou vice versa, e aquelas que
tínhamos para o morro 1 (Morro Da Bocaina) eram deliciosas. A
chácara menos distante, com seu açude contrastando à escarpa
florestada abaixo de nós; e uma certa serra no horizonte formaram a
mais bonita imagem daquele dia.
Lembrando o
alto do Capivari Grande, as picadas paralelas durante a volta nos
causavam enganos no trecho de floresta. Errávamos por pouco, mas
errávamos muito; principalmente quando entramos num rastro de trilha
um pouco mais forte quase na saída, que decerto vinha daquele único
sítio da região. Contudo não é a sensação dos percalços que
permanece, e sim a da conquista; o que fica são as imagens
todas, da ocasião em que finalmente tinha conhecido os 5 topos
daquela serra que tanto aprendi a gostar.
Planejar
e realizar uma trilha exploratória ou semi-exploratória é algo que
reúne todas as sensações de um bom jogo de investigação. Em
algumas, os elementos de aventura fogem do controle, sufocam e não
“coadunam”; porém noutras como o Morro 4 da Bocaina, é como se
em vez do acaso, houvesse uma história inteira cheia de detalhes
esperando por ser praticada, tornando o percurso algo até
aconchegante a despeito das dificuldades. Anteriormente o 4 nos
parecia apenas uma crista do Morro 2, mas descobrimos que era um
morro independente, com uma vista central daquela serra. Nossa visita
aconteceu pouco mais de 1 mês depois de conquistarmos o 1 (Morro Da
Bocaina). Vale lembrar que nós somente os numeramos em ordem de
altitude como referência, pois exceto o mais alto, todos carecem de
nomes oficiais.
Para este artigo, ainda que o visitante não use GPS, é muito importante que ao menos observe o percurso completo neste mapa: https://www.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=19423486 e tenha a descrição seguinte como um apoio.
A
caminhada começa no mesmo ponto “de sempre”, em frente à
chácara Serra da Bocaina – estrada Eulisses Milani. Inicialmente o
percurso coincide com o trajeto para o Morro 2, ou seja, adentra o
trecho particular dessa estrada e segue por 990m
até uma bifurcação, onde se toma a direita. Por esta “quase
estrada”, anda-se 480m até nova
bifurcação à esquerda, conducente a dois casebres numa clareira,
onde se pensa haver gente; porém ambos estão se arruinando.
4 visto da subida do 2
Para
além deles, o caminho vira trilha e chega num bonito riacho que
antecede uma cerca, sendo que depois dela parece não existir nenhuma
continuação. Ali não há pinus, e sim uma floresta nativa
emaranhada onde logo se percebe um labirinto de trilhas; no entanto a
distância do riacho até o seguinte caminho aberto é pequena; algo
como 50 a 60m. Tudo o que o passante deve fazer é escolher dentre
essas picadas, aquelas que continuarem levando-o na mesma direção
reta que vinha seguindo desde os casebres.
1
Irá
sair numa trilha transversal larga, em que deve tomar um pouco à
direita e logo entrará à esquerda por caminho mais aberto, na
subida. 200mdepois, estará num cruzamento de “estradinhas”, onde deve
escolher a da direita. Isto é bem perto do início da crista do
Morro 4; e nós acreditávamos que ao fim daquele caminho rural, a ascensão se daria bem pelo “bico” dela; porém não só era
íngreme, como estava fechado demais. Entendemos que teríamos de
voltar um pouco, procurando a entrada correta, ou um local mais
maleável para abrir nossa própria trilha com facão, o que não foi
necessário. Na ida tínhamos passado sem notar por uma entrada de
trilha (a 75m do cruzamento, lado esquerdo de quem sobe), e quando a
achamos, tivemos certeza que seria ali.
Totalmente
sombreada, ela corre paralelamente ao morro; e por experiência já
esperávamos ter que abandoná-la, à certa distância, para subir à
direita e alcançar a crista dele por onde fosse mais cômodo. A
questão é se teria ou não alguma outra trilha para isso. O faro
foi certeiro, e logo encontramos vestígios; o que nos permitiu
começar a parte teoricamente mais “exigente” do percurso. É por
esse trecho que recomendamos não visitar o Morro 4 sem a companhia
de alguém que ao menos tenha certo conhecimento em
exploratórias, ou um bom conhecimento em trilhas normais. Até
alcançar a crista e avistar o cume, a passagem entre a vegetação
exige mudanças de direção bruscas, o que confunde um pouco.
Saímos
da mata mais alta e começamos a bordejar a florestinha da crista,
tendo seguido à esquerda, com o cume por referência. A subida,
então por relva mais confortável e com vestígios mais claros, era
muito gradual e fazia o topo parecer mais próximo do que realmente
estava. Por observações anteriores desde o Morro 2, sabíamos que
ele era “fendido”, ou seja, tratava-se de dois cumes; e em ambos
encontramos marco geodésico.
Do 1º deles, a trilha desce um pouco à
frente e entra à direita numa matinha fechada, até sair no cume
verdadeiro (1375m). Ali se tem uma das
vistas mais lindas dessa serra. O Morro da Bocaina (1) parece que
pode ser tocado com as mãos de tão amplo que se mostra, assim como
os topinhos recortados ao sul dele. E à direita se vê o Morro 2;
com destaque para sua 3ª crista. Os vestígios de trilha eram
evidentes para além do topo, sendo provavelmente uma ligação dele
com um dos “vizinhos”.
Tendo subido em dia quente, nos deparamos com um tipo de mutuca grande que não conhecíamos. Só não eram tão numerosas quanto as que viríamos a enfrentar no 'terrível' Morro 5, duas semanas depois. Entretanto mostraram-se muito pouco eficientes; precisando que nós ficássemos parados para pousarem e nos picarem; diferente das mutucas do litoral e Serra Do Mar. Ocorreu então que às vezes estivemos cercados por elas, sem que tomássemos uma única picada. Não sendo assim, teríamos desistido e voltado correndo para a base.
Ao
cabo de 15 dias, pela primeira vez tive parceiros otimistas o
bastante para não cancelarem uma trilha em face a uma manhã de
garoa. Por sorte ela cessou antes de chegarmos, deixando apenas um
véu de nuvens que não frustraria o passeio, embora nos furtasse a
vista.
3 visto do 2
No
mesmo acesso do Morro 3 é possível deixar o carro, pois a estrada
encontra logo uma porteira desde a qual já é Fazenda Turbay; (este
nome está indicado numa das placas do início). Há umas poucas
casas dentro da propriedade, que aparenta mais ser de lazer em vez de
produção; e assim como na fazenda anterior, também são tolerados
os visitantes. Passa-se pela porteirinha lateral – de pedestres –
e segue-se pela estrada, mas não até a última porteira, porque lá
já pertence ao reflorestamento Madrigal. "Certa mágoa" guardamos desta empresa.
Colina Leste
Os
pinus começam a aumentar na paisagem, apesar de ela ser melhor
permeada por mata nativa do que em outros municípios. 990m depois da
porteira, toma-se a direita num caminho que já foi estrada, e ali
eram descidas as toras. Andando por ele, quase não há equívocos;
sendo o mais relevante um córrego sem ponte, onde é melhor molhar
as botas do que saltar entre as margens. Anos passaram, e a erosão
nalguns trechos da antiga via foi tão violenta que os sulcos hoje
existentes superam 2m de profundidade. Já nos 1430m de altitude
aparece entrada para a direita; um caminho curvo até a clareira do
cume, o qual marca 1456m (contra os 1434m mostrados pelo Google
Earth).
3ª Crista (mais alta) atrás de partes da 2ª (na esquerda)
Parte
da descrição seguinte deve-se à nossa 2ª visita, porque na 1ª só
enxergamos neblina. Os arbustos em torno do topo são altos e de
qualquer forma limitariam um pouco a paisagem; a não ser pelo Morro
3, que visto dali parece bem mais gracioso que da base. Para o lado
oposto, o que se espia é um esboço do maravilhoso cenário
descortinado desde as cristas à frente, nas quais só pisaríamos
semanas depois. Alguns morros são assim mesmo, têm melhores
mirantes fora do cume do que nele próprio. E se antes o caseiro do 3
disse a nós que o visual do 2 era menos interessante, deve-se
provavelmente a que ele só conheça o percurso até a clareira.
A 1ª crista (de onde se tirou essa foto) é a única que "só desce"
Descoberta
Das Cristas E A Constatação Do Morro 4
Vestígios
de trilha e o fim da estrada eram tudo que sabíamos existir depois
da bifurcação para o cume. E não mais que uma borda com vista
estratégica para o 1 esperávamos encontrar na nossa 2ª visita,
quase “acidental” ao morro 2, (ensaiando talvez um ataque ao
objetivo maior). Mas o que vimos ao entrar pela esquerda e descer por
uns 300m foram (inicialmente) duas ondulações, oblíquas ao
caminho, descampadas no topo e separadas por uma faixa de mata.
Morro 4 visto da base
Daquele
ínterim, o Morro Da Bocaina já mostra toda a sua graça, chega a
lembrar de longe o Pico Paraná, com os outros topinhos parecendo o
Camelos. Quanto mais descíamos pela 1ª crista, melhor era a vista
para ele, e mais profunda era a separação entre ela e a 2ª. Ali
também fomos, contornando a grande fenda pelo caminho principal, e
entrando novamente à direita até chegar em cima. Só então
descobrimos que eram 3 e não duas as cristas, pois logo enxergamos a
última.
3ª crista e Morro Da Bocaina ao fundo
Tudo
lá ainda pertence ao morro 2, e embora fendidos, seus relevos
compõem um mesmo bloco. Entretanto de lá atestamos a existência de
um outro maciço, mais baixo e de certa forma abrupto,
suficientemente separado do 1 e do 2 para ser numerado como “Morro
4”; conforme os 1348m de altitude indicados pelo Google. Outra
suspeita nossa aproximou-se da confirmação, quando ouvimos não tão
longe o chiado de uma queda d'água entre os precipícios no começo
do Rio Passa Vinte.
O
abismo é bordejado por indícios de um caminho rumo à crista 3; mas
o vale que a antecede tem também alguma profundidade, sendo suave na
descida, e simplesmente terrível na subida oposta. Uma das causas é
certo musgo avermelhado que enfesta a escarpa, e sugere o tempo todo
que o chão despencará conosco junto. Chegar ali serviu para vermos
que o caminho completo de travessia da serra não era apenas um mito,
já que estávamos pisando nele; mas galgar o Morro 1 sem arriscar
tanto o grupo custar-nos-ia um raciocínio melhor.
Os
Dilemas Antes Da Conquista
O
"dia D" aproximava-se, mas antes disso teríamos que
enfrentar transtornos e dificuldades. Toda ou quase toda a base
noroeste/norte do Morro Da Bocaina pertence à Madrigal; e justo o
ponto ideal do nosso planejamento passava por ela, sendo que a
entrada não é autorizada. A face oposta, sudeste, é de floresta
densa com penhascos "violentos", os quais já notávamos
desde a passagem pela estrada do Passa Vinte, na ida à Cachoeira do Potunã.
1 visto da base
Tínhamos menos referências visuais dele do que gostaríamos
para achar uma solução, e restaram a princípio duas opções,
sendo a 1ª delas o seguinte: Insistindo na travessia 2 – 1,
tentaríamos chegar mais por baixo à crista dos musgos, mesmo sem
vestígios de trilha, e desceríamos uma ladeira forte para depois
fustigar o facão na floresta do vale, ressurgindo dela pelo lado
oposto. Mas figurar a série de dificuldades que poderíamos
encontrar nesse trajeto, e como elas martirizariam o grupo, (além da
alta chance de um revés) fizeram-me quase descartar a ideia.
Morro 4
A
outra opção seria pelo norte, pela estrada que liga o bairro Ouro
Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, percorrendo o desconhecido
Morro 5, cujo vale em direção ao 1 mostrava-se mais suave. Tudo o
que sabíamos dele é que se tratava de uma verdadeira linguiça, por
ser comprido, diferente dos demais; lembrando de longe uma chapada.
Mas tal acesso trouxe-nos grande frustração, demonstrando ser
intransitável (naquele então) para carros comuns, o que nos forçou
por duas vezes a abortar o plano e ir aproveitar o dia com outros
morros, um dos quais, o Maior Da Serra De Santana.
Morro 2
Se
reparariam ou não a estrada, ao ser perguntado, o sec. de obras de
Bocaiuva pouco pareceu se importar. Estávamos pois, diante da
possibilidade triste de desistir, já que tudo parecia lutar contra.
Por um motivo complicado, não podemos dizer exatamente qual escolha
fizemos; o que nos leva a suprimir parte da descrição, e relatar
direto do ponto onde iniciamos nosso ataque final ao morro, no dia 22
de Julho.
BR-116 ao longo da base dos Capivaris
A
Vitória Da Expedição
Ao
fim de uma estrada rural nos 1200m de altitude, depois de uma boa
caminhada, tínhamos à nossa direita um barranco florestado de onde
o cume não era visível, mas já de longe o acompanhávamos.
Pinheiros ali existiam, mas não eram a maior parte da floresta, e
tanto o solo quanto a vegetação estavam algo ressecados pela
estiagem.
Ibitiraquire
Esse
trecho não era tão íngreme, e conseguimos abrir sem facão; apenas
usei as luvas, e quem veio logo atrás fazia as "correções"
com um bastão. Saímos num topinho descampado de onde então
conseguimos ver bem todo o caminho faltante até o cume, mas
precisaríamos descer um pouco e passar por outra florestinha, essa
totalmente nativa, aparentemente mais densa. Para nossa surpresa, a
trilha ali existente estava até bem aberta, diferente dos vagos
vestígios que vínhamos vendo.
A
crista que escolhemos para caminho, e que delineamos no Google Earth
para ter como referência na nossa investida era um tanto óbvia; e
muito provavelmente quem quer que já tivesse subido aquele morro,
seja trilheiro ou morador da região, escolheria passar por ela.
Desde a saída das árvores, a picada quase se desvanece; e o que se
vê é uma longa subida para a esquerda. Isso porque o trajeto direto
seria quase impossível, uma vez que cruzaria outro valezinho
íngreme, (com subida final quase ereta). A caminhada vai ficando mais
lenta; tudo enrosca, tudo faz tropeçar; o capim grosso aberto com as
coxas vai cobrando aos poucos boa parte da reserva de energia.
Andávamos nesse ponto olhando para baixo, como para reforçar a
concentração na própria resiliência; inclusive no meu caso pelos
"repuxos" que sentia no peito em razão do cansaço.
Morro 5
Apenas
no vértice da crista é que se consegue passar com conforto para o
seguinte patamar. Pouco antes dali o Morro 5 já mostrava seus
contornos; é muito mais robusto do que parecia da estrada ou do
satélite. A linha divisória entre suas faces sudeste e noroeste é
menos retilínea do que imaginamos, e o lado florestado é um
verdadeiro paredão. Imagino como deva ser o cenário visto da
chácara que tão minúscula nos parecia do alto, a única daquela
região, onde antes teríamos pedido para deixar o carro se a estrada
não nos tivesse impedido na outra vez. Todo aquele lado, início da
bacia do Potunã, considero o mais bonito da paisagem que se tem
desde o Morro 1.
Passando
este topinho, cujas rochas ao fim da dura subida foram como poltronas
para o nosso descanso, há apenas um patamar antes do cume, com pouco
desnível. Embora esteja 1,2m abaixo dele, possui um marco geodésico;
e entre ambos topos encontra-se uma matinha que é contornada à
direita pela trilha. Mais alguns instantes, e enfim pisávamos aquele
solo a 1501,5m de altitude, comemorando com alarido o êxito de
tantas semanas de expectativa. O ponto culminante de toda a região
fora da Serra Do Mar, que momentos antes era apenas um nome numa
carta topográfica, bem pouco conhecido no círculo social do
nosso esporte, poderia então ser trazido a público nestes detalhes.
5
– O Morro 3 também é chamado Morro Da Cruz ou Morro Do Cruzeiro. Infelizmente a serra vem sendo chamada de Cordilheira Secreta ou Serra Do Potunã, bem como o Morro 2 de Morro Da Sempre Viva, e o Morro Da Bocaina de Pico Potunã, não por uma liberalidade de se os batizar, mas pelo uso de termos próprios a fim de evitar concorrência à sua atividade ecoturística; uma vez que estes mesmos nomes não são encontráveis em outras fontes de pesquisa.