sábado, 4 de novembro de 2017

Cachoeiras Do Rio Massaroca


Quase junto à divisa de Rio Branco do Sul com Bocaiuva, na bacia do Rio Santana, nasce um afluente que corre de leste para oeste entre colinas não tão distantes do Morro Campina Dos Rosas. Ouvimos menção ao que lá existe de mais bonito enquanto conhecíamos a cascatinha de um certo rio próximo; lugar aquele onde todos disseram não haver cachoeira maior, porém tínhamos tanta esperança, que ainda me é difícil resignar. O acesso ao Massaroca passa pela estrada do Bacaetava, desde a qual um desinformado pode nem notar que já saiu de Colombo e entrou noutro município. Ali buscávamos a cachoeira que nos sugeriram, em seguida de ter visitado a do Roncador; e previmos que ambos passeios se complementariam muito bem.


Deixamos o carro e viemos procurando uma entrada de trilha, que estava a 415m do cruzamento com o rio – um bom tanto adiante de onde imaginei. Sendo uma das mais curtas já descritas aqui, esta picada é bem íngreme e lisa, mas não tivemos problema em descer. A cachoeira que encontramos não era muito alta; jorrava sobre um poço largo e não tão profundo, estando bem sombreada no fundo daquele vale. Ela sozinha já teria valido a pena.


Vimos um vestígio de trilha à sua esquerda, e ali já comecei a desconfiar. De volta à estrada, a intuição aumentou, e seguimos mais alguns metros à montante do rio procurando outra trilha que descesse. Logo notamos que o barulho d'água não vinha mais da queda anterior, e sim de um ponto acima. Achamos uma picada ainda mais declive e curta, que nos levou até a cachoeira maior, a qual apelidamos de "1".


Era mais perto chegar no seu topo do que na base, passando por uma pedra não tão confiável onde esticamos a corda (só para garantir) e chegamos no pocinho superior, defronte a outra cascatinha mais baixa. Depois descemos até a base da maior e vimos a ponta de trilha que subia da cachoeira 2, onde primeiro estivemos. A 1 é bem ampla, e o branco da sua água formava um bonito contraste com as rochas bem escuras.

 

O rio vizinho ainda estava nos planos daquele dia, mesmo que a visita  servisse como um "tira-teima" confirmando a inexistência de cachoeira; porém uma valetinha ao lado da estrada de acesso veio a nos causar uma "pequena calamidade", custando o resto da tarde até acharmos ajuda para tirar o carro de lá. No entanto não saímos reclamando, porque a satisfação desse dia foi bem maior que os transtornos.


 
Cachoeira 2 Cachoeira 1

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Cachoeira Roncador E Mirante Da Colina


Dentre os 2 dilemas que existem na divulgação online ou impressa de cachoeiras desconhecidas (ou pouco conhecidas), um já foi citado neste blog, que é a questão da segurança. Quase despenquei na Cascata 1 do Rio Cari, meses atrás, quando buscava a Cascata 2. E se ela veio a ser descrita aqui foi unicamente porque o ponto perigoso era um só, ficando bem explicado como evita-lo. Mas o que fazer quando o problema não é o risco, e sim o comportamento destrutivo de uma parte das pessoas que visitam um ambiente? Atrativos próximos de áreas urbanas têm esse porém. A família que mora perto da cachoeira do Roncador, em Colombo, estava cansada de ter que recolher lixo e lidar com os transtornos da visitação aberta do local. Restringiram, e com razão.


Junto com a gruta do Bacaetava e o Morro da Cruz, é um dos lugares mais bonitos deste município, o qual muitas vezes é lembrado injustamente apenas pelos seus problemas. Omitindo dessa vez os detalhes de acesso – que podem ser encontrados noutras fontes – tratamos apenas de descrever a cachoeira e o mirante, compreendendo o leitor que pode ou não ter sua entrada permitida, caso decida visita-la.

"Pedra da vertigem" - Pela copa da araucária pode-se imaginar a altura...

Menos longe do centro, existia uma entrada anterior àquela que usamos; porém com placa proibindo a passagem e sem ninguém a quem se pudesse pedir autorização. 2 moradores a quem perguntamos do outro acesso pareciam fingir que desconheciam sua existência. Finalmente chegamos à casa indicada pelo mapa como o melhor local para início, e caso não tivesse trilha, restaria adentrar o mato como sempre. Mas a moça que nos atendeu deve ter tido uma intuição boa a nosso respeito, porque embora explicasse o motivo do lugar não ser liberado como antes, faria a nós uma exceção. Orientados, passamos para trás da grade que limitava o quintal, descendo logo por uma trilha curta e íngreme à beira da cerca até o rio, onde mais adiante atravessamos. Da margem oposta, mais uma picada chegava.

Bem antes dali, entre os 2 morros que cercam o bairro mais alto da cidade (o Campestre) ficam as nascentes do rio, que pertence à bacia do Ribeira.

Sempre vi Colombo como um município "morno", quase incipiente em relação à natureza, apesar do verde da sua área rural e de curtos trechos restantes de floresta primária. Mas no início da caminhada já senti aquelas características "selvagens" que tanto nos atraem em Rio Branco e Bocaiuva, por exemplo. O rio se mostrava cada vez mais "prensado" pelas barrancas verticais de ambos lados. Depois da 2ª travessia, a trilha passa por um ponto elevado, até que se avista a cachoeira. O caminho forma um "T" com outra trilha que vem de cima e se inclina bastante na descida final até a base. Para a direita, tratava-se da ida ao mirante que planejávamos conhecer depois dali.


Chegando na parte plana em frente ao poço, notamos que a queda não era tão pequena. A água do poço era de um marrom claro, como a das Gêmeas Gigantes de S. Francisco De Paula; não por sujeira, mas pelos sedimentos próprios daquele solo. Do lado oposto de onde chegamos vimos a ponta da trilha que vem do bairro ao lado. Ela passa por um estreito valezinho, único ponto possível entre os quase penhascos do entorno. Lemos em algum lugar que no meio do poço há uma abertura onde parte da água segue pelo subterrâneo, tornando o mergulho ali muito perigoso.


Novamente na trilha, começamos a subida para o mirante, esperando apenas uma boa vista para o lado norte – rumo à serrinha do Campina Dos Rosas. O que nos surpreendeu é que em tão pouco tempo já estávamos bem alto, sendo aquele um precipício ainda na borda do poço. Isso é que nos permitiu ter uma vista perfeita da cachoeira, e de mais dois jorros atrás dela; um cenário lindo. Seguimos pela trilha e alcançamos a esperada estradinha que nos levaria quase até o cimo naquele lado da colina. Nela tivemos exatamente a paisagem prevista, desde o Morro Do Rio Comprido até o Campina, bem como da Serra do Mar na direção leste. Expectativas superadas, mas ainda tínhamos ansiedade pelo que faltava desbravar naquele dia, as Cachoeiras Do Rio Massaroca.


Álbum completo no Google Fotos: https://photos.app.goo.gl/ECMePFH4CoFLI8RP2




quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Morro 5 Da Serra Da Bocaina


Conquanto figure no 5º lugar em altitude, o mais remoto morro da Bocaina, além de não dever nada em beleza para os demais, corresponde a um terço do comprimento desta serra, lembrando à certa distância uma chapada ou mesmo uma linguiça, se visto no mapa. A estrada que lhe dá acesso não é a mesma dos outros, e sim uma verdadeira “trilha de jipe” que deveria ligar o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, sendo sazonalmente estragada pelos caminhões que transportam toras. 4 meses depois de conhecer o primeiro cume na Bocaina foi que felizmente conseguimos concluir o propósito de chegar ao último, e este foi o mais trabalhoso.


Diferente ao acesso de outros morros, ali se pode percorrer longa distância sem sequer ouvir sons de gente ou de outros veículos. Só à pouca distância, sem nenhuma colina na frente, é que pudemos ter o panorama do lugar onde desejávamos estar dentro de poucas horas; ali então mais variado em contornos e não apenas um "retão". O início da caminhada é bem no "bico" da serra, adiante da curva mais aguda da estrada. Em frente ao local onde deixamos o carro, corria a água de alguma nascente próxima, e havia sido colocada uma madeirinha em certo ponto para que fluísse como uma bica.

Deste ponto e do falso cume do Morro Da Bocaina (dir.) é que melhor se compreende as formas do Morro 5

Tínhamos a ponta do morro bem à nossa direita; ali a estrada já cortava um pouco seu barranco, e talvez por isso seria abrupta demais para que escolhêssemos uma subida direta. Perto de uma nascente na estrada - Início do percurso para o Morro 5 da Serra Da Bocaina Pouco antes dessa curva mais fechada existia uma entradinha que em vez de subir, parecia seguir paralelamente ao morro, a qual na verdade já sabíamos que se desviaria dele cada vez mais. Assim mesmo o início dela era o ponto correto do caminho, porque nossa única necessidade foi passar ao largo do barranco mais íngreme, antes de começar a subir. Vimos que pouco adiante já estava melhor, e adentramos o mato à esquerda, tendo ali bastante facilidade.


O capim alto intercalava alguns pinus perdidos, e com o calor aumentando surgiu uma das maiores dificuldades daquele dia, as mutucas. Como mencionamos sobre essa estranha espécie no artigo do Morro 4, apesar de elas conseguirem picar através da roupa (igual fazem as da Serra Do Mar), precisam que a vítima esteja parada; pois do contrário rondam insistentemente sem nada conseguir. Na vez anterior isso não chegou a ser um problema, porque onde elas mais existiam, nós não tínhamos porque parar; visto que o calor era leve e exigência física, moderada. Porém no trecho exploratório do Morro 5, a situação rapidamente tornou-se uma sinuca, onde a mata que abríamos era bem mais longa que o previsto, e o mormaço fustigava à medida que se aproximava o meio dia.


Atingimos o início da crista, e por ela seguimos tornando à direita, sem vestígios de trilha e nem esperança de alcançar tão cedo o descampado que imaginamos. Vencendo a capoeira mais emaranhada na contínua subida, e enroscando em tudo quanto era raiz e galho, notamos que as mutucas se juntavam num enxame. Alternávamos o avanço eu e meu amigo, um estapeando as pernas do que estivesse à frente; e quando eu tinha que parar para ver nossa posição no aplicativo, dava a ele o galho que usava para espantá-las. Felizmente tinha ali um parceiro de fibra. Foi um sufoco, porque se marchávamos sem pausa, vinha o fogo da exaustão; e se parávamos, vinha a luta contra elas.


A perspectiva melhora depois do trecho em que a crista mais se estreita, inclusive com vestígios de trilha; e finalmente chegam os campos de altitude perto do falso cume, então com bem menos insetos. Já se descobre desde ali a paisagem dos Capivaris até o Ibitiraquire. Apesar do abafamento entre as moitas, por breves mas numerosas pausas me atirava sem pudor ao descanso na relva, porque quase no topo só sentia as forças diminuindo. Como uma ironia qualquer, o menos alto dos "5 Bocainas" revelara-se o mais árduo.
As vistas entre o cume principal e o falso, ou vice versa, e aquelas que tínhamos para o morro 1 (Morro Da Bocaina) eram deliciosas. A chácara menos distante, com seu açude contrastando à escarpa florestada abaixo de nós; e uma certa serra no horizonte formaram a mais bonita imagem daquele dia.


Lembrando o alto do Capivari Grande, as picadas paralelas durante a volta nos causavam enganos no trecho de floresta. Errávamos por pouco, mas errávamos muito; principalmente quando entramos num rastro de trilha um pouco mais forte quase na saída, que decerto vinha daquele único sítio da região. Contudo não é a sensação dos percalços que permanece, e sim a da conquista; o que fica são as imagens todas, da ocasião em que finalmente tinha conhecido os 5 topos daquela serra que tanto aprendi a gostar.


Álbum completo no Google Fotos:

Aplicativo Soviet Military Maps  Google Earth

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Morro 4 Da Serra Da Bocaina

Planejar e realizar uma trilha exploratória ou semi-exploratória é algo que reúne todas as sensações de um bom jogo de investigação. Em algumas, os elementos de aventura fogem do controle, sufocam e não “coadunam”; porém noutras como o Morro 4 da Bocaina, é como se em vez do acaso, houvesse uma história inteira cheia de detalhes esperando por ser praticada, tornando o percurso algo até aconchegante a despeito das dificuldades. Anteriormente o 4 nos parecia apenas uma crista do Morro 2, mas descobrimos que era um morro independente, com uma vista central daquela serra. Nossa visita aconteceu pouco mais de 1 mês depois de conquistarmos o 1 (Morro Da Bocaina). Vale lembrar que nós somente os numeramos em ordem de altitude como referência, pois exceto o mais alto, todos carecem de nomes oficiais.

Para este artigo, ainda que o visitante não use GPS, é muito importante que ao menos observe o percurso completo neste mapa: https://www.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=19423486 e tenha a descrição seguinte como um apoio.

A caminhada começa no mesmo ponto “de sempre”, em frente à chácara Serra da Bocaina – estrada Eulisses Milani. Inicialmente o percurso coincide com o trajeto para o Morro 2, ou seja, adentra o trecho particular dessa estrada e segue por 990m até uma bifurcação, onde se toma a direita. Por esta “quase estrada”, anda-se 480m até nova bifurcação à esquerda, conducente a dois casebres numa clareira, onde se pensa haver gente; porém ambos estão se arruinando.
4 visto da subida do 2

Para além deles, o caminho vira trilha e chega num bonito riacho que antecede uma cerca, sendo que depois dela parece não existir nenhuma continuação. Ali não há pinus, e sim uma floresta nativa emaranhada onde logo se percebe um labirinto de trilhas; no entanto a distância do riacho até o seguinte caminho aberto é pequena; algo como 50 a 60m. Tudo o que o passante deve fazer é escolher dentre essas picadas, aquelas que continuarem levando-o na mesma direção reta que vinha seguindo desde os casebres.

1

Irá sair numa trilha transversal larga, em que deve tomar um pouco à direita e logo entrará à esquerda por caminho mais aberto, na subida. 200m depois, estará num cruzamento de “estradinhas”, onde deve escolher a da direita. Isto é bem perto do início da crista do Morro 4; e nós acreditávamos que ao fim daquele caminho rural, a ascensão se daria bem pelo “bico” dela; porém não só era íngreme, como estava fechado demais. Entendemos que teríamos de voltar um pouco, procurando a entrada correta, ou um local mais maleável para abrir nossa própria trilha com facão, o que não foi necessário. Na ida tínhamos passado sem notar por uma entrada de trilha (a 75m do cruzamento, lado esquerdo de quem sobe), e quando a achamos, tivemos certeza que seria ali.


Totalmente sombreada, ela corre paralelamente ao morro; e por experiência já esperávamos ter que abandoná-la, à certa distância, para subir à direita e alcançar a crista dele por onde fosse mais cômodo. A questão é se teria ou não alguma outra trilha para isso. O faro foi certeiro, e logo encontramos vestígios; o que nos permitiu começar a parte teoricamente mais “exigente” do percurso. É por esse trecho que recomendamos não visitar o Morro 4 sem a companhia de alguém que ao menos tenha certo conhecimento em exploratórias, ou um bom conhecimento em trilhas normais. Até alcançar a crista e avistar o cume, a passagem entre a vegetação exige mudanças de direção bruscas, o que confunde um pouco.


Saímos da mata mais alta e começamos a bordejar a florestinha da crista, tendo seguido à esquerda, com o cume por referência. A subida, então por relva mais confortável e com vestígios mais claros, era muito gradual e fazia o topo parecer mais próximo do que realmente estava. Por observações anteriores desde o Morro 2, sabíamos que ele era “fendido”, ou seja, tratava-se de dois cumes; e em ambos encontramos marco geodésico.


Do 1º deles, a trilha desce um pouco à frente e entra à direita numa matinha fechada, até sair no cume verdadeiro (1375m). Ali se tem uma das vistas mais lindas dessa serra. O Morro da Bocaina (1) parece que pode ser tocado com as mãos de tão amplo que se mostra, assim como os topinhos recortados ao sul dele. E à direita se vê o Morro 2; com destaque para sua 3ª crista. Os vestígios de trilha eram evidentes para além do topo, sendo provavelmente uma ligação dele com um dos “vizinhos”.


Álbum completo no Google Fotos:

Tendo subido em dia quente, nos deparamos com um tipo de mutuca grande que não conhecíamos. Só não eram tão numerosas quanto as que viríamos a enfrentar no 'terrível' Morro 5, duas semanas depois. Entretanto mostraram-se muito pouco eficientes; precisando que nós ficássemos parados para pousarem e nos picarem; diferente das mutucas do litoral e Serra Do Mar. Ocorreu então que às vezes estivemos cercados por elas, sem que tomássemos uma única picada. Não sendo assim, teríamos desistido e voltado correndo para a base.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Serra Da Bocaina - Segunda Parte


O Cume Do Morro 2

Ao cabo de 15 dias, pela primeira vez tive parceiros otimistas o bastante para não cancelarem uma trilha em face a uma manhã de garoa. Por sorte ela cessou antes de chegarmos, deixando apenas um véu de nuvens que não frustraria o passeio, embora nos furtasse a vista.

3 visto do 2

No mesmo acesso do Morro 3 é possível deixar o carro, pois a estrada encontra logo uma porteira desde a qual já é Fazenda Turbay; (este nome está indicado numa das placas do início). Há umas poucas casas dentro da propriedade, que aparenta mais ser de lazer em vez de produção; e assim como na fazenda anterior, também são tolerados os visitantes. Passa-se pela porteirinha lateral – de pedestres – e segue-se pela estrada, mas não até a última porteira, porque lá já pertence ao reflorestamento Madrigal. "Certa mágoa" guardamos desta empresa.

Colina Leste

Os pinus começam a aumentar na paisagem, apesar de ela ser melhor permeada por mata nativa do que em outros municípios. 990m depois da porteira, toma-se a direita num caminho que já foi estrada, e ali eram descidas as toras. Andando por ele, quase não há equívocos; sendo o mais relevante um córrego sem ponte, onde é melhor molhar as botas do que saltar entre as margens. Anos passaram, e a erosão nalguns trechos da antiga via foi tão violenta que os sulcos hoje existentes superam 2m de profundidade. Já nos 1430m de altitude aparece entrada para a direita; um caminho curvo até a clareira do cume, o qual marca 1456m (contra os 1434m mostrados pelo Google Earth).

3ª Crista (mais alta) atrás de partes da 2ª (na esquerda)

Parte da descrição seguinte deve-se à nossa 2ª visita, porque na 1ª só enxergamos neblina. Os arbustos em torno do topo são altos e de qualquer forma limitariam um pouco a paisagem; a não ser pelo Morro 3, que visto dali parece bem mais gracioso que da base. Para o lado oposto, o que se espia é um esboço do maravilhoso cenário descortinado desde as cristas à frente, nas quais só pisaríamos semanas depois. Alguns morros são assim mesmo, têm melhores mirantes fora do cume do que nele próprio. E se antes o caseiro do 3 disse a nós que o visual do 2 era menos interessante, deve-se provavelmente a que ele só conheça o percurso até a clareira.

A 1ª crista (de onde se tirou essa foto) é a única que "só desce"




Descoberta Das Cristas E A Constatação Do Morro 4

Vestígios de trilha e o fim da estrada eram tudo que sabíamos existir depois da bifurcação para o cume. E não mais que uma borda com vista estratégica para o 1 esperávamos encontrar na nossa 2ª visita, quase “acidental” ao morro 2, (ensaiando talvez um ataque ao objetivo maior). Mas o que vimos ao entrar pela esquerda e descer por uns 300m foram (inicialmente) duas ondulações, oblíquas ao caminho, descampadas no topo e separadas por uma faixa de mata.

Morro 4 visto da base

Daquele ínterim, o Morro Da Bocaina já mostra toda a sua graça, chega a lembrar de longe o Pico Paraná, com os outros topinhos parecendo o Camelos. Quanto mais descíamos pela 1ª crista, melhor era a vista para ele, e mais profunda era a separação entre ela e a 2ª. Ali também fomos, contornando a grande fenda pelo caminho principal, e entrando novamente à direita até chegar em cima. Só então descobrimos que eram 3 e não duas as cristas, pois logo enxergamos a última.

3ª crista e Morro Da Bocaina ao fundo

Tudo lá ainda pertence ao morro 2, e embora fendidos, seus relevos compõem um mesmo bloco. Entretanto de lá atestamos a existência de um outro maciço, mais baixo e de certa forma abrupto, suficientemente separado do 1 e do 2 para ser numerado como “Morro 4”; conforme os 1348m de altitude indicados pelo Google. Outra suspeita nossa aproximou-se da confirmação, quando ouvimos não tão longe o chiado de uma queda d'água entre os precipícios no começo do Rio Passa Vinte.


O abismo é bordejado por indícios de um caminho rumo à crista 3; mas o vale que a antecede tem também alguma profundidade, sendo suave na descida, e simplesmente terrível na subida oposta. Uma das causas é certo musgo avermelhado que enfesta a escarpa, e sugere o tempo todo que o chão despencará conosco junto. Chegar ali serviu para vermos que o caminho completo de travessia da serra não era apenas um mito, já que estávamos pisando nele; mas galgar o Morro 1 sem arriscar tanto o grupo custar-nos-ia um raciocínio melhor.



Os Dilemas Antes Da Conquista

O "dia D" aproximava-se, mas antes disso teríamos que enfrentar transtornos e dificuldades. Toda ou quase toda a base noroeste/norte do Morro Da Bocaina pertence à Madrigal; e justo o ponto ideal do nosso planejamento passava por ela, sendo que a entrada não é autorizada. A face oposta, sudeste, é de floresta densa com penhascos "violentos", os quais já notávamos desde a passagem pela estrada do Passa Vinte, na ida à Cachoeira do Potunã.

1 visto da base

 Tínhamos menos referências visuais dele do que gostaríamos para achar uma solução, e restaram a princípio duas opções, sendo a 1ª delas o seguinte: Insistindo na travessia 2 – 1, tentaríamos chegar mais por baixo à crista dos musgos, mesmo sem vestígios de trilha, e desceríamos uma ladeira forte para depois fustigar o facão na floresta do vale, ressurgindo dela pelo lado oposto. Mas figurar a série de dificuldades que poderíamos encontrar nesse trajeto, e como elas martirizariam o grupo, (além da alta chance de um revés) fizeram-me quase descartar a ideia.

Morro 4

A outra opção seria pelo norte, pela estrada que liga o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, percorrendo o desconhecido Morro 5, cujo vale em direção ao 1 mostrava-se mais suave. Tudo o que sabíamos dele é que se tratava de uma verdadeira linguiça, por ser comprido, diferente dos demais; lembrando de longe uma chapada. Mas tal acesso trouxe-nos grande frustração, demonstrando ser intransitável (naquele então) para carros comuns, o que nos forçou por duas vezes a abortar o plano e ir aproveitar o dia com outros morros, um dos quais, o Maior Da Serra De Santana.

Morro 2

Se reparariam ou não a estrada, ao ser perguntado, o sec. de obras de Bocaiuva pouco pareceu se importar. Estávamos pois, diante da possibilidade triste de desistir, já que tudo parecia lutar contra. Por um motivo complicado, não podemos dizer exatamente qual escolha fizemos; o que nos leva a suprimir parte da descrição, e relatar direto do ponto onde iniciamos nosso ataque final ao morro, no dia 22 de Julho.

BR-116 ao longo da base dos Capivaris


A Vitória Da Expedição

Ao fim de uma estrada rural nos 1200m de altitude, depois de uma boa caminhada, tínhamos à nossa direita um barranco florestado de onde o cume não era visível, mas já de longe o acompanhávamos. Pinheiros ali existiam, mas não eram a maior parte da floresta, e tanto o solo quanto a vegetação estavam algo ressecados pela estiagem.

Ibitiraquire

Esse trecho não era tão íngreme, e conseguimos abrir sem facão; apenas usei as luvas, e quem veio logo atrás fazia as "correções" com um bastão. Saímos num topinho descampado de onde então conseguimos ver bem todo o caminho faltante até o cume, mas precisaríamos descer um pouco e passar por outra florestinha, essa totalmente nativa, aparentemente mais densa. Para nossa surpresa, a trilha ali existente estava até bem aberta, diferente dos vagos vestígios que vínhamos vendo.


A crista que escolhemos para caminho, e que delineamos no Google Earth para ter como referência na nossa investida era um tanto óbvia; e muito provavelmente quem quer que já tivesse subido aquele morro, seja trilheiro ou morador da região, escolheria passar por ela. Desde a saída das árvores, a picada quase se desvanece; e o que se vê é uma longa subida para a esquerda. Isso porque o trajeto direto seria quase impossível, uma vez que cruzaria outro valezinho íngreme, (com subida final quase ereta). A caminhada vai ficando mais lenta; tudo enrosca, tudo faz tropeçar; o capim grosso aberto com as coxas vai cobrando aos poucos boa parte da reserva de energia. Andávamos nesse ponto olhando para baixo, como para reforçar a concentração na própria resiliência; inclusive no meu caso pelos "repuxos" que sentia no peito em razão do cansaço.

Morro 5

Apenas no vértice da crista é que se consegue passar com conforto para o seguinte patamar. Pouco antes dali o Morro 5 já mostrava seus contornos; é muito mais robusto do que parecia da estrada ou do satélite. A linha divisória entre suas faces sudeste e noroeste é menos retilínea do que imaginamos, e o lado florestado é um verdadeiro paredão. Imagino como deva ser o cenário visto da chácara que tão minúscula nos parecia do alto, a única daquela região, onde antes teríamos pedido para deixar o carro se a estrada não nos tivesse impedido na outra vez. Todo aquele lado, início da bacia do Potunã, considero o mais bonito da paisagem que se tem desde o Morro 1.


Passando este topinho, cujas rochas ao fim da dura subida foram como poltronas para o nosso descanso, há apenas um patamar antes do cume, com pouco desnível. Embora esteja 1,2m abaixo dele, possui um marco geodésico; e entre ambos topos encontra-se uma matinha que é contornada à direita pela trilha. Mais alguns instantes, e enfim pisávamos aquele solo a 1501,5m de altitude, comemorando com alarido o êxito de tantas semanas de expectativa. O ponto culminante de toda a região fora da Serra Do Mar, que momentos antes era apenas um nome numa carta topográfica, bem pouco conhecido no círculo social do nosso esporte, poderia então ser trazido a público nestes detalhes.


Notas Posteriores

1 A parte restante do relato da expedição de 56 encontra-se neste link: http://www.mediafire.com/view/6d8wr8a9eroiser/Segunda%20Parte%20Do%20Relato%20-%201956.jpg#
2 – Encontramos também o relato de Ermelino De Leão, de 1928: http://www.mediafire.com/view/p59qauz2ff74lsi/Relato%20De%20Ermelino%20De%20Le%C3%A3o.jpg#

3 – No último fim de semana de agosto viemos a alcançar também o cume do Morro 4: http://caminhodoarraial.blogspot.com/2017/09/morro-4-da-serra-da-bocaina.html

<
4 – E em Setembro finalmente conseguimos visitar o Morro 5: http://caminhodoarraial.blogspot.com/2017/09/morro-5-da-serra-da-bocaina.html

<
5 – O Morro 3 também é chamado Morro Da Cruz ou Morro Do Cruzeiro. Infelizmente a serra vem sendo chamada de Cordilheira Secreta ou Serra Do Potunã, bem como o Morro 2 de Morro Da Sempre Viva, e o Morro Da Bocaina de Pico Potunã, não por uma liberalidade de se os batizar, mas pelo uso de termos próprios a fim de evitar concorrência à sua atividade ecoturística; uma vez que estes mesmos nomes não são encontráveis em outras fontes de pesquisa.

6 – Links para os álbuns completos no Google Fotos: Morro Da Bocaina (84 fotos); Morro 2 (81 fotos); Morro 3 (99 fotos) e Cachoeira do Rio Bocaina (28 fotos).