quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vulcão Santa María E Cataratas De La Igualdad


Ao longo de 82 artigos aqui expostos até hoje sobre vários lugares, manter uma narrativa realmente catalogadora, neutra e isenta foi algo que sempre se pretendeu. Descrever uma trilha segundo a cronologia da nossa própria visita é apenas um jeito de informar ou prevenir quem tenha interesse, para aquilo que de forma idêntica ou parecida encontrará. Excessos acontecem. Se por um lado pecamos em apresentar certas perspectivas pessoais para reforçar o aspecto emocionante de cada atrativo, por outro, tentamos não cair no fosso da banalidade, como relatos de trilha onde se detalha até o que cada um comeu, ou os assuntos triviais discutidos durante o percurso. A despeito da liberdade de quem escreve, seria de pouca utilidade para quem lê. Entretanto, falar pela 1ª vez de algo tão distante do leste do Paraná – foco deste blog – requer um pouco mais de licença à impessoalidade. Será, pois, uma exceção.


Numa noite de abril – primavera no hemisfério norte – ouvia a chuva bater na janela do quarto de hotel onde estava. Com uma previsão do tempo incerta, não seria estranha uma temperatura negativa na manhã seguinte, no cume que pretendia havia anos. Era o centro, a parte principal da viagem, e o clima poderia simplesmente estragar tudo. Parecia arriscado acordar cedo demais e ir esperar um ônibus antes do sol nascer, uma vez que mal conhecia Quetzaltenango; porém hoje até creio que seja mais segura que Curitiba. O chão molhado e um 'céu de chumbo' faziam lembrar alguns insucessos que já tivera. O ônibus para o bairro Llanos Del Pinal sai do Parque El Calvário, na 8ª Calle; passa por uma praça que é como um grande terminal, e percorre boa distância em direção à zona sul, onde está a área montanhosa. A passagem, como na maioria dos transportes da Guatemala, é muito barata.


Quetzaltenango é a 2ª maior cidade do país, tendo uma população do tamanho de Presidente Prudente – SP. O Vulcão Santa María (3772m) é o 4º mais alto da Guatemala, atrás do Tajumulco (4220m), Tacaná (4060m) e Acatenango (3976m). Não são montanhas brancas com neve, ao estilo "sorvetão", e sim uma recortada cordilheira verde que pertence ao círculo de fogo do pacífico, e constitui a porção mais elevada da América Central. Resultado de uma antiga erupção, a parte do Santa María oposta à trilha sofreu um enorme desmoronamento, e anos depois, uma nova cratera surgiu no lado destruído, passando a ser chamada Vulcão Santiaguito. Ele é mais baixo, porém fortemente ativo. O ponto final do ônibus que leva à base fica apenas a uma quadra das últimas casas do bairro – como um "Borda Do Campo" em relação ao Morro Anhangava.


Apesar de não ser tão turístico como os que circundam a capital, o Santa María é bem frequentado por pessoas da região; e foi mais fácil conseguir informações sobre ele com populares do que no escritório de turismo no centro da cidade. A moça que me atendeu dissera não saber como chegar à trilha de forma independente, então lhe prometi descrever posteriormente minha ida, caso desse tudo certo. Em locais assim, de qualquer região do mundo, a tendência é que enrolem o turista pra que contrate passeios pagos; e talvez eu não tivesse dado a ela o benefício da dúvida se não fosse tão bonita.


Na estradinha que precede a trilha do vulcão, tinha pela frente 4km de caminhada, com um desnível de mais de 1200m, o mesmo do Monte Garuva, por exemplo. O trajeto já iniciava nos 2500m de altitude, diferente de algumas montanhas da região onde o ganho é maior. Minha experiência acima dos 3000m, (anos antes em outro país) tinha sido horrível; representando mais um problema que poderia me fazer desistir na metade. Havia alguns dias que tomava vitamina b, recomendada para suportar grandes altitudes, e foi uma decisão muito acertada. É barata e funciona.


Chegando no último campo antes de adentrar a floresta, a continuação é pelo lado direito, e por toda a extensão, a trilha é bem aberta, sem grandes obstáculos. Quando senti as primeiras gotas de uma garoa, lembrei de certa notícia sobre três mortos por hipotermia no Vulcão Acatenango, um tempo atrás. Mas ela não continuou; e outro ânimo tive quando vi mais gente subindo a trilha. A floresta é em maior parte de pinheiros altos, e o solo alterna entre trechos de pedra e de terra úmida. Se chegasse a qualquer outro cume cheio de gente e sem nenhuma vista, por causa das nuvens, sentiria até arrependimento, mas não lá. Concluíra com êxito a subida, depois de tanto tempo de expectativa, estava no topo do Santa María. Somente ali senti uma pequena diferença ao respirar, por causa da altitude.


Era um lugar bem espaçoso, entre pedras grandes; e havia distintos grupos de trilheiros. Um deles fazia orações numa das várias línguas indígenas do país; e embora fossem cristãos, me surpreendeu que a forma do seu louvor remetia às mesmas tradições e idiossincrasias de um tempo remoto, onde adoravam outros deuses. A riqueza e a variedade da cultura guatemalteca não ficam devendo em nada para países muito maiores. Num grupo de americanos, pensando que eu fosse nativo, um deles perguntou-me em espanhol se eu tinha esperança de que as nuvens se abrissem um pouco, para que pudéssemos ver qualquer coisa. Respondi que sim, pois para um dos lados estava clareando bastante. Foi meio profético, porque em poucos minutos aconteceu o que mais esperávamos. Na direção da cidade e também do Vulcão Santo Tomás, o véu branco começou a se abrir e pudemos ver, senão todo o desejado, um bom espaço de paisagens bonitas.


CATARATAS DE LA IGUALDAD

Ter um dia de descanso para cada dia de trilha, numa viagem internacional, é um luxo que nem todos podem se dar. Ter encaixado em tão pouco tempo no roteiro o conhecido Vulcão Pacaya e o Lago Atitlán já havia sido mentalmente cansativo. O próximo passo era ir ao encontro da cachoeira mais alta da América Central (embora haja controvérsia com o Salto Chilascó). Como ao lado dela às vezes se formam outros fluxos, e também existe outra queda mais abaixo, o local é chamado no plural, de Cataratas De La Igualtad. No cansaço do dia anterior, não pude sair tão cedo, e fiz uma má economia indo a pé ao ponto de ônibus para San Marcos, quando na verdade um táxi teria sido providencial. Transporte por aplicativo, até aquele momento, só existia na Cidade Da Guatemala.


Os ônibus lá são um capítulo à parte. Modelos escolares americanos, com muitos anos de uso, que em algumas linhas (não todas) são conduzidos na velocidade máxima, com estrondosas buzinas de caminhão, fazem manobras bruscas para pegarem passageiros vistos 'em cima da hora', e levam gratuitamente muitos vendedores ambulantes. Estes por sua vez anunciam toda sorte de produtos até a exaustão da voz, pois não competem só com o som ambiente, mas também com a música nacional ou mexicana em alto volume, e com os cobradores que arriscam a vida gritando o itinerário com a porta aberta, e saltando do ônibus em movimento para auxiliarem os passageiros.


Apesar de tudo, o que vi foi um tipo de caos organizado, onde a dificuldade do dia a dia só é exequível através do respeito que procuram ter uns com os outros; e de uma noção de direitos e deveres que tanto faz falta no Brasil. Assentos feitos para comportarem 3 crianças comportam frequentemente 3 adultos, e o limite do espaço físico de cada um dá lugar a uma aceitação natural ao toque da pele. Senta-se uma jovem bonita ao lado de um homem, e não tem pudor ao pressiona-lo pelo balanço do ônibus, de tal modo que em nosso país, o contrário seria suspeito como assédio. Porque assim é o cotidiano. Vi pessoas que se ajudam, que não hesitam em informar quem precisa, e que colaboraram em tornar minha visita a melhor que já fizera a um país estrangeiro.


San Marcos é uma cidade bem menor que Quetzaltenango; se não me engano, o percurso demorou uma hora, e lá na rodoviária peguei outro ônibus para a localidade de San Pablo, onde tomaria uma van para seguir até perto da entrada do parque onde fica a cachoeira. Como a demanda por transporte público é maciça, a oferta também é; por isso se espera muito pouco por cada condução; diferente daqui onde cada vez mais pessoas têm carro, e a demanda por ônibus diminui. Um grande problema que tive foi de me locomover com a mochila e a mala, pois não retornaria à cidade anterior naquele dia. Depois da cachoeira, iria para o México, passar um dia na cidade de Tapachula e ver uma certa ruína.


Ao descer em San Pablo, praticamente me 'carregaram' para a van, e puseram minha mala na parte superior, com outros pertences de passageiros. Nunca na vida havia visto aquilo: Gente pendurada no lado direito, outros atrás, e dentro um aperto maior que no ônibus. Pensava em como uma van poderia levar tantas pessoas, e correr aquele risco numa longa subida por estrada de chão. Até serviço de entrega de comida o cobrador fazia, parando numa barraquinha de cachorro quente, e levando mais acima a uma moradora que o tinha encomendado. No ponto final, em meio a um bairro rural a mais de 6000km de casa, me vi num dilema com aquela mala que de forma alguma poderia carregar para a cachoeira, pois se o caminho não umedecesse tudo o que levava, a chuva da tarde poderia fazê-lo. Olhei então a primeira casa que estava aberta, e fiz uma aposta no escuro, de pedir a um homem que me a guardasse por um momento, até o meu retorno. Sua família e os passantes estranharam a situação, logo notaram que eu era estrangeiro, e gentilmente me fizeram aquele favor.


Problema resolvido, andei o trecho restante e paguei um valor barato pela entrada do parque. Um caminho calçado ao lado de um vale profundo leva, primeiramente, a um lugar de águas termais, com entrada paga à parte por quem queira visitar, e em seguida a trilha continua, em subida até a cachoeira maior. É linda, quase indescritível. O rio, que nasce no Vulcão Tajumulco, desce aquele paredão gigante; e naquele momento se avolumava com a chuva, quase formando uma cabeça d'água. O guarda chuva durou só o suficiente para proteger a câmera durante as fotos, e depois se estropiou. Voltei ensopado, mas satisfeito até a casa onde confiavelmente guardaram meus pertences, e segui de van até Malacatán. A segunda chuva, mais forte, encharcou o cobrador de um modo que até deu pena, conforme saía e voltava do veículo ajudando passageiros. Sem comer desde manhã, por questão de tempo, continuei viagem para o México, onde me esperava a pior entrevista migratória da vida, e cujo desenrolar da história estimo que já não seria interessante ao leitor.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Crista Norte Do Capivari Mirim


Descobrir no morro Capivari Mirim a existência de uma trilha alternativa, que confluía com o caminho principal somente 750m antes do cume, foi uma ideia que teve origem em 3 diferentes desconfianças. Tempos atrás havia reparado numa proeminente ponta rochosa, visível desde a BR-116, no ponto de ônibus do bairro Barragem, semelhante a certa extremidade que existe no Capivari Grande. Essas arestas costumam ter boas vistas, e comecei a imaginar como chegar nela por cima. Nas vezes que percorri a trilha principal, tão cheia de poeira e pedriscos, desagradável na descida, reparava ao longe a crista paralela, com a impressão de ter um aclive menos forte. A 3ª (e maior) suspeita foi noutra vez que tentei chegar à Cascata Do Ribeirão Vermelho, por um desvio alto, buscando evitar a passagem pela propriedade particular que lá existe. Utilizamos um vestígio de picada que 'continuava' para cima, além do ponto onde nos interessava descer ao rio.



A linha vermelha é a Crista. Trilha normal (2011)
Num domingo nublado qualquer, decidimos resolver essa curiosidade, partindo não do Ribeirão, mas da base da trilha convencional, onde se deixa o carro. O riachinho paralelo ao início do percurso abastece agora duas caixas d'água mais abaixo, que atendem as casas vizinhas. Nesse estreito trecho de floresta, sempre vimos bifurcações de trilhas que levam à outra parte do povoado, em que se encontra o Ribeirão vermelho. Chegando no início da crista que nos interessava, o caminho era bem mais pisado do que esperávamos, sendo apenas camuflado pelos tufos de mato. As chuvas dos dias anteriores tornaram mais barulhento o vale à nossa esquerda, cujo leito um dia conheci até a nascente. À direita víamos cada vez mais os contornos bonitos da face por onde passa a trilha normal. Inicialmente sem obstáculos, nossa subida era longa e contínua.


Perto do bico rochoso que me chamara a atenção, quase todas as pedras grandes eram desviadas pela esquerda; não havendo em nenhum ponto o risco de queda. As imagens de satélite mais antigas do morro mostram que seu caminho usual foi outrora uma estrada, no começo da subida, e talvez por isso consolidou-se como via única para os trilheiros, porque do contrário a Crista Norte é que o seria, graças a suavidade do desnível. O tempo naquele dia nos traiu, e justo no lugar mais interessante, as nuvens cobriram tudo. A trilha passa para trás das rochas, e inflete à direita buscando encontrar-se com a outra. Por bobeira começamos a subida seguinte por uma linha reta, quando o correto seria acompanhar os vestígios para contornar o "bojo", mas isso não nos roubou muito tempo.


O encontro dos caminhos é aproximadamente nos 1430m de altitude. Sob densa névoa, seria vão continuar até o cume – um dos que mais vezes já visitamos. Dali descemos pela via convencional, e esticamos o passeio até as cachoeiras do Capoeira, que meu amigo ainda não conhecia. Mas ter confirmado aquela nova rota valeu muito; creio até que nas próximas vezes no Mirim vou preferi-la sempre.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Morro Do Rio Comprido - Breve Descrição


Os 2 topos superiores da modesta serra ao sudeste de Rio Branco Do Sul, chamados Campina Dos Rosas e Morro Do Rio Comprido (ou "Pernambuco") podem ser vistos do mirante próximo à Cachoeira Do Roncador, em Colombo; porém não são visíveis entre si. Estando no primeiro deles, a única paisagem que a mata nos impedia foi a direção do outro, o qual erradamente pensávamos ser mais alto, e que no entanto tinha 3m a menos (1235m). Seu entorno é um planalto mais elevado que o do Campina; e sendo menor esse desnível, há também pequena desvantagem na vista.


Ele não é nada agudo, possui uma forma arredondada. Com acesso mais a oeste, pela Rodovia Dos Minérios, não demoramos a chegar na chácara da sua base, onde os moradores foram receptivos e nos indicaram a estradinha interna, que chega quase ao cume. Dela se vê bem a serra de Itaperuçu e outros contornos verdes no oeste.


Adentramos o capinzal à esquerda do caminho para alcançar a cerca que limita a propriedade; o topo está para além dela, num ponto que não localizamos tão rápido, porque todo o terreno ali é abaulado; coberto por pinus. Não fosse por eles, provavelmente o cenário para o lado oposto seria excelente. Há ainda outro morro acima dos 1200m nesse conjunto, porém "padece do mesmo mal". Como passeio, não deixa de ser agradável, mas o ideal é que seja feito como complemento de outras trilhas da região. Aquele dia escolhemos uma cascatinha no Rio Grande Da Laura.


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Cachoeira Da Barragem


Distante 4km do centro de Bocaiuva Do Sul, a Usina do Roncador, que foi um dia a única fonte de eletricidade do município, encontra-se há 40 anos inativa e depredada no pouco que resta das suas antigas estruturas. A queda d'água que movimentava as turbinas pertence ao Rio Capivari, em cujo trecho na verdade ainda é chamado Roncador, tendo recebido os afluentes Antinha, Mina e Água Comprida. Na carta topográfica de escala “1:250.000”, consta o local como Rio da Mina até o encontro com o Bacaetava, de Colombo, porém em se tratando de nomes, a tradição oral tende a prevalecer.


Foi-nos mostrada por alguém da UTFPR uma elogiável ideia de revitalização e reaproveitamento do potencial energético da usina, incluindo até um pequeno laboratório para ensino sobre o assunto. O que falta é dinheiro, especialmente para compra das novas turbinas. Sendo escassas até as fontes de informação sobre as muitas histórias que aquele ambiente deve ter, resta ao visitante desfrutar o atrativo da sua cachoeira.

Para quem chega de Curitiba, logo de passar o centro, pode tanto entrar à esquerda na PR-506 (que vai para Rio Branco) e depois entrar na primeira à direita (via em mau estado); quanto pode escolher a saída seguinte da Ribeira - que é um pouco mais longa.

Deixa-se o carro a pouca distância do topo da barragem, sobre a qual se pode andar e ver a pequena parte de queda artificial acima da cascata verdadeira. Pelo lado esquerdo de quem chega, inicia uma trilha curta e lisa, mas não muito arriscada, que chega na frente do poço. Ele é largo, o caminho contorna-o, e parece haver outra trilha vinda das casas próximas.


O jorro d'água ora lembra um “x”, pela forma como se estreita, e também parece um pouco com a Cachoeira Quintilha, de Paranaguá, só que menor. Levando em conta a facilidade e a localização, vimos poucos vestígios ruins, não mais que uma ou duas latinhas jogadas no mato. Não só pelo frio foi que evitamos entrar no poço aquele dia. Há um grande orifício oculto na base da torrente, e dizem os locais que várias pessoas já morrerem nele quando abusam em nadar muito perto; de tal sorte que nem mergulhadores recuperaram os corpos. Pelo menos assim nos contaram.


Nota posterior: Para informações sobre o projeto de revitalização da usina, é favor escrever para: waltersanchez@utfpr.edu.br.

sábado, 4 de novembro de 2017

Cachoeiras Do Rio Massaroca


Quase junto à divisa de Rio Branco do Sul com Bocaiuva, na bacia do Rio Santana, nasce um afluente que corre de leste para oeste entre colinas não tão distantes do Morro Campina Dos Rosas. Ouvimos menção ao que lá existe de mais bonito enquanto conhecíamos a cascatinha de um certo rio próximo; lugar aquele onde todos disseram não haver cachoeira maior, porém tínhamos tanta esperança, que ainda me é difícil resignar. O acesso ao Massaroca passa pela estrada do Bacaetava, desde a qual um desinformado pode nem notar que já saiu de Colombo e entrou noutro município. Ali buscávamos a cachoeira que nos sugeriram, em seguida de ter visitado a do Roncador; e previmos que ambos passeios se complementariam muito bem.


Deixamos o carro e viemos procurando uma entrada de trilha, que estava a 415m do cruzamento com o rio – um bom tanto adiante de onde imaginei. Sendo uma das mais curtas já descritas aqui, esta picada é bem íngreme e lisa, mas não tivemos problema em descer. A cachoeira que encontramos não era muito alta; jorrava sobre um poço largo e não tão profundo, estando bem sombreada no fundo daquele vale. Ela sozinha já teria valido a pena.


Vimos um vestígio de trilha à sua esquerda, e ali já comecei a desconfiar. De volta à estrada, a intuição aumentou, e seguimos mais alguns metros à montante do rio procurando outra trilha que descesse. Logo notamos que o barulho d'água não vinha mais da queda anterior, e sim de um ponto acima. Achamos uma picada ainda mais declive e curta, que nos levou até a cachoeira maior, a qual apelidamos de "1".


Era mais perto chegar no seu topo do que na base, passando por uma pedra não tão confiável onde esticamos a corda (só para garantir) e chegamos no pocinho superior, defronte a outra cascatinha mais baixa. Depois descemos até a base da maior e vimos a ponta de trilha que subia da cachoeira 2, onde primeiro estivemos. A 1 é bem ampla, e o branco da sua água formava um bonito contraste com as rochas bem escuras.

 

O rio vizinho ainda estava nos planos daquele dia, mesmo que a visita  servisse como um "tira-teima" confirmando a inexistência de cachoeira; porém uma valetinha ao lado da estrada de acesso veio a nos causar uma "pequena calamidade", custando o resto da tarde até acharmos ajuda para tirar o carro de lá. No entanto não saímos reclamando, porque a satisfação desse dia foi bem maior que os transtornos.


 
Cachoeira 2 Cachoeira 1

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Cachoeira Roncador E Mirante Da Colina


Dentre os 2 dilemas que existem na divulgação online ou impressa de cachoeiras desconhecidas (ou pouco conhecidas), um já foi citado neste blog, que é a questão da segurança. Quase despenquei na Cascata 1 do Rio Cari, meses atrás, quando buscava a Cascata 2. E se ela veio a ser descrita aqui foi unicamente porque o ponto perigoso era um só, ficando bem explicado como evita-lo. Mas o que fazer quando o problema não é o risco, e sim o comportamento destrutivo de uma parte das pessoas que visitam um ambiente? Atrativos próximos de áreas urbanas têm esse porém. A família que mora perto da cachoeira do Roncador, em Colombo, estava cansada de ter que recolher lixo e lidar com os transtornos da visitação aberta do local. Restringiram, e com razão.


Junto com a gruta do Bacaetava e o Morro da Cruz, é um dos lugares mais bonitos deste município, o qual muitas vezes é lembrado injustamente apenas pelos seus problemas. Omitindo dessa vez os detalhes de acesso – que podem ser encontrados noutras fontes – tratamos apenas de descrever a cachoeira e o mirante, compreendendo o leitor que pode ou não ter sua entrada permitida, caso decida visita-la.

"Pedra da vertigem" - Pela copa da araucária pode-se imaginar a altura...

Menos longe do centro, existia uma entrada anterior àquela que usamos; porém com placa proibindo a passagem e sem ninguém a quem se pudesse pedir autorização. 2 moradores a quem perguntamos do outro acesso pareciam fingir que desconheciam sua existência. Finalmente chegamos à casa indicada pelo mapa como o melhor local para início, e caso não tivesse trilha, restaria adentrar o mato como sempre. Mas a moça que nos atendeu deve ter tido uma intuição boa a nosso respeito, porque embora explicasse o motivo do lugar não ser liberado como antes, faria a nós uma exceção. Orientados, passamos para trás da grade que limitava o quintal, descendo logo por uma trilha curta e íngreme à beira da cerca até o rio, onde mais adiante atravessamos. Da margem oposta, mais uma picada chegava.

Bem antes dali, entre os 2 morros que cercam o bairro mais alto da cidade (o Campestre) ficam as nascentes do rio, que pertence à bacia do Ribeira.

Sempre vi Colombo como um município "morno", quase incipiente em relação à natureza, apesar do verde da sua área rural e de curtos trechos restantes de floresta primária. Mas no início da caminhada já senti aquelas características "selvagens" que tanto nos atraem em Rio Branco e Bocaiuva, por exemplo. O rio se mostrava cada vez mais "prensado" pelas barrancas verticais de ambos lados. Depois da 2ª travessia, a trilha passa por um ponto elevado, até que se avista a cachoeira. O caminho forma um "T" com outra trilha que vem de cima e se inclina bastante na descida final até a base. Para a direita, tratava-se da ida ao mirante que planejávamos conhecer depois dali.


Chegando na parte plana em frente ao poço, notamos que a queda não era tão pequena. A água do poço era de um marrom claro, como a das Gêmeas Gigantes de S. Francisco De Paula; não por sujeira, mas pelos sedimentos próprios daquele solo. Do lado oposto de onde chegamos vimos a ponta da trilha que vem do bairro ao lado. Ela passa por um estreito valezinho, único ponto possível entre os quase penhascos do entorno. Lemos em algum lugar que no meio do poço há uma abertura onde parte da água segue pelo subterrâneo, tornando o mergulho ali muito perigoso.


Novamente na trilha, começamos a subida para o mirante, esperando apenas uma boa vista para o lado norte – rumo à serrinha do Campina Dos Rosas. O que nos surpreendeu é que em tão pouco tempo já estávamos bem alto, sendo aquele um precipício ainda na borda do poço. Isso é que nos permitiu ter uma vista perfeita da cachoeira, e de mais dois jorros atrás dela; um cenário lindo. Seguimos pela trilha e alcançamos a esperada estradinha que nos levaria quase até o cimo naquele lado da colina. Nela tivemos exatamente a paisagem prevista, desde o Morro Do Rio Comprido até o Campina, bem como da Serra do Mar na direção leste. Expectativas superadas, mas ainda tínhamos ansiedade pelo que faltava desbravar naquele dia, as Cachoeiras Do Rio Massaroca.


Álbum completo no Google Fotos: https://photos.app.goo.gl/ECMePFH4CoFLI8RP2




quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Morro 5 Da Serra Da Bocaina


Conquanto figure no 5º lugar em altitude, o mais remoto morro da Bocaina, além de não dever nada em beleza para os demais, corresponde a um terço do comprimento desta serra, lembrando à certa distância uma chapada ou mesmo uma linguiça, se visto no mapa. A estrada que lhe dá acesso não é a mesma dos outros, e sim uma verdadeira “trilha de jipe” que deveria ligar o bairro Ouro Fino de Tunas ao Passa Vinte de Bocaiuva, sendo sazonalmente estragada pelos caminhões que transportam toras. 4 meses depois de conhecer o primeiro cume na Bocaina foi que felizmente conseguimos concluir o propósito de chegar ao último, e este foi o mais trabalhoso.


Diferente ao acesso de outros morros, ali se pode percorrer longa distância sem sequer ouvir sons de gente ou de outros veículos. Só à pouca distância, sem nenhuma colina na frente, é que pudemos ter o panorama do lugar onde desejávamos estar dentro de poucas horas; ali então mais variado em contornos e não apenas um "retão". O início da caminhada é bem no "bico" da serra, adiante da curva mais aguda da estrada. Em frente ao local onde deixamos o carro, corria a água de alguma nascente próxima, e havia sido colocada uma madeirinha em certo ponto para que fluísse como uma bica.

Deste ponto e do falso cume do Morro Da Bocaina (dir.) é que melhor se compreende as formas do Morro 5

Tínhamos a ponta do morro bem à nossa direita; ali a estrada já cortava um pouco seu barranco, e talvez por isso seria abrupta demais para que escolhêssemos uma subida direta. Perto de uma nascente na estrada - Início do percurso para o Morro 5 da Serra Da Bocaina Pouco antes dessa curva mais fechada existia uma entradinha que em vez de subir, parecia seguir paralelamente ao morro, a qual na verdade já sabíamos que se desviaria dele cada vez mais. Assim mesmo o início dela era o ponto correto do caminho, porque nossa única necessidade foi passar ao largo do barranco mais íngreme, antes de começar a subir. Vimos que pouco adiante já estava melhor, e adentramos o mato à esquerda, tendo ali bastante facilidade.


O capim alto intercalava alguns pinus perdidos, e com o calor aumentando surgiu uma das maiores dificuldades daquele dia, as mutucas. Como mencionamos sobre essa estranha espécie no artigo do Morro 4, apesar de elas conseguirem picar através da roupa (igual fazem as da Serra Do Mar), precisam que a vítima esteja parada; pois do contrário rondam insistentemente sem nada conseguir. Na vez anterior isso não chegou a ser um problema, porque onde elas mais existiam, nós não tínhamos porque parar; visto que o calor era leve e exigência física, moderada. Porém no trecho exploratório do Morro 5, a situação rapidamente tornou-se uma sinuca, onde a mata que abríamos era bem mais longa que o previsto, e o mormaço fustigava à medida que se aproximava o meio dia.


Atingimos o início da crista, e por ela seguimos tornando à direita, sem vestígios de trilha e nem esperança de alcançar tão cedo o descampado que imaginamos. Vencendo a capoeira mais emaranhada na contínua subida, e enroscando em tudo quanto era raiz e galho, notamos que as mutucas se juntavam num enxame. Alternávamos o avanço eu e meu amigo, um estapeando as pernas do que estivesse à frente; e quando eu tinha que parar para ver nossa posição no aplicativo, dava a ele o galho que usava para espantá-las. Felizmente tinha ali um parceiro de fibra. Foi um sufoco, porque se marchávamos sem pausa, vinha o fogo da exaustão; e se parávamos, vinha a luta contra elas.


A perspectiva melhora depois do trecho em que a crista mais se estreita, inclusive com vestígios de trilha; e finalmente chegam os campos de altitude perto do falso cume, então com bem menos insetos. Já se descobre desde ali a paisagem dos Capivaris até o Ibitiraquire. Apesar do abafamento entre as moitas, por breves mas numerosas pausas me atirava sem pudor ao descanso na relva, porque quase no topo só sentia as forças diminuindo. Como uma ironia qualquer, o menos alto dos "5 Bocainas" revelara-se o mais árduo.
As vistas entre o cume principal e o falso, ou vice versa, e aquelas que tínhamos para o morro 1 (Morro Da Bocaina) eram deliciosas. A chácara menos distante, com seu açude contrastando à escarpa florestada abaixo de nós; e uma certa serra no horizonte formaram a mais bonita imagem daquele dia.


Lembrando o alto do Capivari Grande, as picadas paralelas durante a volta nos causavam enganos no trecho de floresta. Errávamos por pouco, mas errávamos muito; principalmente quando entramos num rastro de trilha um pouco mais forte quase na saída, que decerto vinha daquele único sítio da região. Contudo não é a sensação dos percalços que permanece, e sim a da conquista; o que fica são as imagens todas, da ocasião em que finalmente tinha conhecido os 5 topos daquela serra que tanto aprendi a gostar.


Álbum completo no Google Fotos:

Aplicativo Soviet Military Maps  Google Earth